Esquerdismo não é liberalismo
Qual é a diferença entre um esquerdista e um liberal? Responder a esta pergunta é vital para compreender a crise que a América e o Ocidente enfrentam hoje. No entanto, poucos parecem capazes de fazê-lo. Ofereço o seguinte texto como guia.
Eis a primeira coisa, a saber: os dois não têm quase nada em comum.
Pelo contrário, o liberalismo tem muito mais em comum com o conservadorismo do que com o esquerdismo. A esquerda apropriou-se da palavra “liberal” de forma tão eficaz que quase todos — liberais, esquerdistas e conservadores — pensam que são sinônimos. Mas eles não são. Vejamos alguns exemplos importantes.
Raça: essa é talvez a mais óbvia das muitas diferenças morais entre liberalismo e esquerdismo. A essência da posição liberal sobre a raça é que a cor da pele é insignificante. Para os liberais de uma geração atrás, apenas os racistas acreditavam que a raça é intrinsecamente significativa. No entanto, para a esquerda, a noção de que a raça é insignificante é em si mesma racista. Deste modo, a Universidade da Califórnia considera oficialmente a afirmação “existe uma única raça, a raça humana”, como racista. Por essa razão, os liberais eram apaixonadamente comprometidos com a integração racial. Os liberais devem estar enojados por ter havido a existência de dormitórios negros e graduações separadas de negros em campi universitários.
Capitalismo: os liberais sempre foram pró-capitalistas, reconhecendo-o pelo que é: o único meio econômico capaz de tirar grandes números de pessoas da pobreza. Os liberais muitas vezes consideravam o governo capaz de desempenhar um papel maior para tirar as pessoas da pobreza do que os conservadores, mas nunca se opunham ao capitalismo e nunca foram para o socialismo. A oposição ao capitalismo e a defesa do socialismo são valores da esquerda.
Nacionalismo: os liberais acreditam profundamente no Estado-nação, seja sua nação os Estados Unidos, a Grã-Bretanha ou a França. A esquerda sempre se opôs ao nacionalismo porque o esquerdismo está enraizado na solidariedade de classe, e não na solidariedade nacional. A esquerda tem desprezo pelo nacionalismo, vendo nele o primitivismo intelectual e moral na melhor das hipóteses, e o caminho para o fascismo na pior delas. Os liberais sempre quiseram proteger a soberania e as fronteiras americanas.
A noção de fronteiras abertas teria atingido um liberal tão incontornavelmente como a um conservador. É emblemático do nosso tempo que os roteiristas esquerdistas dos quadrinhos do Super-homem tenham o feito pronunciar há poucos anos: “Eu Pretendo discursar ante as Nações Unidas amanhã e informá-los que estou renunciando à minha cidadania americana”. Quando os roteiristas do Super-homem eram liberais, o personagem não era apenas um americano, mas alguém que lutou pela “verdade, justiça e o modo americano”. Mas em seu pronunciamento, ele explicou que esse lema “não é mais o suficiente”.
Visão da América: os liberais veneraram a América. Assistiam a filmes americanos da década de 1930 até a década de 1950, ou seja, filmes abertamente patriotas, celebrando a América — praticamente todos produzidos, dirigidos e atuados por liberais. Os liberais entendem bem que a América é imperfeita, mas eles concordam com um ícone conservador chamado Abraham Lincoln que a América é “a última e melhor esperança da Terra”.
Para a esquerda, a América é essencialmente um país racista, sexista, violento, homofóbico, xenófobo e islamofóbico. A esquerda, ao redor do mundo, detestou a América, e não é de difícil imaginar por que a esquerda americana seria diferente dos outros esquerdistas do mundo todo. Os esquerdistas muitas vezes se ofendem por ser colocado em dúvida o seu amor pela América. Mas essas descrições não são a única razão para assumir que a esquerda tem mais desprezo do que amor pela América.
A visão da esquerda sobre a América foi encapsulada na declaração do então presidente Barack Obama, em 2008. “Estamos há cinco dias de mudar fundamentalmente os Estados Unidos da América”, ele disse. Agora, se você conhecesse um homem que dissesse que queria transformar fundamentalmente sua esposa ou uma mulher que dissesse isso sobre o marido dela, você assumiria que eles amam seus respectivos cônjuges? Claro que não.
Liberdade de expressão: a diferença em relação à liberdade de expressão entre a esquerda e os liberais é tão dramática quanto à diferença em relação à raça. Ninguém estava mais comprometido do que os liberais americanos com a famosa declaração. “Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”.
Os liberais ainda são. Porém, a esquerda está liderando a primeira supressão nacional da liberdade de expressão na história americana — das universidades ao Google para quase todas as outras instituições e locais de trabalho. Afirmam apenas opor-se ao discurso de ódio. Mas proteger o direito da pessoa A de dizer o que a pessoa B julga censurável é o ponto essencial da liberdade de expressão.
Civilização ocidental: os liberais têm um profundo amor pela civilização ocidental. Eles ensinaram em praticamente todas as universidades e celebraram suas realizações morais, éticas, filosóficas, artísticas, musicais e literárias. Nenhum liberal teria se juntado ao esquerdista revolucionário Jesse Jackson ao cantar na Universidade de Stanford
“Hey, hey. Ho, ho. Western civ has got to go.”[1] O esquerdista mais venerado da história americana é provavelmente o ex-presidente Franklin Delano Roosevelt, que frequentemente citava a necessidade de proteger não apenas a civilização ocidental, mas a civilização cristã. No entanto, os esquerdistas denunciaram por unanimidade o presidente Donald Trump por seu discurso em Varsóvia, na Polônia, no qual ele falou sobre proteger a civilização ocidental. Eles argumentaram não só que a civilização ocidental não é superior a nenhuma outra civilização, mas também que não é mais do que um eufemismo para a supremacia branca.
Judaísmo e Cristianismo: os liberais conheceram e apreciaram as raízes judaico-cristãs da civilização americana. Eles mesmos foram à igreja ou à sinagoga, ou pelo menos apreciam a maioria dos companheiros americanos que ainda o fazem. O desprezo que a esquerda tem — e sempre teve — para a religião (exceto para o Islã hoje) é algo com o qual um liberal jamais se identificou.
Se a esquerda não for derrotada, a civilização americana e a ocidental não sobreviverão. Mas a esquerda não será derrotada até que os bons liberais entendam isso e se juntem à luta. Caros liberais: os conservadores não são seus inimigos. A esquerda é.
Nota de rodapé
[1] Algo como: “Ei, ei, ô, ô. A civilização ocidental tem que partir/ ir embora/ desaparecer”.
Por Dennis Prager
Publicação Original: Site Townhall
Tradução: Willy Marques
Originally published at Jornal do Empreendedor.