Como montar um PDI?

Jess C - BR 30
10 min readJul 14, 2024

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PDI é a sigla para Plano de Desenvolvimento Individual. Inspirada por um conteúdo da Thays Bueno e conversas com pessoas em diferentes contextos, entendi que o processo de construção recorrente desse plano é um real martírio pra muita gente. Resolvi, então, compartilhar um pouco do processo que repito todos os trimestres.

Comece pelo começo, seu ponto de partida ou ponto A:

Todo plano, sem exceção, começa com o mesmo objetivo: Avançar do ponto A ao B.

Então, para elaborar um PDI, o primeiro passo é entender onde é A e onde é B, no seu contexto, de acordo com suas necessidades e objetivos, sejam esses pessoais, profissionais ou uma combinação de ambos.

O ponto A, ou como gosto de chamar, ponto de partida, é tão simples, quanto onde você está.

Imagem retirada do livro Designing Your Life do Bill Burnett e Dave Evans

Entender sua localização, bem como a foto acima do livro Designing your life demonstra de forma brilhante, envolve dois olhares: sobre o entorno, que é onde estamos inseridos e como esse ambiente nos alavanca ou puxa para trás de acordo com nossos objetivos e sobre nosso estado, que envolve como pensamos e sentimos em relação a nós mesmos, nossas relações e na nossa interação com esse entorno.

Existem algumas ferramentas e processos para conseguir entender melhor seu ponto de partida. Vou deixar aqui 3 exercícios práticos do meu arsenal de ferramentas, para esse momento

Matriz SWOT aplicada a si mesmo:

Para quem é marketeiro ou do universo de produto, talvez esse termo soe familiar e é mesmo. A análise SWOT é uma ferramenta comumente utilizada em negócios para avaliar 4 elementos, dois internos e dois externos: Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças.

Basicamente esse exercício nos leva a estruturar uma reflexão sobre quais são nossas forças e fraquezas (olhar interno), levando em conta o contexto no qual desejamos desenvolver o nosso plano. Em seguida, observamos as oportunidades e ameaças do contexto (olhar entorno) pensando já em como essas ameaças ou oportunidades podem nos ajudar a elencar ações do plano que maximizem nossas forças e ajudem a mitigar o efeito de nossas fraquezas.

A vantagem dessa ferramenta é que ela ajuda a dar clareza sobre nossas limitações em relação direta com o objetivo e contexto, ajudando a determinar com maior assertividade um plano de ação. Por funcionar para quem tem o ponto B ou destino muito claro, gosto de usá-la muito mais no ambito de carreira. Abaixo vou deixar o exemplo do exercicio que fiz assim que entrei na Dr.Cash em Março de 2023, para elaborar meu PDI para meus primeiros 90 dias de companhia. O contexto e o objetivo eram muito claros, o que a tornou mais efetiva.

Exemplo de Matriz SWOT pessoal de março de 2023 (nomes ocultados para garantir a privacidade das pessoas)

Coleta de feedbacks e Janela de Johari:

Nem sempre o objetivo é tão claro e nesse contexto um pouco de exploração para descobrir onde estamos ao mesmo tempo que exploramos nossos pontos cegos em relação a nós mesmos e ao contexto pode ser muito útil.

Nesse caso perguntar as pessoas sobre a percepção delas em relação a pontos específicos seus, pode ser bastante relevante para mapear visões que você não dispunha e a partir da identificação de padrões que se aproximam ou se afastam da pessoa que você quer se tornar, montar seu PDI.

Existe uma ferramenta muito legal para consolidar esses pontos (que podem ser pegos via escrita ou em conversas mesmo) chamado janela de johari.

Imagem da Janela de Johari do artigo: https://blog.mbauspesalq.com/2020/07/07/janela-de-johari-tecnica-de-autoconhecimento-com-feedbacks/

A Janela ajuda a agrupar os aprendizados dessas conversas com pares, familiares, mentores, lideres e amigos dentro de quatro quadrantes de acordo com o nosso nível de conhecimento.

O quadrante eu aberto agrupa os pontos ligados a sua localização do seu conhecimento e coincide com a nossa visão sobre nós como individuos projetada no mundo. Um elemento do meu eu aberto, por exemplo é minha paixão por gatos. Minha foto no medium tem um gato, sempre que tenho a chance falo no meu companheiro, Merlin e ando por ai exibindo uma tatto de gato no tornozelo. Eu sei desse meu traço e eu o propago por ai, ele é parte da minha identidade conhecida no mundo.

O quadrante do eu secreto por outro lado, agrupa os pontos que estamos conscientes, porém não mostramos ou procuramos minimizar no mundo. Isso porque geralmente eles estão ligados a nossas fraquezas/ponto de desenvolvimento ou nos geram prejuízo nas nossas relações. Um exemplo de ponto que permaneceu muito tempo no meu eu secreto é meu diagnóstico como pessoa depressiva, bem como meu atual tratamento. Isso porque por muito tempo acreditei que falar abertamente sobre essa condição no mundo, em especial no meu ambiente de trabalho, poderia me prejudicar em relação a percepção das outras pessoas sobre minha capacidade de entrega sob pressão ou mesmo no pós transição de carreira. Então seu eu secreto geralmente será sobre os traços e fatos que você não publiciza por aí.

Quando falamos do eu desconhecido é justamente aí que entram os pontos coletados em interações dentro dos nossos relacionamentos. E aí que mora a beleza da Janela de Johari em relação a montar seu plano de desenvolvimento. Ela nos faz enxergar padrões entre o eu desconhecido e o eu aberto que sinalizam a necessidade de focar esforços naquele ponto maiores ou então (e é muito legal quando isso acontece), descobrir que aquilo que uma pessoa te falou ou que você vê sobre você mesmo não é muito o que seu entorno percebe e ai é hora de recalcular a rota ou ajustar o plano de ação equilibrando essas visões.

O quadrante do eu cego, só pra não passar despercebido, fala da nossa potência invisível para nós e para o mundo, ou seja, nossas versões boas e ruins que ainda não se demonstraram. Ele serve mais para lembrar da constante metamorfose que somos.

Dashboard do onde estou — HWLP

Essa última ferramenta, vem do livro Designing your life que já mencionei nesse artigo anteriormente e que já li mais de uma vez na vida (é uma boa referência de auto-conhecimento).

Basicamente, esse exercício consiste em avaliar os aspectos saúde, trabalho, amor e diversão como se fosse um painel, com notas de 1 a 10 e entendendo de forma global quais elementos merecem nossa atenção na vida. É uma variação para quem está beeeem perdido na vida (spoiler, eu estava rs) mais simples do que a roda da vida. Abaixo vocês encontram meu Dashboard de Junho de 2022:

Meu Dashboard e a analise dos elementos work and health

O legal do dashboard é que ele ajuda muito bem a mapear o olhar interior para ajudar na priorização do que é mais importante planejar de acordo com nossas necessidades e recursos. Nesse contexto, eu tinha acabado de sair de um momento de prolongado stress e um diagnostico de burn out, o que me ajudou a entender meus recursos limitados e priorizar elementos de saude e diversão nos meses seguintes no meu PDI.

Já deu pra entender que auto-conhecimento é chave e não é delegável para montar seu plano né? Porém ele não é tudo.

Estabeleça seu ponto de chegada ou ponto B:

O ponto B, marca onde, metaforica ou literalmente você quer chegar no final do período temporal do seu PDI. Ele pode variar MUITO de acordo com o contexto de elaboração do plano e janela temporal de execução.

Aqui minha dica principal é: quanto maior o horizonte de tempo do seu PDI, mais incerteza você tem, logo menos precisão nas metas e objetivos, porque senão o resultado pode ser muita frustação.

Sobre a forma de definir esse objetivo, dou duas ferramentas: a definição de objetivos “SMART” ou a definição de um princípio norteador.

Objetivos SMART:
Essa sigla trata dos termos Specific (Específico), Measurable (Mensurável), Achievable (Atingível), Relevant (Relevante) and Time-Bound (com tempo determinado) e nos ajuda a definir objetivos que estejam conectados a nossa realidade e consigam nos garantir a distância a partir do ponto A que seja medida e nos permita ter a sensação de progresso.

No exemplo abaixo do meu próprio PDI de Q4 um desses objetivos SMART é 20 % da minha renda mensal da época vindo de fora da minha principal fonte de renda (tem até a conta da época e setinhas para potenciais estratégias de diversificação de renda). Eu saberia que obtive sucesso e chegaria em B, que significava para mim maior segurança financeira, ter 1/5 da minha renda chegando de fontes que não fossem minha principal provedora.

Imagem do meu PDI de Q4 de 2023, voltado nos pilares saúde + segurança financeira e carreira

Definição de um principio norteador:
Mais efetivo para janelas de tempo maiores, com maior incerteza, geralmente esse ponto determina uma forma ou um conjunto de valores e crenças que nos guia na nossa tomada de decisão. Ele é útil, quando não conseguimos saber muito bem onde é B, porém sabemos a potencial direção.

Desenhe o caminho, o plano de viagem e acompanhe a jornada:

Com a clareza sobre A e B, agora é desenhar pontos de ação que você acredita que possibilitarão seu deslocamento com sucesso de um para o outro.

Esses pontos podem ser rotinas ou ações isoladas, mas devem estar conectadas com o resultado que se espera alcançar.

Feito o seu planejamento e aqui realmente não vou entrar em detalhes sobre regras, porque ele vai depender muito do ponto A e B, variando imensamente de pessoa para pessoa e contexto para contexto, existem duas etapas tão importantes quanto as 3 primeiras acima e sem as quais o seu plano cairá no esquecimento e não será concluído: acompanhamento da execução e mudança de rota se necessário.

Sobre o primeiro, é importante ter um momento de reflexão e acompanhamento das açoes executadas vs planejado. Isso garante que se acompanhe o caminho já percorrido e se façam adaptações. Imagina no caso acima da minha meta SMART de renda mensal, a perda do meu emprego automaticamente envolveria a revisão desse objetivo e o provável estabelecimento de uma nova meta SMART, ligada a atingir minha necessidade de independência financeira, porém adaptada ao meu novo contexto.

Como o mundo não é estático e muda todos os dias, bem como nós mudamos, a única certeza que dá pra ter ao concluir um plano, é que ele não vai sair exatamente como o esperado. Essa certeza concreta, faz com que essas duas etapas se tornem tão chaves.

Bônus, 2 exemplos!

Falei muito de processo, mas é sempre bom ver na prática, né?
Deixo aqui os exemplos práticos de 2 PDIs feitos em diferentes momentos de vida:

1. Sem trabalho, o plano de transiçao de carreira

So ler esse artigo aqui: Como construi minha estratégia para transição de carreira de CX para Produto?
Nele fica visível como para meu objetivo SMART ligado a transição de carreira, estabeleci uma série de ações e as acompanhava com a cadência de uma vez por semana.

3. Evolução Profissional Dentro da mesma empresa (meu plano atual)
Voltado especificamente para a minha atuação profissional como PM e elaborado no final de junho, eu utilizei o template de Checklist de Produto elaborado pela maravilhosa Dani Lopes no curso da Aurora, para fazer meu diagnóstico ligado a onde estou (fazendo muito bem, não iniciado ou fazendo) para os diferentes aspectos e competências da carreira em produto e com base nele montei meus Objetivos na ferramenta Qulture Rocks dentro da Dr.Cash, que acompanho quinzenalmente (nossa empresa esta passando por muitas mudanças o que envolve menos certeza e maior cadência no acompanhamento da execução).

Vou deixar um exemplo de plano de ação a partir de uma competência não iniciada, porém basicamente o que eu fiz foi o mesmo para os pontos que queria melhorar com uma ação mensurável e um prazo para entrega. Estou focando bastante em melhorar Discovery, Acompanhamento de Métricas e Comunicação nesse Q3.

Exemplo de plano de ação do meu PDI com base na minha evolução como PM.

Dei 2 exemplos aqui e espero que eles ajudem a ilustrar o processo global. A verdade é que não existe uma receita de bolo e prescrição certa para montar um PDI, sendo que as etapas de auto-análise, planejamento de acordo com objetivos de desenvolvimento e acompanhamento podem variar muito. O que aprendi ao longo desses anos, no entanto foram duas lições preciosas nesse aspecto:

  • Eu sou a maior interessada em fazer esse processo para mim mesma e dona da minha carreira e desenvolvimento pessoal.
    As consequências de não montar meu próprio plano de desenvolvimento em alguns períodos ao longo dos últimos anos variaram entre outras pessoas tomarem decisões chave da minha vida, até a pura e simples estagnação e angústia com o caminho tomado. Dessa forma aprendi a ter essa disciplina, na dor ou frustação. Desejo que você o faça sem precisar passar por isso. Não terceirize nem sua vida e nem sua carreira.
  • Não tem como montar um plano sem saber onde se está, nem cumprí-lo sem acompanhamento e saber onde se quer ir, por isso as três etapas chave (auto-análise, planejamento e execução) são indispensáveis. É tipo um banquinho tripé, sacou? Tentou sentar sem uma das perninhas, você vai capotar de bunda no chão. Então não importa muito o detalhe de como você fizer, garante que as três bases do tripé sejam cobertas, beleza?

Espero de coração que esse texto ajude quem está perdido nesse processo e o torne mais leve.

Se você gostou do texto, compartilhe, deixe suas palmas, divulgue o conhecimento, essa é minha humilde forma de tentar melhorar o mundo.

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Jess C - BR 30

Curiosa e inconformada, produteira, coffee and cat lover. On a project to travel the whole Brazil during my 30s' and share with my readers my experiences