Foto: Arquivo Pessoal

“Onde está o nosso espaço?”

Sobrevivente de um país violento, a ativista Marcelly Malta fala sobre a situação da população trans no Brasil

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Por Tynan Barcelos
Editado por Laura Blos

Trinta e cinco anos. Esta é a expectativa de vida de uma pessoa transexual no Brasil. Praticamente, a metade da média nacional. Porém, as histórias de vida ultrapassam as barreiras dos números e escancaram um problema que, no Brasil, ainda carece de atenção e entendimento.

Uma dessas histórias é a da Marcelly Malta, 70 anos, líder e presidenta da ONG Igualdade RS — Associação de Travestis e Transexuais do Rio Grande do Sul. Marcelly, que pode ser considerada uma sobrevivente, quando olhamos a expectativa de vida dos transexuais no país, participou, na sexta-feira, 4 de setembro, da videoaula de Jornalismo Comunitário e Cidadão, ministrada pela professora Sonia Montaño, na Universidade Unisinos.

Através de uma conversa com os estudantes da disciplina, Marcelly falou sobre a sua história frente à militância para os direitos básicos dos transexuais e travestis. Se antes a situação já era ruim, o cenário político e social atual aumentou o problema: “Há um incentivo da violência contra a gente, as pessoas não aceitam um trans no seu convívio”, corrobora a convidada. Além de contar sobre a sua história e sobre os seus projetos, de forma emocionada, Marcelly falou da situação atual da comunidade trans, que passa por dificuldades, devido a pandemia causada pelo novo coronavírus.

“Cada um tem o seu espaço e o meu espaço é ilimitado” reforça Marcelly, ao falar da presença das pessoas transexuais no convívio social, que ainda é negada. (Foto: Tynan Barcelos)

A violência como rotina

Ser transexual no Brasil é lidar com a violência todos os dias. O país tem o maior registro de homicídios de transexuais no mundo, segundo estudo feito pela ONG Transgender Europe (TGEu). E este é um contexto que existe desde a ditadura no Brasil, e que permanece até hoje. “A gente não entendia por que havia repressão. Na ditadura, apanhamos muito da polícia e hoje temos uma ditadura, só que de forma velada”, afirma Marcelly.

“Somos a população mais assassinada do mundo”, Marcelly Malta

Apesar do cenário de violência e discriminação, Marcelly conta que a política e as novas práticas de comunicação podem ser uma ferramenta útil para a colocação do tema em pauta: “A nova geração da Comunicação melhorou muito. Melhorou, também, o tratamento das coberturas trans”, explica a ativista.

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