O que te move?

Jimmy Jacques
3 min readApr 14, 2016

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Certa vez me disseram, ou talvez tenha lido, que para saber quem eu sou deveria olhar para dentro. Assim, quem sabe, descobrir minha essência e ali estaria Tudo o que eu necessitava. Para dizer a verdade, obtive poucas respostas nas sentadas da meditação, nas respirações profundas do pranayama, no alongamento sadio do yoga, nas visualizações realísticas da magia e nas jogadas do tarô. Mas como tudo isso me fazia bem, mesmo sem respostas, continuei praticando.

Acreditava que “saber quem se é” seria um conhecimento, da mesma forma que eu sei que existe a gravidade ou que dois mais dois são quatro. Como não queria agir sem estar de completo acordo com minha essência ficava em casa, suando a peruca, tentando ouvir uma voz que me dissesse quem diabos eu era. Sem perceber que na verdade eu tinha era um medo danado de encarar a vida e acreditava que, de algum jeito, o caminho mágico/ espiritual deixaria tudo mais easy.

O que eu queria era spoiler da vida e, claro, uns poderes bacanas, achando que isso facilitaria e daria sentido ao processo todo. Não, o que dá valor á vida não é saber quem se é e muito menos resolver as coisas com um estalar de dedos. É a busca, a jornada. Não vem ao caso o que você busca. Todos buscam: dinheiro, amor e fama são os mais populares. Não são melhores nem piores. Na verdade são úteis. É bom ter dinheiro, é bom ter amor e é bom ter fama. Mas isso não é algo que caí do céu. Ter dinheiro significa conseguir e administrar. Ter amor significa saber amar e ser amado e o amor profundo, real, está muito longe do consumo imediato, das carências diárias ou das amarrações de amor… Fama é faca de dois gumes.

O que dá sentido a vida é aquilo que faz você se sentir vivo. E isso geralmente não é fácil. Uma pessoa tímida pode descobrir que o a faz sentir viva é cantar ou atuar em público. Uma pessoa fraca ama artes marciais. Uma pessoa extremamente racional quer ter uma experiência mística. A fechada quer amar. Quanto mais leio cartas para as pessoas vejo que esse padrão se repete, o caminho que a pessoa quer trilhar a leva exatamente aos pontos mais desafiadoras de sua vida. Estes desafios, quando levados a cabo, transformam profundamente uma personalidade. Mostram potências jamais percebidas antes. Estou aqui falando do Querer. Querer de verdade, não um querer tímido, resmungão e invejoso. Se vai conseguir ou não é o de menos, porque muitas vezes a busca leva a outros caminhos nunca imaginados no inicio. Uma aventura, não passeio turístico.

No inicio disse que fiz yoga, meditação, magia, tarô, tudo para descobrir o sentido da vida. Com o tempo, percebi que era exatamente isso que me dava sentido. Meu corpo era fraco e duro, com o tempo conquistei força, fôlego, flexibilidade. Tímido ao extremo, vivia absurdamente preso aos meus próprios pensamentos, a ponto de quase não me comunicar com os outros, somente quando muito necessário. Hoje ensino e ajudo pessoas com tudo isso. Estas técnicas me auxiliam com outros desafios, me dão base e direção.

As pessoas mais realizadas que conheço são unânimes em dizer que o crucial é estar bem consigo mesmo e, não à toa, passam a maior parte de seu tempo se aperfeiçoando e se divertindo enquanto escrevem um paragrafo em verso ou prosa, tocam uma canção, constroem códigos de software, lutam muay-thai e rodopiam com bambolês, desenvolvem sua consciência a níveis metafísicos e atuam visceralmente, transformam problemas em arte, escalam, criam pratos, histórias em quadrinhos, designs ou limpam janelas. E sim, todos estes exemplos são de pessoas próximas e reais, as mais admiradas. Quando olho para elas tenho uma estranha certeza de que, afinal, estamos indo bem.

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