Como o SEO pode salvar o Jornalismo Tradicional

Jean Peixoto
5 min readApr 3, 2016

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O SEO muito além da primeira página do Google

Eu poderia começar este texto com alguma frase de impacto sobre a crise no jornalismo em tempos de internet. Mas calma, não estou aqui para repetir o que já foi dito dezenas de vezes por um monte de gente. Este não é mais um artigo catastrofista tratando sobre uma possível “morte” do dito jornalismo tradicional. Pelo contrário, o jornalismo tradicional nunca esteve tão vivo e, acima de tudo, tão acessível. A propósito, a palavra chave do jornalismo no século XXI é exatamente essa: ACESSIBILIDADE.

Segundo a pesquisa “Democratização da Mídia”, divulgada em 2013 pelo Núcleo de Estudos e Opinião Pública (NEOP) da Fundação Perseu Abramo, a internet é a fonte primária na busca de informações e notícias para 68,6% da população. Já o estudo Trust Barometer 2015, elaborado pela empresa de relações públicas Edelman revela que, no Brasil, as ferramentas de pesquisas na internet ocupam o primeiro lugar em nível de confiança.

Com isso, podemos concluir que a internet é a porta de entrada para a maior parte das notícias consumidas pelo leitor brasileiro. No campo das buscas, o mecanismo predominante é, inquestionavelmente ele, o Google. Isso sem levar em conta os dados específicos referentes às mídias sociais, mas deixemos eles para outra ocasião.

O Google é o grande aliado do webjornalismo na era da convergência digital, tanto que ele disponibiliza uma área exclusiva voltada para a exibição das notícias. Graças ao Google News quando pesquisamos algum conteúdo específico, as notícias aparecem no topo das buscas. Mas para aparecer no Google Notícias é preciso que o site esteja adequado às suas diretrizes gerais, técnicas e qualitativas. Por isso que o SEO jamais pode ser ignorado quando se produz um conteúdo jornalístico para a internet.

Falando nisso, você sabe o que significa SEO?

A sigla talvez você já saiba que significa Search Engine Optmization (Otimização para Mecanismos de Busca), mas você sabe para que serve o SEO? Bem, há quem diga que o SEO nada mais é do que o ato de repetir palavras no meio de um texto para rankear um post no Google. Se era isso o que você pensava até hoje, simplesmente pare. Trabalhar keywords, ou palavras-chave ao longo de um texto é sim uma parte importante da estratégia digital, mas definitivamente não é tudo e quando aplicada em excesso caracteriza o que chamamos de Black Hat prática passível de punição com banimento de todo o conteúdo do site pelo Google. O SEO é sobretudo composto por um conjunto de técnicas e boas práticas para tornar um site relevante e amigável para os mecanismos de busca.

Um conteúdo planejado estrategicamente não deve ser pensado apenas com o objetivo de atingir a primeira posição do Google — não que isso seja menos importante — mas ele deve estar focado essencialmente na experiência do usuário, em facilitar o seu acesso, sua leitura e categorização.

Você deve estar se perguntando: OK. Bacana. Interessante, mas até aqui você só falou sobre webjornalismo, e o jornalismo tradicional, cadê? Nesse caso, vem a calhar que você se questione sobre o que essencialmente você chama de jornalismo? Para alguns, talvez o jornalismo seja aquele pedaço de papel em formato standard, tablóide ou germânico que ao ser lido suja suas mãos. Para outros, talvez o jornalismo esteja limitado à pétrea noção de um conjunto de notícias e reportagens produzidas sob a tutela de um grande grupo de comunicação, como uma prática corporativista. É possível que ambas as visões estejam corretas, mas na humilde opinião deste que vos escreve, elas estão equivocadas.

Acredito e defendo que o jornalismo está muito acima do veículo ou meio de comunicação em que é reproduzido, seja rádio, TV ou mídia impressa. O jornalismo tradicional está diretamente relacionado à prática jornalística, que consiste em apurar os fatos, coletar dados, recolher depoimentos e sobretudo, contar histórias. Aquilo que muitas vezes, seja pela pressão do deadline ou pelo imediatismo do dia a dia, acaba sendo posto de lado nas grandes redações.

Portanto, creio que seria, no mínimo, injusto creditar a atual “crise do jornalismo”, única e exclusivamente à expansão e democratização do conteúdo na web. Claro que o aumento no uso de bloqueadores de publicidade online e a cultura da gratuidade contribuem fortemente para uma queda na receita dos grupos de comunicação. É preciso que nós, jornalistas tenhamos a capacidade de reconhecer que a qualidade do conteúdo é fundamental para que não percamos nosso maior trunfo em relação aos demais produtores de conteúdo digital, a credibilidade.

No Marketing Digital se diz que o conteúdo é rei. No jornalismo não deveria ser diferente. Os critérios de posicionamento na SERP (Search Engine Results Page), variam desde a utilização de palavras-chave ao longo do texto até a quantidade de backlinks — links de sites externos — que apontam para determinado domínio, o que acarreta uma potencialização na autoridade do site para os mecanismos de busca. Portanto, a elaboração de conteúdos exclusivos, com grandes probabilidades de citação por outros sites é uma poderosa estratégia para aumentar a relevância de um veículo online.

Pensando na experiência de usuário, os sites jornalísticos precisam aliar conteúdo de qualidade a um layout atraente e, acima de tudo, funcional. A usabilidade é um fator determinante na disputa pela permanência do leitor no veículo pelo máximo de tempo possível. É fundamental que sejam produzidas reportagens aprofundadas, enriquecidas com informações visuais como vídeos e fotos. É preciso que o site seja 100% responsivo — que se adapte a todos os tipos de plataformas, seja um computador desktop ou um dispositivo mobile, pois o Google sempre dá preferência a este tipo de site.

Posto isso, é imprescindível que trabalhemos pela qualidade dos conteúdos produzidos pelos veículos online de mídia independente que existem hoje no Brasil e recentemente foram mapeados pela Agência Pública. Esse cuidado já é tomado pela maioria dos veículos da grande mídia que, mesmo no ambiente digital, ainda detêm a maior parte dos leitores justamente pelo seu investimento em técnicas de SEO.

O bom jornalismo continua sendo feito do modo tradicional, o que mudaram — para melhor — foram os meios de distribuição do conteúdo. A crise econômica do jornalismo pode até ser difícil de contornar, mas a crise de credibilidade é muito mais complexa e justamente por isso é que precisamos investir na qualidade do conteúdo. Basta que os jornalistas utilizem o seu talento para adaptação, na ocupação adequada do ambiente digital, principalmente em tempos de tanta informação sem embasamento circulando pela internet.

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Jean Peixoto

O pensamento é possessão. A palavra, exorcismo. Um sujeito simples com estranhos predicados.