Lelê não enxergava, ela era assim: uma cadelinha cega desde o nascimento. Naquele dia eu acordei um pouco melancólica, e como sempre ela estava na porta do quarto me esperando. Indagava o porquê de idas e vindas, e do nada deixei cair a tigela. Xinguei, saiu do nada, precisava. Encostada na geladeira me deixei escorregar, sentindo o objeto nas costas, chorei, foi quando desisti que recebi do nada meu maior aviso, a lambida ainda dizia que alguém se importava comigo. Peguei ela no colo, sentia seu coração forte como nunca e seu pelo macio afagava minha alma, ela latia baixinho como se conversasse com anjos ao redor, talvez dentro de mim. O exame na mesa virou-me do avesso mas descobri que ali estava uma benção.