Sul dos trópicos

Juliana Lira
3 min readMar 13, 2019

Nossa potência esta na nossa diversidade, essa força vem da subversão da nossa realidade.

Em dois mil e quinze eu tive meu primeiro contato com a teoria social brasileira, até então eu pensava que independente da sociedade estavamos todos contaminados pela mesma onda racionalizadora. E de fato estamos, mas o que o pensamento social brasileiro me permitiu foi, encarar pela primeira vez, essa perspectiva de um ponto de vista sudamericano. E que revolução.

Foi através dessa disciplina que me apaixonei de vez pela sociologia. Nas ciências sociais acostumamo-nos a viver eternamente buscando uma interpretação social que deem conta de espelhar nossa visão do mundo, mas acabamos muitas vezes nos adaptando a interpretações pré-moldadas de cânones da área.

Pensar a sociedade a partir de uma pespectiva sudamericana, é antes de mais nada colocar a prova tudo aquilo que nos foi naturalizado a séculos. Um exercício de auto-observação, onde os olhos agora se fecham para dentro, para os atos inconciêntes. E se não, antes de mais nada, colocar em questão todas as normais sociais que naturalizamos em nossas vidas.

No impeto dessa descoberta, descidi mergulhar nesse mar de questões. Descobri que estudos sociológicos desenvolvidas a partir de contextos sociais sulamericanos são relativamente novos, das décadas finais do século XX. Não é nenhuma novidade que a academia esteja acorrentada a grandes autores europeus, e que dificilmente os departamentos buscam projetos de pesquisa que só façam referência a pensadores locais. Isso é retrato de uma posição a qual nos sul-americanos, como um todo, fomos colocados. Um lugar de subordinação, de eterna busca pela adequação ao modelo do desenvolvimento prometido pela modernidade europeia. Dedicamos muitos anos de nossa produção académica para tentar justificar nossa posição de modernidade diante do mundo, mas demoramos muito para ver as consequências dessa ideologia na sociedade a qual realmente estávamos construindo com esses alicerces.

Não é de se estranhar que em toda a America do Sul respira-se um ar semelhante, a historia dos países sudamericanos se entrelaça a partir do momento da primeira pegada dos colonizadores europeus em terras tropicais. Nos assemelhamos pela opressão que nossos povos nativos sofreram, e na destruição irremediável de suas bens naturais. De nossas terras saíram o ouro permitiu a expansão econômica europeia e toda sua modernidade. Tivemos nossa fauna e flora assassinadas em nome do progresso. As ditaduras sudamericana vieram para barrar as reformas sociais que tanto assustam os grande poderosos, e desde a redemocratização caminhamos a lentos passos para recolocar tais reforma novamente como uma pauta política. A anos nosso governos vivem tapando buracos e conciliando a disparidade de classe, os índices de pobreza até podem diminuir, mas o de desigualdade permanecem alastrando-se como uma faisca em uma pilha de galhos secos. Até quando vamos acreditar que o padrão de vida que nos é vendido? Mas progresso de quem e pra quem ?

O mito do desenvolvimento é uma farsa, para que poucos tenham muito é preciso que a maior parte da população mundial não tenha nada. E a America Latina é a mãe de boa parte destes recursos pelos quais o merdado os ditos "países de primeiro mundo" orgulham-se de ter construído seu império. Pensar as sociedade de um ponto de vista sul-americano, é olhar o mundo da perspectiva dos dominados, não dos dominadores. A século nossos heróis tem sido assasinados em nome de progresso e do avanço economico. Todávia, este projeto pode ser deverás doloroso. Recontar a historia da América, é contar a historia do sofrimento e da opressão de povos apagados pela história tradicional. É antes que mais nada, reconectar-se com as diversas interpretações de mundo que nasceram de um solo tão fértil, mas que foram massacradas pela colonização e a monocultura.

Nunca me pareceu tão necessário fechar os olhos, e fazer tamanha auto-analise. São exatamente nos momentos nos quais a barbárie mais aparece como destino que pode surgir um sopro revolucionário. Os recursos pelos quais sustentamos esta farsa tem se tornado cada vez mais escassos, e nos, cada dia mais dependentes dos mesmos. Nossa potência esta na nossa diversidade, essa força vem da subversão da nossa realidade.

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