Jose Cos7a
5 min readApr 14, 2020

Estava aqui a olhar para a TV, quase que sem ver — pois só se fala na mesma coisa, perdido nas minhas ideias e estava a pensar nas voltas que a vida dá. Na facilidade com que o nosso paradigma existencial se altera, às vezes, com uma pequena “brisa”.

Seja por esta fase da vida que vivemos, seja o que pensamos no que vai acontecer a seguir… seja por aquilo que perdemos, por aquele emprego, por aquela coisa que tanto desejavas, por aquela pessoa… não interessa. De um momento para o outro, tudo se altera: o que era o mais importante na [minha, na tua, na nossa, na vossa…] vida ontem, que foi importante durante algum tempo (seja dias, meses, anos)… num piscar de olhos, se transforma, e deixa de ter a mesma importância, deixa de significar o que quer que significa.

Facilmente as coisas mudam… Facto!

Não porque não apreciamos, queremos, gostamos… e outros sentimentos, mas porque vamos analisando as coisas pela perspetiva que temos no momento.

Por vezes para melhor… Aquilo que acontece é tão bom, que tudo muda de paradigma.

Ficas a flutuar, como se aquilo fosse o melhor do mundo. Como se não soubesses como era possível viver sem o que te aconteceu naquele momento, como se tudo tivesse feito sentido e ficasse perfeito por causa daquilo.

Acontece aquela coisa te faz mudar de paradigma, perceber que o que tinhas, afinal era muito menos do que aquilo que poderias ter…

Há um momento perfeito, em que tudo se encaixa e em que segues noutra direção, sem olhar para trás, sem hesitar. É aquilo que queres, é aquilo que precisas, é aquilo que desejas.

Depois… temos o reverso. A perspetiva muda, mas porque algo menos bom se tornou real.

Entendes que estavas enganado quando pensavas ou achavas que aquilo era o melhor de tudo, e quando perdes, tens a certeza de que nada vai voltar a ser igual. Porque não pode ser… Porque aquilo que viste, que aconteceu, que sentiste, que te fizeram… vai impossibilitar isso.

Hoje, agora, neste momento está tudo bem, temos e somos tudo, mas no momento a seguir, de um momento para o outro, sem esperar e sem saber como, tudo muda, tudo se altera, tudo fica diferente… E por vezes é tão duro que o chão te falha, e só te consegues esbardalhar contra este, sendo “amparado” por ele.

Somos — quase que, embora alguns ajam como se fossem — crianças inocentes, cruéis e egocêntricas; temos o «complexo de deus», e tornamo-nos arrogantes, narcisistas.

Chegamos ao ponto de pensar que conseguimos controlar o que quer que seja, e que as coisas vão ser sempre “em crescendo”, mas a verdade cruel é uma: temos zero de controlo na e sobre a vida. No que acontece, como acontece, porque acontece… e no quando acontece.

O problema, digo eu, é quando as duas, o melhor e o reverso (e vice-versa), se imiscuem, em momentos subsequentes, que te deixam abismado e perplexo com a tua capacidade de mudança de cenário, de adaptação a uma situação que no momento anterior nem sequer imaginavas.

Tal como o pintor que está a acabar a sua obra prima naquele quadro a óleo, quase completo, nos retoques finais, e decide pintar a tela de branco, para um novo começo. Para fazer uma pintura nova… Para recomeçar o que parecia perfeito há uns instantes…

Tudo se resume à importância de um determinado evento, bom ou mau (que muitas vezes depende tão somente da perspetiva com que se olha)… e que ao acontecer e ao ser analisado, com base na informação que temos ao dispor naquele determinado momento, percebemos que o melhor é mesmo mudar de caminho.

Vamos alterando o nosso percurso com base na informação que vai aparecendo à nossa frente, nas situações que nos acontecem e com que temos de lidar, e com base na forma como a analisamos. A diferença está — seja qual for o cenário — na forma como lidas com o que te acontece… Se não formos capazes de nos adaptar, de fazer escolhas, de perceber que não existem cenários perfeitos e onde se ganha sempre, vamos parar de enterrar a “cabeça na areia”, ficar a chorar por leite derramado, ficar a pensar no “e se…”.

A alternativa — mesmo que não seja a melhor decisão — é seguir outro percurso; o que vemos como melhor solução, o que conseguimos aguentar, aquele onde nos conseguimos ver. Seguir por um sítio que não era o que esperávamos, às vezes para lutar, às vezes somente para reagir, às vezes para seguir em frente e outras vezes porque aquilo que aconteceu mudou a nossa perspetiva.

Se consegues ver a mais-valia mesmo no cenário mais negro… já estás a ganhar. E a forma como nos levantamos a seguir ao — tal — esbardalhar, na forma como consegues interpretar o que aconteceu, ser maturo para apre(e)nder e tirar a lição, é o que te torna melhor e mais forte, para o degrau seguinte.

Não existe ninguém perfeito. Não existem cenários perfeitos. Não existem locais, momentos, coisas, … perfeito(a)s. Existe sim uma capacidade de aprendizagem, que vai crescendo consoante vamos vivendo, até ao momento em que estivermos prontos para o “estágio final”.

Não é o princípio e o fim, que te vai tornar melhor ou pior, é o que fazes no durante… porque é o durante que te molda e te torna/prepara para o momento final.

E — por vezes — a mudança, é mesmo o melhor. Porque há sempre algo a aprender, no bom e no menos bom.

Hoje termina mais um capítulo da minha vida (que foi indubitavelmente mais pequeno que o anterior), e sinto-me profundamente grato pela confiança que depositaram em mim, por terem acreditado em mim para algo extraordinário e por me terem dado uma oportunidade inimaginável, que me trouxe até aqui, o sítio onde vou estar hoje, e que está a ajudar no amanhã.

Sair do nosso conforto é tudo menos agradável.

Deixar para trás algo que lutaste e deste muito… é difícil. É muitas vezes desumano, incompreensível, e é enveredar por um caminho tortuoso, onde existe dor e frustração. Até porque não sabemos no que poderá estar na curva seguinte; ela pode ser muito fechada, ou ter um buraco no asfalto, ou… ou… ou…

Mas também pode ser o sítio onde te vais sentir feliz, realizado… Tendo muito menos, onde te sentes grato e feliz.

Tomaste uma decisão consciente?

Decidiste com base na informação que tens?

Consegues sentir-te grato pelo que tens, capaz de andar para a frente e fazer o que é preciso?

Então toca a calcorrear o caminho.

Mais à frente vamos perceber, ou não. O que importa é tomar uma decisão consciente de que aquilo que estás a fazer é o melhor que consegues…

E não… não importa o que os outros dizem, fazem, pensam. Só interessa aqueles que querem estar lá na curva seguinte. Esses sim, vale a pena perder energia com eles… E eu sou — honestamente — um felizardo, em família, amigos, colegas.

Amanhã, há um amanhecer novo. Para mim, para ti, para nós.

Depende somente de nós usá-lo da melhor forma possível, seja qual for o paradigma e o caminho a seguir.