Selva de pedra e de bichos

Joyce Domingos
2 min readJun 20, 2018

Por Joyce Domingos

Santiago Nazarian é um jovem escritor paulistano com um currículo de livros que vem crescendo e agradando ao público a cada lançamento.

Desde sua primeira publicação até aqui, Nazarian vem mostrando amadurecimento em sua escrita. Depois de fases de escrita mais pesada, trash, caso do elogiado Feriado de mim mesmo e Neve negra, e de uma fase como contista com o livro Pornofantasma, Santiago Nazarian lança seu livro mais recente, Mastigando humanos, conseguindo promover o ótimo equilíbrio entre falar de um tema que nas entrelinhas é pesado de uma forma leve e descontraída.

A história deste romance psicodélico, como define o autor, gira em torno da relação de seus personagens — que em sua maioria são animais como o jacaré, protagonista do livro — com a cidade de São Paulo, mais precisamente seu subterrâneo. Não à toa alguns personagens têm nomes de estações de metrô como o cão Brás, o rato Patriarca e o menino Artur Alvim.

Falar do subterrâneo de uma cidade múltipla como São Paulo não é um desafio para Nazarian, homem urbano e em constante contato com o underground: ele já trabalhou com body art, foi dj em uma famosa e extinta balada do underground paulistano e trabalhou produzindo textos para um disque — sexo.

Dar voz às inúmeras vozes invisíveis da cidade (de prostitutas a moradores de rua) é o maior mote deste livro de Nazarian, bem como a ironia de colocar animais selvagens em uma selva de concreto como São Paulo, falando sobre senso de sobrevivência em uma cidade que, sendo tão implacável e constante, não para nunca.

De humor ácido, o livro também traz várias referências à cultura pop, transitando de Kafka (como não lembrar da barata de A metamorfose?) à Eduardo Dussek e conta com ilustrações de Marco Túlio R, que já colaborou com o escritor em outros trabalhos.

Mastigando humanos dialoga com o que há de urbano em nós, sempre em busca do amor que acontece (ou não) em SP.

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