Conversa sobre os livros lidos em 2022

Juliana Viegas
10 min readJan 15, 2023

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Fundo amarelo com texto “Conversa sobre os livros lidos em 2022”. Nas laterais, as capas dos livros “Pensar é transgredir”, “Emma”, “O Velho e o Mar”, “Design Centrado no Usuário”, “Verity”, “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, “O mundo codificado” e “Almoço”.

Retomar o hábito de ler foi uma meta quando terminei a graduação. Agora que vejo isso como algo sólido, estou buscando retomar algo um pouco mais difícil (pelo menos para mim): a rotina de escrita.

Como um pontapé inicial, decidi escrever um pouco sobre as leituras de 2022. Mas por favor, não esperem resenhas. A ideia é ser somente um relato sobre o que pensei e, por vezes, o que senti com alguns livros. Falar um pouco, como falaria no Twitter, se não fosse tanto texto.

Quem já me conhece sabe o quanto os livros são importantes na minha vida. Assim, pretendo começar esse texto falando um pouco do que acredito serem os porquês.

Quem sou

Eu sou a Juliana. Fui apresentada aos livros bem cedo, nem sei dizer quando ou como. Desconfio que tenha sido motivada pelo meu avô, que faleceu quando eu tinha 4 anos. Uma das poucas lembranças que tenho dele é um livro que ganhei de presente: “A Estrelinha Juju”. Ela era uma estrelinha preguiçosa. Eu amei o livro. Carregava para tudo quanto é lado. Tenho até hoje na minha estante, já sem capa. De qualquer forma, sempre me pareceu que a leitura faz parte de quem sou.

Ainda na infância comecei a escrever. Na adolescência cheguei a publicar um conto em uma coletânea. Um péssimo conto. E a primeira coisa que realmente terminei foi minha monografia de Trabalho de Conclusão de Curso. Como escritora, eu vou mal.

Lista dos livros lidos em 2022

Em 2020, pouco tempo antes do início da pandemia, várias correntes no Instagram fizeram sucesso. Participei (em parte) de uma thread proposta pela Tag Livros. Era uma reflexão para o 8 de março.

Print de um story meu compartilhando uma publicação da Tag Livros. Acima da publicação o comentário colocado por mim: “Realizei o desafio proposto pela @taglivros”. O fundo da publicação é azul escuro e contém o logo da Tag no canto superior esquerdo. O título diz “Uma reflexão para este #8M” e lista abaixo “1. Tire da sua estante todos os livros escritos por homens. 2. Observe. Questione. Reflita. Quantos títulos sobraram? 3. Fotografe sua estante e publique nos stories, ampliando a reflexão. E

Digo que participei em parte porque não tirei foto da estante com os títulos, mas contabilizei e postei um story com o resultado disso.

Print de um story meu. Fundo preto e letras em branco. “47 livros ao todo. 9 escritos exclusivamente por mulheres. 3 escritos por grupos ou duplas com ao menos uma mulher. 0 sobre Design (que é a área que atuo profissionalmente). A diferença é gritante. Fiz aqui minha autocrítica e vou me atentar para isso nas próximas compras. Convido você a questionar seu consumo de conteúdo produzido por mulheres. Não precisa ser necessariamente de livros.” Abaixo o @ da Tag Livros.

Nessa época eu ainda não estava listando os livros que lia por ano. No ano seguinte, 2021, conheci o aplicativo Cabeceira, também da Tag Livros, que possui um desafio anual de 12 livros. Realizei o desafio em 2021 e 2022. Neste ano, não consegui concluir a leitura de 12 livros, apenas 11. O último livro, A Morte de Ivan Ilitch, terminei de ler em 2 de janeiro, portanto entrará somente na próxima lista.

Agora estou sentindo falta de um pouco mais. Falta de falar e compartilhar o que senti enquanto lia. Vou listar aqui tudo o que li, mas não me proponho a me aprofundar em todos os livros.

  1. Harry Potter e o Enigma do Príncipe, de J. K. Rowling
  2. O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway
  3. Harry Potter e as Relíquias da Morte, de J. K. Rowling
  4. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação, de Vilém Flusser
  5. O Diário de um Mago, de Paulo Coelho
  6. Design Centrado no Usuário: Um guia para o desenvolvimento de aplicativos amigáveis, de Travis Lowdermilk
  7. Arquitetura da informação e UX: Como salvar as pessoas da overdose de informação, de Thiago Garcia Tamosauskas
  8. Pensar é Transgredir, de Lya Luft
  9. Emma, de Jane Austen
  10. Verity, de Colleen Hoover
  11. Almoço — Uma conversa com Eliane Brum, de Pablito Aguiar

Aqui coloquei os livros na ordem de finalização da leitura. Levem em conta que costumo estar com várias leituras paralelas. Tem alguns livros que deixei de lado esse ano e talvez retome ano que vem, como “O Retrato de Dorian Gray” (Oscar Wilde) e “Carta à Rainha Louca” (Maria Valéria Rezende). E tem um livro que leio um capítulo por ano, bem dizer, que é “O Ponto de Mutação” (Fritjof Capra). Na próxima parte, não vou seguir a ordem cronológica, vou buscar fazer um mapa de comentários que faça sentido para mim.

Livros sobre UX Design e Comunicação

⚠️ Agrupei essa parte em um primeiro título para que você possa pular caso não seja do seu interesse.

O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação (Vilém Flusser) foi um livro que conheci na faculdade de Comunicação Digital. Durante a graduação li apenas alguns capítulos e achei interessantíssimo, por isso retornei para a leitura completa nesse ano.

Minha parte favorita está no capítulo “Imagens nos novos meios”. Em determinado momento, o autor fala sobre “o gesto inaugural da criação de imagens”, narra o contexto sobre os desenhos de cavalos nas paredes das cavernas. Durante esse trecho podemos ler

“Esse raro não lugar (Un-ort) em que se pisa, ali onde são criadas as imagens, na tradição foi chamado de “subjetividade” ou “existência”. Em outras palavras: “imaginação” (Einbildungskraft) é a singular capacidade de distanciamento do mundo dos objetos e de recuo para a subjetividade própria, é a capacidade de se tornar sujeito de um mundo objetivo. Ou ainda, é a singular capacidade de ex-sistir (ek-sistieren) em vez de in-sistir (in-sistieren). Esse gesto começa, digamos, com um movimento da abstração, de afastamento-de-si, de recuo.” — Vilém Flusser, O mundo codificado, editora Ubu

Pra mim, não somente as ideias, mas a forma de se expressar do Flusser é cativante. Gosto muito.

Design Centrado no Usuário: Um guia para o desenvolvimento de aplicativos amigáveis (Travis Lowdermilk) é um dos livros base para a minha área de atuação, o Design de Produtos Digitais, e eu ainda não havia tirado tempo para ler. Tem muita coisa nele que já aplicava no dia-a-dia. Geralmente acho livros desse tipo dificeis de manter a leitura, mas “Design Centrado no Usuário” fluiu muito bem.

Arquitetura da Informação e UX: Como salvar as pessoas da overdose de informação (Thiago Garcia Tamosauskas) foi um livro que encontrei no Kindle.

Durante esse ano, achei importante retornar as disciplinas bases da minha profissão e busquei referências sobre Arquitetura de Informação. Não encontrei o ISBN desse livro para cadastro no aplicativo Cabeceira, então não tenho certeza se foi escrito diretamente como livro ou como dissertação, por exemplo. Na minha opinião, possui um conteúdo para profissionais iniciantes, é básico, mas como era o que estava buscando naquele momento, me ajudou a refletir um pouco.

Harry Potter

Como na pandemia estive trabalhando home office e não podia sair de casa, não existiam muitas formas de lazer. Num desses milhares de dias iguais de 2021 fiquei me perguntando o porquê de não ter lido Harry Potter na infância. Eu sei a resposta. Foi porque estava ocupada relendo Crepúsculo pela décima primeira vez. Por entretenimento, comecei a ler a série em 2021 e terminei os dois últimos livros — “Harry Potter e o Enigma do Princípe” e “Harry Potter e as Relíquias da Morte” — nesse ano. Eu não tenho um comentário relevante sobre eles: era entretenimento. Serviu para eu não enlouquecer e não enlouquecer ninguém a minha volta.

Pensar é Transgredir

Ainda com o resultado da corrente da Tag no pensamento, fui a livraria atrás de qualquer obra da Lya Luft. Era uma autora que já conhecia, pois li “As Parceiras” aos 17 anos. Lembro de, em determinado momento, ter sentido que estava junto à narradora, em sua aflição e com o belíssimo cenário que é descrito. Eu senti e gostei muito desse livro.

Na livraria da rua de trás encontrei diversas obras e escolhi um livro de crônicas, por entender que seria mais fácil conciliar com as leituras sobre Design. Em “Pensar é Transgredir”, Lya fala sobre seu cotidiano e preocupações, algumas partindo para questões sociais.

Foi uma experiência diferente ler algo de não ficção escrito por ela. Algumas vezes fiquei frustrada com algumas colocações que hoje em dia já não são aceitas e me perguntei o que ela pensaria sobre isso agora, se fosse possível fazer uma revisão desses assuntos. Sabemos que infelizmente ficarei com essa curiosidade, visto que ela já partiu. Por isso, me apego novamente a afirmação de que o livro é o retrato de uma época. E, com as poucas obras dela que li até então, eu considero a Lya Luft uma ótima escritora.

Verity

A questão sobre querer ler mais mulheres influenciou a compra de “Verity”. Li que Colleen Hoover estava fazendo sucesso e que a personagem principal do livro era ghost writer. Isso me interessou. Mas ele definitivamente não faz meu estilo. Passei raiva. Li por cima algumas partes.

Emma

No ano anterior havia descoberto “Orgulho e Preconceito”, também de Jane Austen. Procurando algo pra assistir na Netflix, encontrei o filme baseado no livro, assisti e fiquei me perguntando onde estava essa obra durante minha adolescencia. No dia seguinte encontrei um e-book e devorei em 3 dias. Simplesmente adorei.

Depois disso também assisti “Razão e Sensibilidade” e “Persuasão”, mas não cheguei a ler os livros nos quais esses filmes são baseados. Preferi buscar um livro que ainda não tinha adaptação para filme. Foi assim que conheci “Emma” e falhei na busca, visto que existia um filme de 2020 que alguns meses depois estreou no catálogo da Netflix. Minha pesquisa tinha se resumido a essa plataforma e ao Prime Video, que são as plataformas de streaming que assino.

Li “Emma” entre agosto e setembro e o livro despertou em mim diversos sentimentos. Gostei e não gostei de Emma, muitas vezes ao mesmo tempo. Julguei suas decisões pensando no quão errada ela estava quase sempre, mas no final, a simpatia por ela superou as raivas que passei. Harriet é uma personagem por quem só consegui torcer por um final feliz. Ela me pareceu tão pura e ingênua… Por vezes desejei que ela não tivesse conhecido Emma. E o Mr. Woodhouse me lembrou minha família por diversas vezes. Senti muito carinho por essa personagem. Mas preciso dizer que o final me decepcionou um pouco. Li o final em um sábado de madrugada e terminei perturbada com uma informação revelada por Mr. Knightley, mas é preciso lembrar que é um livro de 1815. Ler Jane Austen é um prazer.

Diário de um Mago

Se você ainda não me conhece, confesso aqui que acho o Paulo Coelho uma pessoa interessantíssima. Antes do “Diário de um Mago”, já havia lido “O Alquimista” e “O Zahir”. Esse último foi meu livro favorito por muitos anos. O Caminho de Santiago é um sonho para mim. Para além de possuir ou não uma boa escrita, eu geralmente sou surpreendida por algo em relação a ele. Parece que esse homem é envolto por estranhezas. Estou com uma biografia na estante, ainda não lida.

O Diário de um Mago foi um livro que fui para a livraria especificamente para comprá-lo, visto que minha curiosidade não iria aguentar o prazo de entrega se comprasse online. Eu já sabia que esse tinha sido o livro que Paulo Coelho escreveu quando voltou do Caminho. Eu estava em uma fase de decidir se começava a me planejar, se desistia dessa jornada ou se deveria deixar para depois. E por isso sentia que precisava realizar a leitura naquele momento.

No geral, meu sentimento durante a leitura foi de curiosidade. Mas tiveram momentos que doeram em mim. Algumas partes tocaram fundo em mim, sabendo que eu odeio a solidão. Outras partes só me deixaram apática, sabendo que vai contra o que acredito (e nem estou falando sobre crenças religiosas). Esse livro me carregou junto na jornada. Muitas vezes acordei parada, olhando para o nada e pensando na minha vida, sem ter percebido que interrompi a leitura. Esse livro me fez parar e refletir sobre mim mesma, algo que eu precisava e em geral pago para não fazer.

Almoço

Há anos acompanho o trabalho do Pablito através das redes sociais. Vejo como um trabalho de escuta e interpretação de uma delicadeza incrível. Eu considero o trabalho do Pablito muito necessário.

O livro “Almoço” é uma entrevista em quadrinhos com a jornalista Eliane Brum. Eu a conheci através desse livro. Durante a leitura, me senti junto com eles, na casa de Eliane. A narrativa é montada em torno das coisas simples do dia a dia e achei isso de uma sensibilidade ímpar. Logo de cara, ainda sem conhecer a Eliane profissional, já me identifiquei com Eliane como pessoa, porque temos a mesma comida preferida e ela fala disso com muito amor.

A parte em que ela explica o porquê de ter ido morar em Altamira me tocou intimamente. Seguir o que sentimos que é o caminho certo para nós é algo que me emociona profundamente.

O Velho e o Mar

Lança o barco contra o mar (when you awake inside)
Venha o vento que houver (when you awake inside)
E se, virar
Nada (when you awake inside)
– Rubel

Eu adoro Rubel. E com esses versos me veio a curiosidade sobre um livro que eu só sabia que existia. Não sabia mais nada, nem assunto principal, nem autor, nadinha.

E que soco no estômago que foi. Devorei em um dia e terminei chorando.

Sendo sincera, “terminei chorando” é um grande eufemismo. Li boa parte do livro com lágrimas nos olhos. Cada palavra doía em mim. Terminei arrasada.

Se tem um livro lido esse ano que posso dizer que foi transformador foi esse.

É muito provável que eu siga buscando obras do Ernest Hemingway.

Conclusão

Os dois últimos livros principalmente, “Almoço” e “O Velho e o Mar”, me fizeram pensar que o livro é um objeto de transformação de quem escreve e de quem lê. Sempre tem um texto que nos marca mais, mas o ato da leitura já é tranformador. Inclusive, independe se gostamos ou não do que lemos.

Em 2023 continuo me preocupando em ler mais mulheres, mas agora tenho outro desejo acompanhando. Ele surgiu durante oo curso Vida do Livro (do Daniel Lameira), que finalmente participei esse ano. Desde 2020, quando descobri a existência do curso queria participar, mas a pandemia desacelerou as coisas. O desejo em questão é passar a ler diferentes tipos de literatura. Expandir os horizontes.

E é isso o que quero para nós, estarmos sempre construindo bagagem.

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Juliana Viegas

Escrevo sobre Design, Comunicação Digital, Literatura e Tecnologia.