Breve reflexão sobre o fazer fotografico.

Juliana Lira
3 min readMar 26, 2019

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Na ultima semana eu comecei o organizar minhas fotos, eu fico fugindo dessa responsabilidade a muito tempo. Da um puta frio na barriga encarar algumas questões. A que mais tem me assombrado é:Mas afinal de tipo de fotografa eu quero ser?

Eu acho que eu nunca parei muito para pensar, quando me dei conta dessa pergunta eu ja fotografava a muito tempo, eu não sabia muito bem o que me motivava, mas eu sempre estava com minha câmera pendurada no pescoço. E ate agora eu não sou capaz de responder essa questão. Eu sempre tive certeza da escritora que eu queria ser, e do que eu queria transmitir através das palavras, mas com fotografa essas certezas tornavam-se um grande borrão inteligível.

Acho que o problema todo começa com essa fragmentação. A Juliana sociologia nunca esteve separada da Juliana fotografa, aceitar essa divisão é crer que eu existe uma separação entre o autor da obra e sujeito que experiência o presente. Minha fotografia é inundada pela forma pela qual eu percebo o mundo, e talvez esteja ai a potencialidade desta arte. Talvez me fosse mais significativo pergunta, que tipo de experiência de mundo eu quero transmitir aos outros e porque isso se faz necessário? A pouco mais de um ano percebo contrastes muito claros entre a idéia do mundo que temos, e a sua real experimentação. Nos acreditamos que conhecemos tudo, independente de termos experienciado ou não, somos possuidores de uma fonte de conhecimento infinita que pode nos permitir ter uma opinião sobre todas as coisas. A internet nos permite conhecer qualquer lugar do mundo ou qualquer obra de arte em segundos basta buscar uma imagem no Google e boom! Ali esta uma biblioteca infinita de imagens e textos. Não me parece absurdo pressupor, por conseguinte, que as imagens que permeiam nosso mundo são as responsáveis por criarem essa ilusão de vivência. Proponho um exercício rápido, quando você pensa Paris qual a primeira imagem que te vem há cabeça? Provavelmente a Torre Eiffel, o Moulan Rouge ou quem sabe a Catedral de Notre-Dame. O que quero ilustrar com esse exercício é que todos nós construimos um imaginário de mundo a partir das imagens que foram sendo atribuídas as coisas. O problema que eu vejo nessa forma de conhecer, é que ela é deveras limitada, e acaba aprisionando os indivíduos a uma forma limitada de conhecer a mundo, distante da realidade.

Por conseguinte, percebo de forma inconsciente eu sempre fugi deste lugar confortável do obvio. Criei na minha imaginação meu próprio jeito particular de olhar as cidades e aqueles que a habitam. Também percebo um prazer por fotografar as pequenas belezas da intimidade, do dia-a-dia e da rotina. Mas também observo os constantes movimentos que faço para tentar me adaptar a um olhar mais dirigido e controlado. Mas este controle, distancia-me daquilo que eu realmente vejo de potencial na arte de fotografar, sua capacidade de colocar em evidências as tensões entre esse conhecimento parcial a a experiência do presente. Aos poucos percebo que a fotografa que eu quero ser busca transmitir uma outra forma de perceber o mundo, não simplicidade do seus detalhes e nas pequenas coisas que se manifestam na comunhão espontânea entre cor, luz e instante.

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