9 perguntas essenciais para a luta antirracista no Brasil hoje

Jornal Diáspora Negra
3 min readNov 26, 2019

--

Essa é a primeira série de publicações do Jornal Diáspora Negra no Medium, ela é baseada na sessão VIP no Quora aonde João Raphael Ramos dos Santos respondeu questões sobre racismo no Brasil e pode ser acompanhada aqui.

1- Como o racismo afeta a educação no Brasil?

Na primeira metade do século XX o tema da eugenia marca não só as discussões científicas, mas também as políticas educacionais brasileiras influenciando a forma em que se pensa a escola e determinando o futuro educacional da população negra brasileira. Na introdução de seu livro Diploma de Brancura: política social e racial no Brasil 1917- 1945, Jerry Dávila, que desde 1993 pesquisa relações raciais no Brasil, nos mostra como o pensamento eugênico está ligado à história e ao pensamento educacional no Brasil. Pesquisando o período histórico indicado pelo título, reconhecido como período de cruciais transformações sociais no país, Dávila, observando documentos e registros do Rio de Janeiro, então capital federal, aponta como o pensamento eugenista brasileiro guiou a expansão e a reforma do sistema educacional partindo do pressuposto de que a degeneração racial trazia desvantagens ao povo brasileiro, desvantagens essas que poderiam ser sanadas, extirpadas no futuro, através da educação e da miscigenação que poderia garantir o branqueamento cultural da sociedade brasileira. (DÁVILA, 2006, p. 13). Sobre o pensamento educacional brasileiro da época, de acordo com o autor:

Para os educadores brasileiros e sua geração intelectual, raça não era um fato biológico. Era uma metáfora que se ampliava para descrever o passado, o presente e o futuro da nação brasileira. Em um extremo, a negritude significava o passado. A negritude era tratada em linguagem freudiana como primitiva, pré-lógica e infantil. Mais amplamente, as elites brancas equiparavam negritude à falta de saúde, preguiça e criminalidade. A mistura racial simbolizava o processo histórico, visualizado como uma trajetória da negritude à brancura e do passado ao futuro. (DÁVILA, 2006 p. 25)

As políticas públicas educacionais conduzidas por nomes como Anísio Teixeira, Afrânio Peixoto, Fernando de Azevedo, Antônio Carneiro Leão e Edgar Roquette Pinto tiveram o que o autor reconhece como um sentido duplo. Ao mesmo tempo em que expandiram o alcance da escolaridade para a população pobre e não-branca, reforçaram o estereótipo sobre a negritude como símbolo do passado.

A tarefa das elites brasileiras era encontrar novas formas de criar brancura, necessária para manter a vitalidade, dessa forma, os educadores criaram escolas cujas normatividades se baseavam na raça e, através dela, suas recompensas funcionavam. “Naturalmente, para eles o futuro do Brasil era Branco” (DÁVILA, 2006, p. 26).

Dorothy Counts foi a primeira estudante negra admitida numa escola pública americana (de brancos)

O currículo escolar passa a ser justamente a arma principal da disseminação desse ideal, reproduzindo um racismo científico, estrutural, epistêmico. É justamente contra isso que o Movimento Negro vem lutando a muito tempo, ao aprovar a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro brasileira no Brasil, por exemplo, mas servindo como um movimento educador, de acordo com Nilma Lino Gomes, ao mudar toda a perspectiva da sociedade em geral com relação as mazelas do racismo.

Autor: João Raphael Ramos dos Santos é Sociólogo e Mestre em Educação formado pela UFRJ. É pesquisador de educação antirracista focado na área do currículo escolar. Professor unidocente do Colégio de Aplicação da Fundação Roberto Marinho, editor e apresentador do Jornal Diáspora Negra.

--

--