O Tarô ou como um baralho pode estourar sua mente

Jimmy Jacques
4 min readJun 26, 2015

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Mais do que um simples baralho de cartas e talvez menos do que um encantado jogo do destino, o tarô é uma ferramenta preciosa para desenvolvimento da intuição, alfabetização simbólica e espelho da alma.
Comecemos do começo: tarô é um baralho de 78 cartas, dividida em 5 séries. Uma série de 21 cartas numeradas e uma sem número (O Louco, lógico) e quatro séries de 14 cartas cada, sendo uma sequência de ás até 10 e quatro cartas com figuras da corte: rei, rainha, cavaleiro e valete. Cada uma dessas 4 séries são representadas por um naipe: bastões, ouros, taças e espadas. Assim podemos chamar a série de 22 cartas como Trunfos e as outras 56 como Naipes ou arcanos maiores e arcanos menores.

As cartas são escolhidas ao acaso pela pessoa que deseja ter o jogo lido (consulente) e interpretadas pelo tarólogo ou taróloga. A leitura consiste em observar os símbolos e deixar a intuição fluir, conectar as cartas entre si, formando frases e panoramas amplos e comunicar os entendimentos ao consulente. Por algum motivo isso funciona e funciona bem. Cada um tem sua explicação maluca sobre como isso funciona. A intuição se torna aguçada para apontar com precisão os significados das cartas na vida cotidiana do consulente e, principalmente em ter uma leitura fresca e limpa das cartas. Os temas das perguntas são infindáveis, mas, no geral, giram em torno de amor, dinheiro. Também pode facilitar as relações entre as pessoas, como na pergunta : “de que forma posso restabelecer o contato com meus pais?” ou “como impressionar meu chefe?” ou “como conquistar aquela pessoa?”. Isso também é válido para decisões importantes sobre qual rumo tomar. Essas perguntas são clássicas.

Pessoalmente vejo um dos melhores usos do tarô como espelho da alma: quais são meus pontos fortes e fracos? O que me bloqueia em determinada situação e como lido com isso? Quais as minhas reais potencialidades? Seguir os conselhos do tarô como as de um amigo íntimo gera uma outra dinâmica pessoal, mais consciente e aventureira. Conselhos e não fatos imutáveis como geralmente se acredita, tentar ler o futuro de alguém pode ser bem catastrófico dependendo de quão influenciável é o consulente. É de maior utilidade ler o presente.

Ás de Espadas, O Julgamento e Ás de Paus. Tarô de Marselha

Aos poucos os símbolos vão se tornando familiares e vemos cartas de tarô em tudo quanto é lado: 3 de fuscas, um homem com capa de chuva surge como eremita, 5 de vasos, uma mulher falando ao celular com ares de executiva torna-se a Rainha de Ouros e assim por diante. Lourenço Mutarelli ilustra muito bem isso no seu livro “O Natimorto”, onde o personagem vê sua sorte do dia nas imagens de trás dos maços de cigarros… Ver a realidade como símbolo pode ser uma disciplina muito útil para quebrar o paradigma da causalidade e se conectar com uma perspectiva mais “primitiva” de mundo, ou seja, mais viva e significativa. Quando a realidade se torna simbólica nossa relação com ela também se transforma: outdoors podem dar uma resposta direta a uma pergunta, pessoas podem vir nos dizer o que precisamos ouvir sem ao menos nos conhecer. É como se toda a realidade externa fosse conectada com nossa realidade interna e de tempos em tempos deixasse isso bem claro… A palavra coincidência começa a ser apagada de nosso vocabulário e a palavra sincronia começa a fazer mais sentido. É uma coisa de maluco, admito, mas é assim que acontece. Nesse ponto é que a frágil noção de um Eu separado de todo resto começa a ruir. Posso tentar continuar a descrever isso, mas recomendo que tentem por si mesmos, é um tipo de experiência que deve ser vivida para ser compreendida.

Claro, podemos simplesmente nos fechar para todo esse “esoterismo” sem pé nem cabeça e nos fiar na materialidade de todos os eventos, mas aponto que a consciência humana é uma coisa de fato engraçada e não houve quem a mapeasse por completo e olha que vem sendo estudada há muito, muito tempo, assim evitar ferramentas que vêm sendo usadas a séculos, no caso do tarô, ou há milênios, no caso do I-Ching, por exemplo, pode ser uma postura arrogante se se quiser de fato explorar as capacidades da consciência humana. Não precisamos acreditar nos contos da carochinha, mas uma postura aberta e investigativa é necessária para sair da zona de conforto e mergulhar nos meandros estranhos da mente. De todo jeito, o pragmatismo sempre impera: use o tarô e veja se funciona, caso nada aconteça, descarte simplesmente.

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