Desvendando os Frameworks de Priorização
Por quê priorizar?
Rotineiramente nos deparamos com situações em que precisamos priorizar atividades e determinar a ordem em que iremos realiza-las.
Quem nunca ao lavar a louça fez a separação dos itens e começou pelos mais fáceis de limpar ou mais difíceis ou ainda algum critério de preferência?
Isso é basicamente uma forma de efetuar a priorização, ou seja, você quer ser eficiente, prático e rápido para desempenhar essa tarefa. Dentro do mundo organizacional não seria diferente, uma vez que as empresas tem tempo e dinheiro limitados seja para realizar o processo de discovery, lançar uma feature antes da concorrência, etc. Resumindo, uma constante corrida.
Meu objetivo com esse texto é elencar algumas ferramentas que podem te ajudar nesse processo.
A seguir trarei algumas das ferramentas que são utilizadas para efetuar a priorização de user stories, itens do release, tarefas do backlog, etc. Muitas são as possibilidades de aplicação, podendo ser utilizadas de forma solitária ou em conjunto para trazer uma certa “precisão”, tudo irá depender do contexto em que elas serão aplicadas.
1. MoSCoW
Criada nos anos 90 por Dai Clegg, enquanto trabalhava na Oracle, a técnica diz respeito à uma forma de gestão, análise de negócios e gerenciamento de produtos e projetos. Seu objetivo é determinar a prioridade e importância das tarefas, auxiliando aos membros da equipe e stakeholders a chegarem em um consenso e ajustar as expectativas sobre o que será entregue como Mínimo Produto Viável (MVP). Essa ferramenta seria recomendada para o momento inicial das tarefas da release, onde todos os stakeholders demonstrarão o que consideram acerca das funcionalidades e a ordem de priorização.
· Must-Have: são os itens indispensáveis para a entrega, sendo as tarefas que entregam os principais valores do produto final.
· Should-Have: são importantes, mas não cruciais para a entrega do produto.
· Could-Have: são desejáveis, mas não primordiais. Então por estratégia ou falta de recursos podem acabar não sendo entregues nas primeiras versões do produto.
· Won’t-Have: esses são itens que, por acordo entre o time e stakeholders, foram classificados como menos críticos, com menor retorno do investimento do produto final.
2. ICE Score
Criada por Sean Ellis, profissional considerado o “pai” do Growth Hacking, consiste na priorização de tarefas mediante a somatória das pontuações dadas aos critérios Impacto (Impact), Confiança (Confiance), Facilidade (Effort).
Os critérios:
Impacto (Impact): indicar qual o nível de implicação da tarefa no produto.
Confiança (Confiance): nível de segurança acerca do item em questão.
Facilidade (Effort): nível de dificuldade ou esforço que será aplicado para desenvolver a tarefa.
Para calcular o ICE Score deve ser atribuído a cada um dos critérios uma pontuação de 0 a 10, sendo 0 pouco relevante e 10 muito relevante. Por fim, soma-se todas as pontuações da seguinte forma.
Impacto + Confiança + Facildiade = ICE Score
3. Modelo Kano
O Kano Model foi elaborado pelo pesquisador e consultor japonês Nariaki Kano em 1984, reunindo um conjunto de técnicas e ideias que trariam uma forma simples de priorizar as funcionalidades de um produto com base na satisfação do consumidor. Se encaixa melhor quando você já possui uma base de usuários e gostaria de medir a satisfação deles com relação às funcionalidades atuais e futuros lançamentos.
A satisfação do cliente é baseada nos seguintes princípios:
- Nível de funcionalidades fornecidas (o quão bem o valor é entregue);
- Os recursos são classificados em quatro categorias;
- Mensurar a satisfação por meio de um questionário;
A satisfação e funcionalidade são as duas dimensões que irão representar o sentimento do cliente em relação ao produto:
1. Indo da satisfação total (excitação) à insatisfação total (frustração);
2. Fatores de investimento, sofisticação ou implementação irão representar o quanto de uma feature o usuário adquiriu, o quão bem foi implementado ou quanto foi investido no desenvolvimento.
As categorias serão determinadas mediante às reações do usuário e são classificadas em:
· Features de performance (linear satisfiers): se comportam com o que pensamos intuitivamente que a satisfação funciona, quanto mais for ofertado mais satisfeito o usuário ficará.
· Features essenciais (baseline expectation): funcionalidades que já são esperadas pelo usuário, se o produto não as possuir será considerado incompleto ou ruim.
· Features empolgantes (delighters): fatores inesperados, que quando apresentados causam uma reação positiva. São os diferenciais considerados atraentes em um produto. Podem ser cruciais quando se refere a Product Market Fit.
· Features indiferentes: funcionalidades cuja presença ou ausência não faria uma real diferença nas reações do produto.
Para descobrir as percepções dos usuários com relação ao produto será preciso aplicar o questionário de Kano, consistindo em um par de perguntas para cada feature lançada. Uma das perguntas será sobre como o usuário se sente se ele tiver a feature e a outra como ele se sentiria se não tivesse a feature, as respostas possíveis são:
· Eu gosto disso;
· Eu espero isso;
· Eu sou neutro;
· Eu posso tolerar isso;
· Eu não gosto disso;
4. Rice
RICE é uma técnica de priorização que ajuda a medir o impacto de cada tarefa e a determinar a prioridade mais alta do backlog. Seu acrônimo se refere à quatro fatores que são usadas para avaliar a ideia de cada produto: alcance, impacto, confiança e esforço.
As categorias são:
· Reach (alcance): é o alcance de clientes que serão atingidos pela feature.
· Impact (impacto): são as transformações e benefícios que a feature trouxe para o usuário.
· Confidence (confiança): representa a confiança sobre a intensidade do alcance e impacto da feature. Quanto maior a certeza sobre quantidade e qualidade dos dados associados aos itens anteriores maior será o valor desse critério. Pode ser usada em porcentagem em que 100% é “alta confiança”, 80% é “médio”, 50% é “baixo”.
· Effort (esforço): mede a quantidade de tempo e esforço investidos para o desenvolvimento da feature.
Para obter o resultado da lista de prioridades, você deve atribuir uma nota de 1 a 5 para cada critério. Em seguida, deverá calcular o score multiplicando Reach x Impact x Confidence e dividir o valor por Effort.
Qual framework utilizar?
Como mencionei no início do texto, tudo dependerá de vários fatores então é preciso entender o momento em que seu usuário, produto e empresa se encontram e quais os objetivos estão sendo levados em consideração para as tomadas de decisão naquele momento. Além disso, não pense de forma isolada sobre elas, muitas podem se complementar e trazer uma posição mais detalhada do que deve ser priorizado.