Juliana Monteiro
3 min readNov 8, 2016

Precisamos falar de web: museus, novas tecnologias e pouco dinheiro

Os museus são instituições fascinantes. Não é nenhuma novidade, portanto, tê-los como lugares onde podemos encontrar muitas coisas interessantes para ver, ouvir, conhecer, se apaixonar, vibrar. E também para odiar, chorar, querer ficar sozinho. São lugares não-neutros, apesar de toda a retórica da objetividade, do cubo-branco eternamente persistente.

Nos dias de hoje, vemos cada vez mais essas instituições se envolvendo com as novas tecnologias de comunicação e informação e, com isso, encontrando novas formas de se expressar e apresentar um conteúdo. Seja por meio de websites arrojados, com design extremamente responsivo e acessível, seja por meio de criação de perfis em diferentes redes e plataformas digitais, o fascínio continua existindo.

Afinal, é sempre muito divertido quando nos deparamos com uma obra de arte antiga sendo “remixada” com trechos da diva Beyoncé — como bem demonstra a experiência performática que vem sendo promovida pelo Los Angeles County Museum of Art (LACMA). É novo, é legal e dá aquele senso de ‘refresh’ que sempre dá um conforto-cola para os entusiastas dessa relação mais aberta dos museus com seus acervos.

Mas, apesar de tudo isso, ainda temos um ponto que vale a pena comentar quando falamos da relação web e museus: a realidade, nua e crua, da maioria das instituições. Aqui, não vale citar exemplos consagrados ou cases de extremo sucesso nesse empreendimento que começa com WWW. Não vale falar que o Rijksmuseum, o próprio LACMA, o Whitney Museum, o Metropolitan e por aí vai são amostras do que pode dar certo. São todos cases inspiradores, mas ao mesmo tempo um pouco frustrantes também, já que a maior parte dos mortais trabalha em museus que não compartilham das mesmas condições.

Pois bem. A questão é que, pelo menos no caso do Brasil, temos muito museus de pequeno e médio porte, que estão longe dos grandes centros urbanos ou das capitais, com toda sorte de dificuldades em termos orçamentários, de equipe, de estrutura. Sem website próprio, sem tempo ou sem equipe para gerenciar um perfil no Facebook. Ou, em muitos casos, sem autorização para fazer isso, sem qualquer razão claramente definida além do tão conhecido receio da perda de controle sobre a imagem institucional.

E como falar de uso de novas tecnologias nessas condições?

Obviamente, uma das respostas a essa questão é que o museu pequeno pode viver muito bem sem tudo isso, thank you very much. É verdade. Um museu pode e vai continuar sendo legal, polêmico, tradicional ou maravilhoso apesar da tecnologia. Mas, ainda sim, e se essa instituição quiser experimentar o uso dessas novas oportunidades? Onde estão os cases de sucesso sobre museus que funcionam nos sertões do mundo? Ou será que a tecnologia digital é algo para poucos, sendo dependente de uma estrutura e orçamento que são inalcançáveis para muitos?

Essa pergunta, que tive a oportunidade de fazer hoje durante um evento realizado em São Paulo, teve como outra resposta um caminho que talvez seja o possível: os museus podem fazer uso de tudo isso independente do tamanho, mas precisam definir antes o que querem usar desse universo emaranhado de ferramentas digitais. E, a partir disso, pegar uma bela caneta e uma bela folha de papel, marcar aquela reunião com um bom café e começar a pensar o que se deseja e o que será possível. É o tão popularmente conhecido (e tão na moda) design thinking.

Isso tudo para dizer que existe um pouco de luz no fim do túnel e pareceu-me uma estratégia interessante para compartilhar por aqui. Resta-nos desejar que cada vez mais casos diferentes de museus localizados nos interiores e nas periferias do mundo sejam alvo também da atenção de pesquisadores, da mídia e de nós mesmos, profissionais da área. Afinal, o encantamento é para todos.

Juliana Monteiro

Apaixonada por viagens pelo mundo, patrimônio cultural e pelas possibilidades que a tecnologia nos traz. Escrevo apenas para dar vazão à palavra que urge.