Secundaristas revolucionam, imprensa mantém racismo institucional.

joice berth
6 min readDec 9, 2015

Os estudantes secundaristas vêm cumprindo lindamente seu papel surpreendente(nesse momento do Brasil, em especial onde forças retrógradas atuam livremente) no resgate da histórica participação dessa classe social nas lutas políticas do nosso país.

Em outros tempos, os secundaristas foram peças fundamentais na luta contra a ditadura militar . Muitos foram torturados, mortos, exilados, mas todos mostraram força, estratégia e bravura na luta pelo ideal da democracia que os militares sentaram em cima durante 20 anos.

As consequências foram desastrosas e perduram até hoje na política nacional, pois implantaram no nosso povo, uma covardia que somada a alienação total, impedem o progresso do Brasil como nação independente (de verdade) e com autonomia suficiente para pleitear de forma madura, melhores resoluções sociopolíticas que colocariam ordem nessa casa. Nossa nação, cujo gigante que esboçou reação em junho de 2013 mas voltou a dormir seu sono profundo e delirante, aceita pacificamente um golpe, covardemente articulado por uma turma de bandidos de colarinho branco capitaneada pela figura mais patética que a política nacional já projetou, o desnecessário Eduardo (Cú)nha.

E olha que estamos falando de um país onde bolsonaros e felicianos circulam livremente destilando suas opiniões burras, embasadas nas mais sujas ideias cultivadas no berço do retrocesso e da imbecilidade humana.

Mas os secudaritas…ah os secundaristas!!!

Salvando o ano e nos enchendo de esperança, num festival surpreendente de autogestão, muito bem organizada, articulada e amadurecida.

Quem diria. Alunos de escola pública, sempre discriminados e desmerecidos, estariam acumulando um potencial ideológico pronto para resgatar o Brasil de luta, aquele Brasil que foi até a praça da Sé pedir pelas diretas já e que agora, acomodado no conforto dúbio de sua poltrona, no máximo vocifera via internet o retrocesso intelectual a que foi acometido, onde fervilham as aparas do pensamento escroto dos militares autoritários e usurpadores.

Os secundaristas deram um show, unidos e estratégicos, contra o governo do Estado, um pulha do cenário político inexplicavelmente reeleito apesar do trensalão e de todas as falcatruas de que foram comprovadas(cadê a nossa água???).

Um autoritário que tem como resposta padronizada para todo e qualquer questionamento da população, a violência policial. Um retrógrado que é símbolo de um partido que tem como plano principal roubar o país e contar com a blindagem da mídia, cúmplice absoluta e principal alienadora das mentes brasileiras que foram esvaziadas pelos apelos novelísticos da rede de tv mais corrupta da América Latina, e que já fez um estrago em São Paulo que precisará de pelo menos meio século para começar a se restabelecer.

Os secundaristas nos enche de orgulho e já são vitoriosos nessa briga mais que justa.

Mas o que vem chamando a atenção, é a postura sofrível da mídia que se diz alternativa, apontando lideranças e distorcendo a luta de um jeito que não se observa por parte dos estudantes.

Os estudantes vêm demonstrando que sabem exatamente o significado da palavra: UNIÃO. A cada escola ocupada, uma comissão se adiantava para prestar apoio, repartir a comida e os recursos doados, gerenciaram atividades culturais, oficinas, saraus e debates, entre outras coisas.

Tudo em comum acordo, sem nenhum estrelismo e sem estabelecer um(a) líder. Com a humildade de quem, de fato, tem um objetivo: reivindicar melhores condições para as escolas da rede pública estadual.

Da imprensa porca e manipuladora já esperávamos essa atitude silenciadora e que caiu por terra, frente a determinação dessa juventude.

Ninguém, em seu juízo perfeito, espera da Rede Globo e cia, um jornalismo honesto e coeso, que tem comprometimento apenas com a informação. Mas de veículos que se dizem alternativos, o mínimo que se espera é uma fuga do esquemão globo/folha.

Mas não. aparentemente se alinharam a manipulação de ideias, ainda que de forma sutil e quase inocente.

Porque quando você vê estampado em uma manchete, uma insinuação de eleição de lideranças dentro do movimento dos secundaristas, já começa a desconfiar de que algo está errado.

Circulam pela internet, matérias onde as fotografias de alguns estudantes (sozinhos) sinalizam que estes seriam as lideranças do movimento. Isso é no mínimo desonesto, pois vai na contramão do que os estudantes vem mostrando: união total entre as escolas ocupadas.

Obviamente isso poderia desestrutura-los, a medida que hipervaloriza o trabalho de uns e apaga a atuação de simetricamente proporcional de outros tantos que se mantém na luta, em conjunto! Essa é uma estratégia antiga da mídia porca, desestruturar para derrotar.

De que lado está a chamada mídia alternativa???

Mas a desonestidade sutil e incisiva e que coloca a chamada mídia alternativa em pé de igualdade com a mídia porca capitaneada pelo esquemão globo/folha, é a total ausência de alunos negros nesse apontamento de “lideranças”.

Isso é chega a ser sordido, pois sabemos que a contingência maior de alunos da rede pública advém de famílias de baixa (ou baixíssima) renda familiar. Só pobres estudam em escolas públicas. A classe média e alta em peso ocupa os bancos das escolas particulares, que se não diferem em quase nada do sistema prejudicado de ensino geral, ganha (e muito) em infraestrutura escolar, com ambientes confortáveis e todo aparato que garante minimamente a permanência de alunos nos primeiros passos da carreira acadêmica.

Quanto mais dinheiro uma família tem, maior o investimento que faz na formação acadêmica de seus filhos. Poder é conhecimento e a classe média e alta sabe disso e sabe principalmente, que é sobretudo um investimento financeiro.

Ao contrários das classes C, D e E, que pela ausência do conhecimento dessa lógica em suas vidas, pouco investem em seus filhos, pois falta estrutura familiar e econômica para isso. Quanto mais pobre um estudante, maiores as chances de evasão da escola e o rumo é o trabalho que exige menor qualificação intelectual/acadêmica ou na pior hipótese, a criminalidade.

Nesse sentido, as cotas e ações sociais vem garantindo algum ganho para os jovens de baixa renda. E é aí que mora, camuflada de preocupação com justiça social, o ódio que as medidas afirmativas despertam nas classes A e B.

Sabemos que traduzindo em miúdos, a classe média alta é prioritariamente caucasiana, com alguma descendência europeia (e expressivamente asiática, considerando os japoneses) e a classe baixa é prioritariamente negra e indígena. Duvido que em algum lugar do Brasil, alguém tenha a cara de pau de contestar essa distribuição étnica nas classes sociais.

Ao que se sabe, nenhuma escola particular prestou apoio ao movimento dos secundaristas. No início das ocupações, a população em peso assistia calada e o apoio foi pouco, em geral de pais de alunos( poucos!), alguns professores (poucos também!), comércio local e moradores do entorno das escolas.

A bravura e a persistência dos secundaristas comoveu ( ou provocou vergonha)outras camadas da sociedade e o apoio cresceu e ganhou visibilidade. E a mídia porca quebrou o silêncio inicial.

Nesse meio tempo o apoio da imprensa alternativa foi de grande valia.

Mas agora, com essa insistência em massa dessa mesma mídia alternativa, empenhada em “escolher” lideranças para o movimento está no mínimo patética. Denunciando inclusive, o racismo institucional que permeia nossa sociedade, sempre excluindo negros nos espaços de significância. Tá feio, tá esquisito e tá visível.

Cabe ressaltar, que a chamada mídia alternativa tem claras tendências esquerdistas. Isso significa que, mais uma vez a esquerda se mostra tão elitista e racista quanto a direita e que o cansativo conceito da resolução dos problemas sociais pela eliminação das classes sócio-econômicas é um engodo que a população negra não engole mais.

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