A História de Alice Ball, a Química que Aliviou as Dores de Milhares

João Thomaz
4 min readJun 29, 2020

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Foto de Alice Augusta Ball

Durante nossas vidas, lidamos constantemente com o fato de que milhares de pessoas ao redor do mundo estão imersas em dor e sofrimento. Quando nos damos conta dessa realidade, eventualmente, uma pergunta pode vir a tona em nossas mentes: “O que eu posso fazer para ajudá-las?”. Neste caso, existem somente duas alternativas como resposta: “Eu posso ajudá-las de alguma maneira!” ou “Eu não posso fazer nada por elas!”. Alice Ball era uma mulher que escolheu a primeira alternativa como resposta.

Alice Augusta Ball, nasceu nos Estados Unidos em 24 de julho de 1892, na cidade de Seattle, a jovem vinha de uma família de classe média, seu pai era editor de um jornal, fotógrafo e advogado. Em uma época fortemente marcada pela racismo, a família Ball não poupava esforços para destruir as barreiras que o preconceito impunha em seu caminho, James Presley Ball, avô de Alice, foi um fotógrafo famoso e o primeiro afro-americano a aprender o daguerreótipo, o primeiro tipo de processo fotográfico a ser comercializado com o grande público. Alice conviveu com o avô durante a infância e ele certamente foi uma grande inspiração para seu pioneirismo acadêmico.

Alice Ball se graduou em Química Farmacêutica em 1912 e em Farmácia em 1914 pela Universidade de Washington, após se graduar, recebeu uma bolsa de mestrado na Universidade do Havaí. Após ter sua tese aprovada, Alice se tornou a primeira mulher e a também a primeira afro-americana a obter o título de mestra na universidade, onde, nos anos de 1915 a 1916, deu aulas para os alunos do departamento de química. Durante esse período, a senhorita Ball trabalhou naquela que seria a descoberta que faria seu nome ser lembrado por toda a história.

Naquela época, o mundo ainda era assolado por uma doença milenar, a Lepra, ou como viria a ser conhecida alguns anos depois, a Hanseníase. Tal doença, produz sucessivas infecções e lesões na pele dos infectados, podendo também gerar perda de visão e fraqueza. Devido às lesões que, tipicamente, surgem no corpo dos doentes, os mesmos acabaram sendo estigmatizados por grande parte da história da humanidade e infelizmente, isso também ocorria no Havaí, durante a juventude de Alice. Caso houvesse suspeitas por parte das autoridades de que determinado indivíduo estava infectado pela doença, as mesmas poderiam conduzi-lo coercitivamente para realizar exames e caso os resultados destes apontassem para Lepra, o indivíduo era levado para uma península isolada chamada de Kalaupapa, onde ficaria pelo resto da vida. Tais medidas eram tomadas pelo governo local para evitar um surto da doença nas ilhas do arquipélago.

Pena de Homem Infectado pela Lepra

O tratamento para a Lepra consistia em administrar por via oral, um óleo extraído da semente da árvore de chaulmoogra, sendo esta, a maneira mais eficiente de se utilizar o medicamento segundo os registros médicos da época. Entretanto, o Óleo de Chaulmoogra não era capaz de curar a Lepra, apenas de atenuar o seus sintomas, além disso, a ingestão do óleo causava fortes dores abdominais nos pacientes. Durante seu período na pós-graduação, horrorizada pelo sofrimento daqueles que haviam sido infectados pela doença, Alice decidiu se concentrar em desenvolver um método capaz de tornar o óleo injetável, aumentando consideravelmente a sua eficiência no tratamento da Lepra. Esse feito, possibilitou um avanço considerável no tratamento da doença e se tornou o principal método de combate da mesma durante os vinte anos seguintes, até que nos anos de 1940, drogas com sulfonamidas começaram a ser utilizadas.

Infelizmente, Alice não chegou a desfrutar da glória oriunda de sua descoberta, muito menos chegou a receber o crédito por ela, pois antes que ela pudesse publicar sua pesquisa a jovem adoeceu repentinamente, tendo que retornar para Seatle onde, tragicamente, morreu no dia 31 de Dezembro de 1916 aos 24 anos de idade. A causa de sua morte continua um mistério, especula-se, com base na publicação de um jornal local, que Alice tenha morrido devido a envenenamento por cloro, o que faz sentido, pois, naquela época os laboratórios não possuíam ventilação adequada.

Após sua morte, Arthur L. Dean, Químico e Reitor da Universidade do Havaí, deu continuidade ao trabalho de Alice, publicando a pesquisa e iniciando a produção em larga escala do medicamento, contudo, o professor não deu os créditos a jovem pesquisadora que foi excluída da história da ciência, sendo somente reconhecida pela Universidade e pelo Governo do Havaí quase 90 anos depois. Hoje, só podemos agradecer pelo ser humano dedicado e empático que foi Alice Ball e lamentar pelo fato da mesma ter tido uma vida tão curta. Essa jovem, provou a todos de que quando há empatia e trabalho duro, podemos de fato fazer a diferença na vida do próximo.

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João Thomaz

Gosto de escrever, conversar e contar histórias. Talvez um dia eu consiga me tornar um escritor.