Violino

Jonas Mizokami
1 min readOct 31, 2024

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O músico repousa a cabeça

na suave curva do violino

O instrumento acolhe o peso

de engendrar ainda mais uma canção

Um olha pro outro

o outro olha pro um

Entre eles um paradoxo:

Parece que todas as músicas já foram feitas

mas parece também

que de todas as músicas que poderia criar

o milagre reside em escolher

Ele arrisca deslizar por uma nota

e produz uma imagem bucólica

com leves nuvens que logo

dão lugar à colheita

mas uma tempestade rompe

os frutos do trigo e a morte

como as nuvens

desfaz as casas, os celeiros…

O músico para, desconfortável

insatisfeito

Ele tenta de novo — dessa vez

borboletas brincam ao longo de um córrego

de pedras lisas com líquens

multicoloridos

Ele para, irritado

E começa a fazer

um rosto distante

de alguém que amava

mas a quem nunca se declarou

E seu violino canta

sobre aqueles que partiram

aqueles que ficaram

sobre a impossibilidade do retorno à infância

sobre um coração que transborda

espinhos e piche

sobre a conexão imediata do olhar de

dois futuros amantes fadados

à miséria, ele divaga sobre a cor

entre o azul e o violeta

e paira sobre a sombra das águas primordiais…

O violinista para

Contempla o violino e o arco em suas mãos

Os universos que criou, os sonhos que matou

com o simples movimento dos dedos

ao longo das cordas

Ele suspira

Suspira

e desiste

“Eu nunca vou fazer música de verdade”

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Jonas Mizokami
Jonas Mizokami

Written by Jonas Mizokami

Uma mente torturada e um vegetal em conserva

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