Como é trabalhar em um hostel
Ou, o que você precisa saber se quer trabalhar em um
Algumas pessoas andam vindo me perguntar sobre as minhas mais recentes práticas trabalhando em hostels. Já postei aqui contando qual é o esquema para se conseguir acomodação em troca de trabalho:
Pois agora deixo os meus relatos e conselhos baseados nas minhas últimas experiências tanto como voluntária (work for accomodation) quanto como recepcionista contratada, ambas em Barcelona.
Esteja sempre preparado para ser pau para toda obra (em tempos de LinkedIn, multitarefas)
Enquanto voluntário você poderá ser recrutado para funções baita distintas e missões engraçadas e desafiadoras a cada dia: guiar um grupo de hóspedes até o show de Flamenco (pagar de sabichona da cidade sendo que chegou há duas semanas e fazer o trajeto que seria de 5 minutos durar meia hora porque na verdade você está perdida); resgatar os pregadores infinitos de roupa que caíram no “buraco negro” desses prédios antigos que Barcelona tem; passar horas seguidas limpando janelas de madeira, canos e cantos altos totalmente imundos por motivos de futuras inspeções no hostel (esse foi treta).
Como recepcionista a responsabilidade aumenta e a cada dia sua capacidade de resolver mil tretas por conta própria também. Trocar lâmpada, mexer no aquecedor, arrumar o Wi-Fi, desentupir a pia — e o pior, lidar com overbookings.
Você tem que saber arrumar camas
“Mas tú tá de sarro com a minha cara, né? Lógico que eu sei.”
Eu também achava que sabia deixar uma cama ajeitada. Acontece que qualquer funcionário de hostel, independente da função, tem que ser o mago dos lençóis. Nunca estudei hotelaria mas aprendi com meus atuais companheiros de trabalho que uma cama bem arrumada, toda esticadinha e limpa (deveria ser óbvio, mas sério, nem todos os hostels trocam os lençóis todos os dias) tem uma parcela importantíssima na avaliação final da estadia do cliente.
Você vai aprender que existem mil e uma maneiras e técnicas de arrumar e cada hostel tem o seu padrão. Que às vezes mais vale um lençol sem elástico em uma beliche de baixo do que colocar a sabana de elástico no colchão de cima (dá vontade de sentar e chorar, rs).
Inglês “y otras cositas más”
Por mais que eu esteja na Espanha, no ambiente de trabalho acabo falando muito mais inglês do que espanhol. É indispensável para falar com os mil trutas.
Mas sabe, você vai perceber que tem a maior galera por aí que viaja o mundo sabendo falar apenas o idioma nativo e vida que segue. E aí entra a sua capacidade de se comunicar além da língua: dá-lhe mímica, Google Translator e muita paciência. No final todo mundo se entende. Só que é legal saber falar nem que seja um “bom dia” em idiomas que você não manja nada. Os hóspedes abrem um sorrisão e se sentem mais bem recebidos.
Tem que ter disposição
Esqueça sua antiga rotina sentado o dia inteiro na frente do computador. Vai ter que arregaçar as mangas, calçar sapatos confortáveis e se gabar dos seus braços levemente mais torneados e unhas quebradas ao final da temporada. É por essas e outras que as noitadas loucas muitas vezes são calculadas com dias de antecedência. Para não ter um dia podrão de trabalho físico com ressaca.
Flexibilidade de turnos
No caso dos voluntários é mais tranquilo, mas claro, sempre pode rolar aquela troca de turno parceira com o amigo para conciliar os horários. Já quem trabalha na recepção deve estar sempre consciente de que a qualquer dia pode aparecer um check in tardio às três da manhã e lá você deverá estar, sorridente e pronto a checar os passaportes, realizar os pagamentos e o que mais os hóspedes necessitarem.
Vale para todos: sábados e domingos livres são exceções. Fazendo parte da equipe de um hostel você vai aprender a desfrutar de terças-feiras de folga como se fossem feriados infinitos.
Empatia
A sua experiência como viajante conta muito na hora de ajudar os hóspedes. É importante se colocar no lugar deles e imaginar como eles se sentem diante de certas situações. Você não vai olhar feio para aquele hóspede que deixou o lençol sujo porque passou mal, ou ficar pê da vida com o cara que está te perguntando pela décima quarta vez como se chega ao metrô. Sorria e acene — lembre-se sempre dos seus perrengues já vividos mundo afora.
A verdade é que quando eu estava na metade desse texto pensei em apagar tudo. Cada item merece seu próprio artigo, cheio de exemplos e histórias. Ainda assim acho que não conseguiria transcrever tudo o que aprendo a cada dia. Fica aqui uma tentativa de ajudar um pouco e reduzir a ansiedade dos conhecidos e desconhecidos que vieram me fazer perguntas sobre o tema. Se é só um empurrãozinho que te falta: vem, vai — com gana e sem medo.