EDGAR ALLAN POE- O GATO PRETO — ANÁLISE DO CONTO

João Ruy Faustino
14 min readMar 6, 2022
Wikimedia Commons

A Espiral de Poe

Edgar Allan Poe tem uma obra bastante extensa, tem centenas de contos publicados, um romance, e é muitas vezes considerado um dos melhores escritores dos últimos dois séculos. Neste texto vou analisar um conto em particular, O Gato Preto, uma história de como um homem entra em um labirinto de paranóia, ira e desespero.

Introdução-

Edgar Allan Poe é inegavelmente um dos escritores mais importantes de todos os tempos, e discutivelmente o melhor escritor americano até a data. Ele reinventou o conto, inventou o gênero de histórias de detetive, contribuiu imensamente para os gêneros de ficção científica e de terror psicológico. O impacto deste autor é inegável e imensurável.

Todavia, apesar de não ser um mega-fã de E.A.P., e muito longe de ser um expert, eu apreciei bastante a leitura que fiz do autor, e interessou-me ao ponto de ler ensaios e pequenos textos biográficos sobre o escritor.

Agora, analisar toda a obra do autor em um punhado de páginas não só é impossível, como até pode ser considerado desrespeitoso. Por isso prefiro bastante mais analisar somente um conto e conectá-lo com o resto da obra do literato (já estou a ficar sem sinónimos de autor). Escolher 1 conto que encapsule toda uma obra é talvez uma tarefa ingrata, porém eu decidi seguir o meu coração e escolher não só o meu conto preferido de Edgar Allan Poe, como também o conto que eu sinceramente acho que melhor resume os temas presentes em todos os outros contos do mesmo: O Gato Preto.

Porém reitero o que disse, resumir todo o trabalho de Poe em um conto é impossível, e pode-se dizer exatamente as mesmas coisas com praticamente qualquer outro conto do autor, por isso eu quero que fique claro que eu não estou a afirmar que O Gato Preto é a magnum opus do Poe ou algo do tipo.

O Gato Preto conta a história de um homem, problemático, mas não menos comum, que lentamente entra em uma espiral de loucura e obsessão.

Plutão-

O conto começa com o narrador a declarar que provavelmente vai morrer dentro de um dia (presume-se que vai ser executado), porém afirma que não é louco, e que por isso vai descrever os acontecimentos que o levaram àquele sítio, tal e qual aconteceram.

“O meu objectivo imediato é colocar perante o mundo, claramente, sucintamente e sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Nas suas consequências estes acontecimentos aterraram-me — torturaram-me — destruíram-me.”

O narrador descreve como sempre simpatizou com animais, principalmente com gatos, e que não houve nenhum antecedente à tragédia. E conta que devido à sua docilidade, rapidamente conseguiu casar e se assentar.

O casal era dono de vários animais, entre eles um gato preto, de quem o narrador gostava muito, chamado Plutão. Porém, lentamente o narrador ficava cada vez mais mal-humorado e irritável, ao ponto de bater na sua mulher.

Claro que o narrador também começou a maltratar os seus animais, todavia com o gato continha-se. Contudo isso mudou quando uma noite, extremamente embriagado, o narrador não se conteve, e arrancou um olho do gato.

“Quando a manhã me devolveu a razão — depois de se terem esvaído os vapores da minha orgia noturna — experimentei um sentimento em parte de horror, em parte de remorsos pelo crime de que me tornara culpado; (…).”

Mas entretanto, o gato continuou a sua vida normalmente, e nem sequer tentou fugir de casa. Porém agora era impossível o narrador simpatizar com o gato. Sempre que olhava para ele, as recordações do seu pecado lhe subiam à mente, e isso tornava-se cada vez mais intolerável. E claro, para fugir disso o narrador afundava-se cada vez mais no álcool.

Desespero-

“Ainda me restava alguma coisa do meu antigo coração para que a princípio me afligisse esta evidente antipatia da parte de uma criatura que tanto me amara em tempos. Mas esse sentimento em breve deu lugar à irritação. E apareceu, então, como para me destruir total e irrevogavelmente, o espírito de PERVERSIDADE. (…) Quem não se surpreendeu cem vezes a cometer uma ação tola ou vil pela simples razão de saber que não se deve cometê-la?”

Em uma manhã, já não suportando mais arrependimento, o narrador enforca o gato.

“Enforquei-o com as lágrimas a saltarem-me dos olhos e o mais amargo remorso no coração; enforquei-o porque sabia que ele me amava e porque sentia que ele não me dera razões de queixa; enforquei-o porque sabia que, ao fazê-lo, estava a cometer um pecado (…).”

E depois o narrador descreve o acontecimento seguinte:

“Na noite do dia em que cometi este acto terrível fui arrancado ao sono por gritos de fogo. As cortinas da minha cama estavam em chamas. Toda a casa era um braseiro. (…) A destruição foi total. Toda a minha fortuna neste mundo desapareceu e daí em diante abandonei-me ao desespero.”

O narrador ainda descreve que, no dia seguinte ao visitar as ruínas da casa, viu uma multidão à volta de um muro que ficou quase intacto, e nesse muro estava gravado em baixo relevo, a forma de um gato, com, adivinhem, uma corda à volta do pescoço.

Paranóia-

Em uma taberna, o narrador depara-se com um gato absolutamente idêntico com Plutão, era do mesmo tamanho, e igualmente preto, bem, não totalmente, a única assimetria com Plutão era que este tinha uma mancha de forma indecisa no peito. De certa forma para se redimir, o narrador leva o gato para casa.

No entanto, isso não aconteceu, o narrador rapidamente absorve um asco pelo gato. A ternura que o gato lhe proporcionava, não lhe era merecida, e o narrador interpretou quase como uma forma de vingança.

A repulsa pelo animal aumentou quando notou que ao gato faltava um olho. Mas enquanto que o ódio do narrador pelo gato aumentava, também aumentava a afetividade do gato pelo dono, só a sua mulher é que tratava o gato com afeição, agora sem o olho o gato era praticamente uma réplica de Plutão. A não ser pela mancha…

“(…) o carácter da mancha branca de que já falei e que constituía a única diferença visível entre o estranho animal e aquele que eu tinha morto. (…) esta marca, (…) era primitivamente de forma indefinida; mas lentamente, gradualmente, quase imperceptivelmente — (…) -, os contornos da mancha acabaram por se tornar rigorosamente nítidos. Era agora a imagem de um objecto que nomeio a tremer- (…) — a imagem da FORCA!”

O Túmulo-

E essa tal coincidência foi demais para o homem, que após a descoberta não se conteve, todo o ódio, raiva e descontentamento reprimidos, pelo gato, pela mulher, por ele, vieram à flor da pele… Em um momento, a tampa saltou, o homem agarra em um machado e desfere um golpe em direção ao gato, porém, em último momento, a sua mulher salta para cima do animal, e leva com a incisão do machado. Morta instantaneamente. E o gato, foragido para sempre.

“Cometido este horrível crime, pus-me imediata e muito decididamente a tratar de esconder o corpo. (…) Resolvi emparedá-la na cave (…).”

Alguns dias depois a polícia veio fazer a eventual busca pela mulher, revistaram a casa, só faltando uma divisão, a cave. O nosso narrador acompanha os agentes ao compartimento vazio, sem suspeitas os agentes preparam-se para sair, mas, confiante,o homem diz:

“- Senhores -(…). Sinto-me encantado por ter podido dissipar as vossas suspeitas. (…). A propósito, senhores, isto é uma casa muito bem construída. — (…). Estas paredes (…), estas paredes são sólidas. — E aqui, (…), bati pesadamente com uma bengala que trazia na mão precisamente na parte do muro atrás do qual estava o corpo da esposa (…).

Um gemido, a princípio surdo e quebrado como os soluços de urna criança, (…) — um uivo — (…).

No momento seguinte uma dúzia de braços robustos atacavam a parede. Esta caiu como um bloco. O corpo já muito decomposto e coberto de sangue coagulado surgiu erecto perante os olhos dos espectadores. Sobre a sua cabeça, (…), estava sentada a horrenda besta cuja astúcia me levara ao assassínio e cuja voz reveladora me entregara ao carrasco. Tinha emparedado o monstro dentro do túmulo!”

Análise-

Antes de realmente começar a análise, quero pedir desculpa por ter enunciado com extremo detalhe o conto, mas achei que seria mais efetivo. Não só por não poder levar em conta que todos os que lêem este texto já tenham lido o conto, mas também assim dá-me mais liberdade para fazer a análise sem ter de explicar o conto pelo meio, algo que acho cansativo e pouco intuitivo. Porém sinto que tenho a obrigação de pedir desculpas pelo alongamento da introdução, espero que valha a pena.

Ora, acho que não é uma surpresa para ninguém que tenha pesquisado sobre o conto, que este é quase que um relato autobiográfico de Poe, e que está entupido de simbolismos psicológicos, etc.

O próprio Poe tinha graves problemas de alcoolismo (principalmente após a morte da sua mulher), e era conhecido por ser uma pessoa bastante melancólica e até mórbida nos seus piores dias. Algo que claramente passa para as suas obras, esta em particular.

Mas este conto é também um dos melhores exemplos de como Poe desenvolve e atualiza a famigerada “Escola Gótica”.

Escola Gótica-

A Escola Gótica, foi uma linha de pensamento literário, que se estendeu de 1764 até ao final do séc.19 (com evoluções). E que envolveu (e desenvolveu) principalmente os gêneros de terror, mistério, fantástico e de certa maneira a ficção científica, e que começa oficialmente com a publicação do livro O Castelo de Otranto, de Horace Walpole.

Os livros, contos e histórias desta escola envolviam normalmente castelos da idade média, donzelas em perigo, uma atmosfera tenebrosa, elementos sobrenaturais, e algum tipo de tensão sexual ou religiosa… A escola influenciaria muito Poe, todavia não em termos de estrutura, já que as histórias apesar de macabras acabavam sempre com finais felizes previsíveis, mas sim em como retratar pecados, o fantástico ou o sobrenatural em contos (influenciou na condição de releitura).

Mas, para entendermos como a escola gótica surgiu, e como depois influenciou Poe, temos de primeiro entender o panorama político e religioso europeu no século XVIII, que após o início do iluminismo, e principalmente após a revolução francesa, estava virado de baixo para cima em somente algumas décadas.

Os princípios de racionalidade, e o alto progresso científico impulsionados pelo iluminismo, levou a uma mudança de paradigma nunca visto até ao momento. Naquela época os progressos científicos, tecnológicos, políticos e até filosóficos eram ainda feitos com bastante lentidão, mas com o iluminismo houve um avanço nessas áreas jamais visto até então, e isso levou é claro, a uma resposta (negativa) principalmente por parte da igreja católica.

Surto de Superstição-

A verdade é que o iluminismo foi para a igreja católica, uma extensão do protestantismo e da primeira revolução científica, que como sabemos enfraqueceram bastante o poder da Igreja. E isso levou com que a igreja começasse a ser cada vez mais resistente a qualquer tipo de mudança, ao ponto de mudança ser considerada uma espécie de pecado.

Iniciou-se assim um surto de superstição, que interpretava qualquer ato ou atitude fora da norma católica como pecado, desde comportamentos sexuais não-conformistas até ao paganismo. Esses “pecados” e ansiedades, extrapolaram-se de tal maneira que tiveram de ser simbolizados. Não é por acaso que os vários relatos de avistamentos de monstros como lobisomens, mortos-vivos e fantasmas por exemplo, vêm desta época.

E também não é por acidente que a supracitada escola gótica surgiu pela mesma altura. As tensões sexuais e religiosas nas obras vinham desse cenário religioso radical, e a única maneira de os autores apresentarem esses pecados nas suas obras era pôr a culpa no demônio ou algum monstro parecido.

Cada uma dessas criaturas místicas significava, ou simbolizava alguma ansiedade ou tipo de pecado. O Drácula, a pura sedução pecaminosa. O Frankenstein, os por vezes horríveis feitos da ciência (e como não se deve mexer com as leis da natureza). O Dr. Jekyll e Mr. Hyde, como um homem moral e bom, pode se tornar um monstro horrível e amoral.

Símbolos-

Essas simbolizações podem ser explicadas pelos arquétipos de Carl Jung, pai da psicologia analítica. Carl Jung notou que vários conceitos de lendas e histórias das mais diversas culturas eram semelhantes, se não completamente idênticas, mesmo quando essas duas ou mais culturas comparadas nunca tivessem tido contato umas com as outras, seja por motivos geográficos ou temporais. E para explicar esse fenômeno, Jung teorizou que esses “símbolos” ou estruturas são meras repetições progressivas de uma mesma experiência, que durante várias gerações ficaram armazenadas no inconsciente coletivo. E assim também se explica o porquê que muitos dos monstros desse surto de superstições, eram já repetições de outros surtos ocorridos durante a idade média.

Os arquétipos não são só símbolos, mas também estruturas, eventos e temas, a mais famosa dessas estruturas é a “jornada do herói”, mas existem várias outras, o apocalipse e a criação são também outros exemplos famosos.

Mas voltando aos monstros, é claro que estes monstros não são qualquer tipo de figuras arquetípicas, eles fazem parte do grupo das figuras de sombra (parece que eu estou a falar de Gormitis), ou seja, representam aquilo que está escondido ou oculto, nos nossos (in)conscientes coletivos.

Subconsciente-

Acho que já estamos no mínimo vagamente familiarizados com o conceito de subconsciente. Espero que sim, porque eu não sou psicólogo e não tenho qualquer autoridade para dar uma definição exata do termo (não confundir com não-consciente), mas acho que simplificadamente, o subconsciente é um conjunto de processos psíquicos de natureza insondável, ou seja, sobre os quais nós não temos controle (subliminares), e é de onde germinam vários medos e paixões por exemplo.

Bem, mas especifiquei isso para dizer que, no nosso subconsciente é onde residem muitas das nossas ansiedades, desejos e medos mais profundos, tão profundos que nós conscientemente nem sabemos sobre eles.

O subliminar está muitas vezes associado com a sombra ou pecado, mesmo que o subconsciente não tenha só a ver com coisas que nós damos um valor negativo, muitas das nossas paixões provêm do subconsciente, mas neste caso vou falar só da parte “sombria” do subconsciente.

Neuroses residem no nosso subconsciente, e, por serem muitas vezes criadas por eventos traumáticos, elas são incompatíveis com o mundo exterior, e por isso temos de controlá-las. E assim elas permanecem na sombra, mas não sem nos apavorar, e exercer constante pressão para chegarem à superfície (consciente).

“Sonhos são realizações de desejos ocultos e são ferramentas que buscam equilíbrio pela compensação. É o meio de comunicação do inconsciente com o consciente.”- Carl Jung

Essa pressão constante de chegar à superfície é também simbolizada em um arquétipo, o arquétipo de sombra. E isso é representado em muitas, muitas, muitas histórias, lendas, contos, etc. mas para dar um exemplo mais famoso e mais literal, o conflito entre a ordem Jedi (lado da luz) e da ordem dos Sith (lado negro da força), usa este arquétipo para simbolizar a luta entre o consciente e o subconsciente (e muitos outros arquétipos, incluíndo a jornada do herói).

Pecado-

Jung diz que nós não devemos tentar reprimir a nossa sombra a todo o custo, mas sim aceitá-la e enfrentá-la cara a cara. Já que ignorá-la ou limitá-la não só não ajuda, como a torna mais forte.

“Aquilo a que você resiste, persiste.” — Carl Jung

Não podemos evitar completamente o pecado, seja no exterior ou no interior, o subconsciente faz parte de nós tanto quanto o consciente, e de alguma maneira nós temos de ter alguma catarse para as nossas emoções reprimidas. Contudo essa catarse tem de ser saudável, controlada, bem direcionada e inofensiva, tanto para nós como para os outros.

Mas, voltando ao conto (que volta), como é que este arquétipo é representado em O Gato Preto?

Acho que com tudo o que já disse, fica já um pouco fácil de fazer as associações, mas o conto não faz qualquer transposição do arquétipo da sombra, aliás, como eu disse, o arquétipo da sombra vem quase sempre acompanhado de um herói (o nosso avatar, a simbolização do triunfo da consciência sobre a inconsciência, do acerto contra a perversão), mas neste conto não há um herói. Aliás, o narrador até diz:

“Quem não se surpreendeu cem vezes a cometer uma ação tola ou vil pela simples razão de saber que não se deve cometê-la?”

“(…) enforquei-o porque sabia que, ao fazê-lo, estava a cometer um pecado (…).”

O narrador, o nosso protagonista, não é um herói (não vence o subconsciente), nem um vilão (não é a representação do subconsciente, e também não é retratado de uma forma vilanesca), ele é simplesmente um homem que se deixou levar a essa situação.

No conto, não existe um triunfo do consciente sobre o inconsciente, acontece o exato oposto. O narrador deixa-se levar pelo álcool, e por um impulso. E comete assassínio, um crime, um pecado…

Gato Preto-

O pecado pelo pecado, o pecado como forma de catarse, mas esta catarse está longe de ser saudável, controlada, inofensiva ou bem direcionada, aliás, nem é uma catarse (só quando o 2º gato desaparece é que ele sente algum tipo de alívio, mas isso não parece ser muito fiável). Quem sabe a razão de o narrador ter cometido tal ato, será que foi por ter sido direcionado a um animal irracional, inferior a um ser humano? O que é que o gato significava para o narrador, o seu eu passado, a frustração com o seu trabalho ou mulher?

O narrador conta que no momento em que pecou, mesmo estando embriagado ou completamente fora de si, ele tinha plena noção de que o que estava a fazer estava errado. A ira, o desgosto e a brutalidade, que estavam no subconsciente do narrador, vieram à flor da pele com o auxílio do álcool.

Mas esses sentimentos não vieram à superfície por nenhuma razão, eles foram direcionados a um símbolo. Que é, nem mais nem menos, o(s) gato(s) preto(s) que dá título ao conto. E claro, não é coincidência que o gato preto é um símbolo de azar e mau-agoiro e que foi perseguido precisamente no surto de superstição do séc. XVIII (e não só).

“Todos têm o seu lado obscuro que — desde que tudo dê certo — é preferível não conhecer.”- Carl Jung

Nem todos os contos de Edgar Allan Poe são de simbolismos, e obviamente que o uso de simbolismos não é a derradeira prova de qualidade ou maturidade literária ou algo do tipo, mas eu acho que este conto faz o uso perfeito desse recurso expressivo, e que, com alguma abstração, consegue-se analisar a obra de todo um autor.

Relato Auto-biográfico-

Como já disse, Edgar Allan Poe também tinha vários problemas, e sabia exatamente como uma pessoa se sente quando ela entra em uma espiral de obsessão e desespero. E vários, se não a grande maioria dos contos de Poe tratam dos sentimentos de culpa, paranóia, ou simplesmente da luta entre o consciente e subconsciente, e isso, misturado com a brilhante prosa e estrutura do escritor, elevam a obra de Edgar Allan Poe para um dos melhores escritores de todos os tempos.

Poe, apesar de ser bastante conhecido em vida, nunca conseguiu atingir o sucesso financeiro que necessitava, e isso deveu-se muito ao seu problema com álcool e jogo. Provavelmente um dos seus maiores feitos em vida (no mesmo ano da sua morte, 1849), foi a publicação de uma coletânea de contos em França (coletânea traduzida por Charles Baudelaire). Pode parecer absurdo hoje mas, devido a um sentimento de superioridade europeu (principalmente francês) para com os americanos, era extremamente raro autores americanos serem publicados na Europa, principalmente em França, centro cultural europeu da época.

Mas felizmente hoje, Poe é devidamente aclamado e respeitado (seja nos EUA ou na Europa), e já teve as suas obras publicadas ao redor do mundo, incluindo óbvio, aqui em Portugal. Uma das publicações do autor em Portugal é da própria Saída de Emergência, com o título Os Melhores Contos de Edgar Allan Poe (ilustrados por 28 artistas nacionais), que, caso estejam interessados em Edgar Allan Poe, recomendo muito.

Caixas de Informação Adicional:

H.P Lovecraft escreveu um ensaio bastante difundido sobre literatura gótica e de terror, intitulado de Supernatural Horror in Literature. Apesar de todas as semelhanças entre Poe e Lovecraft, a principal sendo que os dois eram grandes estudiosos de literatura de terror. O objetivo de Poe era mais em estruturas narrativas de contos, e não o foco em somente um gênero, ao contrário de Lovecraft que não só usa o ensaio para explicar a evolução da literatura de terror, como também para clarificar o famoso conceito de “horror cósmico”, marca registrada do autor. E que, segundo Lovecraft, a expressão máxima do terror pelo menos na literatura.

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João Ruy Faustino

— Portuguese freelancer — Writes for The European Times and Revista BANG! — Former writer for Central Comics and Bandas Desenhadas —