Jonas Scherer
6 min readMar 7, 2024

Além da conformidade: explorando o valor próprio, o descontentamento e a busca pela liberdade

San Pedro de Atacama — Jonas Scherer 2023

Quem me conhece sabe que sempre fui um defensor de uma visão além da técnica. Quando observo minha trajetória de vida percebo que comportamento, inteligência emocional, uma visão mais humana fazem todo sentido. Isso me fez transitar por vários lugares e experiências diferentes, coisas que muitos enxergam como um ato de coragem (ou de estupidez).

Acredito que somos mais do que uma linguagem de programação, sistema, framework, certificação, língua, atitude ou comportamento. Isso tudo são ferramentas que amanhã ou daqui uns anos podem não estar aqui com você, assim como sua profissão ou seu cargo. Tudo muda e tudo mudará.

Sou uma pessoa generalista, entendo que esse viés pode servir apenas para reforçar minha visão e valorizar minha experiência. Esse não é o ponto de discussão aqui, pois gostaria de me aprofundar no aspecto negativo de tudo isso e aquilo que uso como suporte para não me afundar.

Eu tenho um problema sério em valorizar algo por mim. Não encaro meus feitos como algo grandioso ou superior, demoro para ficar feliz por algo que conquistei ou construí. Foco mais no aspecto negativo, seja aquilo que poderia ter sido melhor, seja quais seriam os próximos passos para superar isso. As vezes acho que as pessoas ficam mais felizes do que eu por algumas conquistas minhas e acabo ficando feliz só por conta disso. Tenho boas referências e companhias em minha vida, então isso não é algo ruim como um todo, mas levanta algumas questões quando eu busco isso em pessoas que não me identifico e que não são tão importantes para mim.

Estou lidando aqui com a validação externa, algo que somado a minha filosofia de não conformidade me trouxe até aqui rumo a algumas conquistas.

Racionalmente me entendo como um indivíduo, único em minhas experiências e consequências (uma magia do universo ou um feito dos deuses e deusas se preferir). Entretanto ainda me falta uma auto valorização, ou um auto contentamento. Reconheço isso depois de muitos anos me estudando, fruto de muitas leituras filosóficas, papos e terapia.

Sempre admirei pessoas que tem a mentalidade vencedora, que se superam e comemoram como ninguém! Conheço pessoas próximas que conseguem feitos incríveis em esportes por conta disso. Já estudei muito sobre o assunto e tentei chegar nesse estado mental, pois entendo que depois de um certo ponto não é questão de força ou destreza, essas pessoas não são sobrenaturais, é tudo uma questão mental (e elas mesmas reforçam isso)! Essas pessoas sabem se contentar e se valorizar como ninguém (ou ao menos aparentam isso).

Resolvi depois de um tempo tentando que sou preguiçoso demais ou quem sabe pessimista demais para isso (rs). Ignorar os pensamentos intrusivos e me entregar ao caos me parece fazer mais sentido do que tentar supera-los. Para além disso essa suposta mentalidade vencedora, apesar de ser algo que movimenta, nos traz a perspectiva de que sempre há algo a ser superado. Contentar-se é algo momentâneo. Sou um pouco contra isso, pois a busca aqui (para mim) é justamente por esse contentamento, porém reconheço que uma pitada de busca pela superação e movimento não faz mal a ninguém.

O tema está explorado e isso me levanta algumas perguntas centrais:

  • Por que mesmo com essa mentalidade de não superação me enxergam como alguém corajoso?
  • Por que enxergo meus feitos mas não consigo valoriza-los?

Sobre uma visão (particular) de não conformidade:

Dificilmente luto por aquilo que não vale a pena. Se algo não me agrada e não amo aquilo profundamente, prefiro mudar e seguir por outro caminho ainda que isso represente algum tipo de risco para mim. Essa visão pode parecer um pouco utilitarista para quem lê, mas reconheço em mim uma visão mais humana de respeito e transparência. Estou comigo por mim mesmo e aquilo que acredito, mas convivo com outras pessoas e isso me faz tentar até certo ponto. Sendo assim antes de mudar existe um ato de respeito ao outro, sua trajetória e nossa relação, existem discussões transparentes sobre o rumo que cada um pode seguir antes de uma decisão. Sendo assim cada um pode seguir por onde acredita e aqui entra um valor fundamental para mim que é a liberdade.

A não conformidade entra aqui portanto como uma valorização do indivíduo, para além das leis, regras e padrões. Com isso entra a responsabilidade pelos meus atos. Se quero seguir por meu caminho carregando apenas meus valores e opto por não ir por onde uma maioria vai, isso implica em confrontos e consequências. Isso não é melhor nem pior, apenas diferente. Isso também não significa que o indivídual esteja acima do coletivo.

Sendo assim, entendo que meu modo de viver e de pensar ao menos racionalmente reforçam que eu me valorizo e valorizo os demais em suas individualidades. Entretanto esse espirito de não conformidade que me move, também me faz imediatamente pensar no próximo passo e objetivo, sair do conforto ruma a próxima montanha a ser superada.

Esse vasto abismo chamado superação traz a tona apenas aquilo ou aqueles que conseguiram chegar lá e deixa para trás incontáveis corpos.

O problema aqui então talvez seja mais emocional e relacionado ao descontentamento.

Resolvendo (ou tentando) o problema da auto valorização e descontentamento.

Ao meu ver é um fato bom de se “estar bem por sí” e não estar constantemente buscando uma validação externa. Depois de um tempo me expondo muito nas redes sociais descobri a energia que isso me suga e o quanto isso pode ser um sinal de fuga e autosabotagem. Passei alguns meses vivendo mais escondido da exposição e tive que confrontar essa sensação de não receber validação alheia. Isso me fez derivar para outras fugas e vícios para tentar ficar contente. Isso me fez confrontar minha concepção de liberdade, minha ansiedade por superação e mudanças, meu discurso sobre ser mais real e autêntico. Isso reforçou a minha necessidade de enquanto homem adulto enfrentar e compartilhar as causas e consequências de meus atos e pensamentos, para quem sabe me ajudar e ajudar alguém.

Ainda preciso chegar mais fundo nesse poço, mas acredito que não sou tão livre quanto pensava. Ao enfrentar meus comportamentos nocívos observo que existem coisas ocultas que preciso trabalhar e que a verdadeira liberdade está em conseguir renunciar uma vida vivida em um modo anestesiado por diversas drogas e fugas (incluindo telas) para poder ser alguém melhor para mim e para os outros. Sendo assim o verdadeiro confronto é comigo mesmo e com meus comportamentos. Para cada comportamento existe um novo mundo a ser explorado com suas causas e consequências. Sendo assim, por hora me contento em saber que preciso enfrentar tudo isso(hahaha) e acima de tudo não entrar em uma visão purista e moralista demais. Tudo no seu tempo.

O fato aqui é que existem fugas e o foco continua sendo tentar se contentar por uma via externa que vai além das pessoas e é muitas vezes desacoplado da realidade. Caio assim em uma mesma armadilha…

Há muito tempo acredito e aceito que como humanos somos eternamente descontentes, sempre nos faltará algo. Buscamos fugir da dor e encontrar o conforto. Esqueço disso tudo com frequência (rs). A solução portanto não existe, o que existe é como remediar as consequências dessa eterna insatisfação.

Posso ser menos ansioso me questionando e ponderando mais sobre meus próximos objetivos, posso inclusive baixar a régua do que me é esperado se isso me deixa mal ou aumentar essa régua se precisar me movimentar mais. Posso também não fazer nada rumo a um progresso, me entregar ao caos, regredir ou esperar e me divertir (intencionalmente) mais nesse momento até eu decidir seguir em frente (ou para trás, pra cima, pros lados rs). Aqui (por enquanto) encontro uma auto valorização e um contentamento. Ao me entender como uma pessoa capaz de lidar com isso tudo graças a minha bagagem e de confiar que tomarei uma decisão que me deixará contente.

O desafio no fim do dia talvez seja me respeitar mais. O que acha?