Ser mãe ou não ser? Eis a questão!
Diante de tantos posts, tretas e afins referente ao movimento childfree, eu resolvi fazer um textão com o meu ponto de vista sobre o assunto, porque sou dessas.
Primeiro, ChilFree, quer dizer: Livre de Crianças, dentro do contexo que ele está inserido, quer dizer: Sem-filhos. Ele começou a ganhar força na década de 70 nos Estados Unidos, por pessoas que optaram não serem mães e pais por uma série de fatores, desde superpopulação na Terra, até o livre direito de não querer mesmo. Até ai tudo bem, acredito que as pessoas têm todo o direito de escolher alguma coisa ou não, a gente pode desfrutar da nossa falsa liberdade totalmente, você pode escolher não comer algo, vestir, ou simplesmente não querer ser mãe, totalmente aceitável.
Vivemos em uma sociedade, aliás, desde sempre o intuito, é: “crescer e multplicar”, quem nunca ouviu essa frase da Bíblia? (Estou citando essa parte porque o Brasil é um País predominantemente cristão), e com essa predominância, somos fadados a formar uma família. Mulheres, como estamos cansados de saber, eram vistas apenas para procriação, tanto que nunca nos permitiram termos prazer no sexo, tudo em nós, nossos seios, nosso útero, foram criados apenas para carregar uma criança e amamentá-la, criar, cuidar da casa, do marido e assim até morrer, anulando a nossa natureza que é viver bem feliz e realizada, porém infelizmente essa não é a nossa realidade, em pleno 2016 mulheres com 20 anos já são cobradas a formarem uma família, quem nunca ouviu: “e ai, vai ter um filho quando?” “vai casar quando?”, se você é casada, ouve “nossa vcs já estão casados, quando vai dar um filho pra ele?”, “Mas se você não tiver um filho agora vai ficar muito velha”, “Eu quero um neto” entre tantas outras coisas e absurdos que somos obrigadas a ouvir. Inclusive quem é mãe, incrível né? Se você tem só 1 filho, falam: “mas você não vai dar um irmãozinho pro seu filho?” Que coisa não?
Tendo filhos ou não, somos mulheres e como tal, somos julgadas, cobradas, não podemos abortar, somos irresponsáveis por ter, somos sem coração por escolher não ter, mas sabe o que é pior em tudo isso? Sermos julgadas por outras mulheres por conta da nossa escolha (ou não). Era ai que eu queria chegar.
De uns tempos pra cá, vejo muitos compartilhamentos de páginas ChildFree, mas não pessoas expressando o seu direito de não serem mães, não são pessoas dando orientações, não são pessoas que usam dados e fatos, são pessoas que julgam, que oprimem, que querem jogar a sua verdade em cima de gente que não têm a mesma condição que ela.
Passei por algumas dessas páginas e o que eu vejo é: Discurso de ódio, são pessoas que usam do seu direito para atingirem mães, são pessoas que fazem posts tendênciosos, sugerindo morte de crianças, são pessoas que usam do seu direito de não parir, de chamar mães de parideiras, crianças de catarrentas, pessoas que, em vez de se juntar, separam mais ainda.
Acredito que eu e mais 90% das mulheres que são mães hoje não planejaram, não queriam ter filhos, vivemos em uma maternidade compulsória e sofremos as consequências disso, somos julgadas por essas mulheres, somos julgadas pelo patriarcado, pela sociedade, (há quem diga que mulher não oprime mulher), oprime sim, e dói bem mais, o sangue sobre só de ler coisas contra nossos filhos, já somos isoladas, não temos vóz, somos cobradas a sermos “mães perfeitas”, estamos cansadas, tão cansadas quanto vocês que não querem ter filhos, vocês reclamam que a sociedade cobra isso de vocês e joga todo esse peso em nossas costas, como se fossemos culpadas só porque resolvemos parir, alias, muitas o fizeram por medo de abortar, por pressão da sociedade, mas também existem aquelas que quiseram SIM ser mães. Aacredito que existam mulheres que se preparam pra isso, não é porque disseram que ela só seria feliz com um filho, mas porque, assim como as ChildFree, elas também têm todo o direito de serem mães… não esqueçam das mães adotantes, essas que, querem experimentar a maternidade, e não são menos ou mais mães, elas escolheram, e com isso, vocês as julgam também.
Minhas queridas amigas Childfree, estudem sobre maternidade compulsória, andem com mães, entendam a situação delas, entendam que pilulas anticoncepcionais falham, camisinhas furam, remédios abortivos e clínicas são caras e arriscadas, entendam que o fato de vocês odiarem nossos filhos, não vai nos fazer menos mães, o fato de algumas de vocês falarem que abrimos as pernas pro patriarcado, não vai minimizar o que já foi feito.
Outra coisa que queria falar aqui é sobre a frase: Não gosto de criança. Parece uma frase simples, a maioria das pessoas que não querem filhos usam, mas entendam que ela é totalmente problemática.,Quando você diz que não gosta de crianças, soa como discurso de ódio e preconceito… quer saber por quê? Vamos fazer um exercício:
Diga: Não gosto de negro, não gosto de índio, não gosto de japonês, não gosto de gay, de lésbica, não gosto de trans…
Agora diga: não gosto de chiclete, não gosto de pão, não gosto de arroz, não gosto de carne, não gosto desse sapato, não gosto de chuchu.
Viu como soa diferente? Você dizer que não gosta de um ser humano pelo que ele é, é preconceito, acredito que a maioria das Childfree modernas são feministas, e como militantes, vocês sabem, ou deveriam saber como isso funciona, não é mesmo? Então, por que não praticar?
Ninguém está dizendo aqui que você vai ter de gostar de birra, choro de criança, de trocar fralda suja, e pra falar a verdade, eu como mãe também detesto fazer isso, mas acho que falta um pouco de bom senso dentro desse tipo de movimento.
Como disse no começo, eu respeito o fato das mulheres terem escolhas sobre o seu corpo, e como mulheres, devemos respeitar a escolha uma da outra, o fato de você não querer ser mãe, não quer dizer que a sua amiga também não queira, e por isso, menos ainda você deve atacá-la, o mesmo vale para quem escolheu não ser mãe, ela não deve ser julgada por isso, acho que o respeito deve ser mútuo, eu não consigo entender ter esse tipo de sepração em um movimento cujo o único intuito, aliás, um deles é a nossa liberdade sobre nossos corpos e escolhas.
Eu realmente fico emputecida com posts nesse tipo de página, e o fato de vocês fazerem isso, não vai mudar em nada, ameaçar mães, ameaçar pegar fotos dos nossos filhos para expor, nos xingar, humilhar, não muda NADA!
Agora eu vou falar sobre quem realmente levar o movimento a sério, e acredito que essas pessoas existam, e acho sinceramente que vocês deveriam aparecer mais, porque um movimento que deveria unir acaba separando por causa de gente que só quer aparecer na internet, e mancham ainda mais a imagem que queremos construir, vou falar de novo, liberdade sobre nossos corpos.
Eu não vou colocar prints dos absurdos que eu vi em algumas dessas páginas, mas vou deixar o link aqui caso alguém tenha estômago. E se você é Chilfree (que leve a sério o movimento por favor), e está lendo isso aqui, gostaria de ouvir você, seu depoimento, sua vivência e sua opinião sobre algumas dessas páginas ou até mesmo sobre maternidade.
Era só isso mesmo, vamos respeitar, vamos denunciar sim, vamos exigir respeito sobre nossas escolhas, seja com quem for. E pra fechar, tenham empatia com as mães, não compartilhem postagens tirando sarro da maternidade, tirando sarro dos nossos filhos, pratiquem a empatia e feminismo que vocês tanto pedem nas redes sociais.
Páginas child free:
https://www.facebook.com/somoschildfree
https://www.facebook.com/somoschildfree3/
https://www.facebook.com/somoschildfree2/
https://www.facebook.com/MulherChildfree/
https://www.facebook.com/Rola-Desconstrutora-3196067350462…/
https://www.facebook.com/antibebes/
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ATUALIZADO:
O texto tomou muitas proporções, uma delas, ofensas pessoais (vcs podem ver nos comentários). Eu vou resumir o texto em uma linha pra quem leu e ainda não teve a, digamos, sacada de entender. Dentro do movimento CF, existem sim mulheres que fazem discursos de ódio contra crianças, (mais uma vez, leiam os comentários deste post), e é contra essas pessoas que as mães lutam contra. Vcs acham que 100% das mães queriam ser mães? Vcs como mulheres feministas ou não, deveriam ler sobre maternidade compulsória, métodos contraceptivos e não pregar ódio contra crianças, porque, pelo que eu saiba o movimento (sério), CF é isso.. e não um bando de moleca que zoa mães. Todas temos direitos sobre nossos corpos e se, a mulher quiser ser mãe, ela pode ser e vcs não têm nada a ver com isso, e se ela não quise tb, ok, a vida é dela, não pregamos “meu corpo minhas regras”? ele deve valer para quem quer ser mãe também. Escrevi um outro post em resposta a esse, pra quem quiser ler e ter, digamos, a sacada de entender: http://bit.ly/2wCAFof
Texto original: https://wp.me/p7Mxcm-66