Cassium conversa com Luna

E entende tudo errado.

O que é essa força que puxa a atenção? O que faz esse foco de consciência não obedecer ao comando de permaneça, aqui, focado no coração, ou repousado na presença?

— Para que você quer mudar o funcionamento da natureza?

Não é mudar o comportamento da natureza, eu só quero ser, estar.

— A consciência não tem apenas um foco. Tire o seu foco do que o foco está focando ou deixando de focar. Ponha o foco em si mesmo. Se ele sair, ponha de novo. Ponha o máximo que puder. Viva assim, por que não? Se ele sair, ponha de novo. Não é ruim viver com o foco em si, pelo contrário. Então se ele sair, ponha de novo. A sensação do repor do foco em si é boa. Então, se ele sair…

Ponha de novo.

— Ponha de novo.

Com o tempo, Cassium achou que já havia completado o treinamento. Quando pôs o seu foco na natureza da realidade e lá deixou por muito tempo. Passou a viver como se a realidade fosse um sonho. O seu sonho. Porque era, e era mesmo, o sonho é de quem sabe que é sonho.

E os picos de euforia que sentiu, o fizeram achar que, além de ser eterno, era o segredo da vida descoberto, felicidade infinita.

Não era felicidade, eram hormônios agindo intensamente numa descarga egóica de só eu existo aqui, todos vocês são personagens da minha mente, que está criando esse sonho.

E a partir desse ponto de vista, ele criou tudo o que criou em Saturno.

Um lugar eficientemente divertido. Repleto de parques, experiências alucinógenas, um liberalismo reamente levado à prática, onde basicamente todos os saturnianos se sentiam bem de viver. Não porque houvesse empatia, mas havia um poderoso sistema que trazia uma tremenda eficiência econômica, com muita produtividade e geração de riqueza. Enquanto o sistema funcionou, Saturno se tornou um parque de diversão para todos. Óbvio que os magnatas de Saturno tinham acesso a coisas que os saturnianos comuns não tinham. Mas eles já estavam bem entretidos em seus parques psicodélicos, fazendo voos tirolêisicos pelos anéis de gelo, não se preocupavam com que os magnatas faziam ou deixavam de fazer. Mas, todos sabiam, Cassium era o C.E.O. do planeta.

Não era isso que Luna estava tentando ensinar.

Luna tentava mostrar que a realidade é, sim, uma ilusão, mas esse que desfruta dos eufóricos hormônios da realidade também é. Cassium descobriu a ilusão da realidade, como nenhum outro, mas foi vencido pelos hormônios, nunca tendo chegado a descobrir quem ele é, de verdade.