Kurt Smells Like a Teen Spirit

Jorge Attie
Começo do Fim do Mundo
5 min readOct 12, 2015

Quando o segundo álbum da banda grunge de Seattle, Nirvana, foi lançado em Setembro de 1991, Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl tinham em mente apenas duas coisas: atingir as metas de venda exigidas pela gravadora e arrecadar dinheiro para manter a banda. Entretanto, nenhum deles apostava que o álbum, com a famosa capa do bebê nadando atrás da nota de dólar, iria não apenas mudar a direção do Rock N’ Roll, mas se tornar a voz de toda uma geração. Glória e maldição, que levou o grupo ao topo do mundo e o desmantelou com a morte de Kurt em 1994.

Igual a todos os grandes álbuns da história do rock, “Nevermind” é recheado de clássicos, como “In Bloom”, “Come As You Are” e “Lithium”, mantendo o seu nível do começo ao fim. Mas, talvez, a obra não tivesse atingido a proporção que tomou se a sua faixa de abertura não fosse uma daquelas músicas “soco no estômago”, que não apenas assinam a essência da banda como se tornam um hino. Foi assim com “Enter Sandman” do Metallica, “Sabbath Blood Sabbath” do álbum homônimo, “Welcome To The Jungle” do Apettite For Destruction, dentre outros. Com o Nirvana a história não podia ser diferente, trazendo o single “Smells Like a Teen Spirit” para a entrada do disco.

Mesmo com a letra intimista, característica da maioria das composições de Kurt Cobain, “Smells Like a Teen Spirit” foi abraçada pela juventude. Todavia, um ponto interessante sobre a música é a história de sua origem, que envolve outra figura conhecida da cena punk-rock da época: Kathleen Hanna.

Natural de Portland, Oregon (EUA), Kathleen estudou fotografia na Evergreen State College, da cidade de Olympia, Washington, onde foi convidada por Tobi Vail (baterista) para ser vocalista de sua primeira banda: Bikini Kill, que contava ainda com Kathi Wilcox no baixo e Billy Karren na guitarra.

O primeiro trabalho da banda foi o álbum “Revolution Girl Style Now”, cujo título resumia o seu objetivo: difundir o discurso feminista sob à tonalidade contundente e transgressora do punk rock. Entretanto, o Bikini Kill era um desses grupos cujo discurso extrapola a sua forma de comunicação. O mais importante para elas não era ser uma banda de punk-rock, construir uma carreira musical ou qualquer coisa do tipo, mas sim terem as suas ideias ouvidas, seja pela música ou pelos seus fanzines, que distribuíam ao público quando estavam na estrada fazendo shows.

Conforme o Bikini Kill foi completando turnês e produzindo novas músicas, a banda começou a crescer, juntamente com outros grupos punk da época, como o Nirvana. De fato, as duas bandas eram realmente próximas uma da outra. Tobi — baterista do Bikini Kill — namorou Kurt Cobain por um tempo, e os membros, de maneira geral, eram amigos entre si.

Entretanto, a maneira como Kathleen e Kurt se tornaram amigos é um reflexo perfeito do que eles representavam naquele cenário, e como mundo se comportava (ou ainda se comporta) em relação à posição que essas pessoas assumiam. Enquanto Tobi e Kurt ainda namoravam, Kathleen estava saindo com um cara que acabou se tornando um viciado em crack, e que começou a perseguir ela. Julgada por seu rótulo, Kathleen, apesar de reclamar dessa ameaça constante, não era levada a sério pelas pessoas com quem convivia fora da banda, tratando o caso como uma paranoia feminista, ou qualquer coisa do tipo.

Todo mundo, exceto Kurt.

Como uma forma de proteger a amiga, ele começou a ficar mais próximo dela. Inclusive em uma noite de bebedeira, na qual a cantora, completamente chapada, chega ao apartamento do frontman do Nirvana e escreve em sua parede “Kurt smells like a teen spirit”. Seis meses depois, Kurt liga para Kathleen perguntando se podia fazer uma música com aquilo

Apesar de os fãs, a crítica e o próprio Kurt enxerem a letra de “Smells Like a Teen Spirit” de significados e interpretações, o que se passava na cabeça de Kathleen quando ela escreveu aquilo era algo bem mais simples. “Teen Spirit” era o nome do perfume que Tobi usava. A única coisa que a cantora realmente queria dizer quando escreveu “Kurt smells like a Teen Spirit”, era que o amigo estava com o cheiro da namorada.

Depois do estouro da faixa de abertura de Nevermind — cujo clipe passava de hora em hora na MTV — e do álbum em si, o Nirvana entrou para o panteão das grandes bandas de rock, e o título de rock star acabou caindo, a contragosto, no colo de Kurt. Marcado por sua personalidade sensível e depressiva, o peso de ter se tornado o Bob Dylan de sua geração foi demais para o frontman. Pouco tempo depois do lançamento do álbum, Kurt se entregou de vez ao vício em heroína e à depressão, não melhorando nem mesmo depois do nascimento de sua filha, Frances Cobain. O final disso foi o seu suicídio em 1994.

Já Kathleen Hanna, apesar de não ter atingido o mesmo nível de sucesso que o seu amigo, manteve muito bem a própria carreira. Em 1997 o Bikini Kill acabou se separando, por uma série de motivos. No ano seguinte, Kathleen lança a sua gravação independente, “Julie Ruin”, pensado para ser “algo feito dentro de um quarto de garota”, como a própria autora define. Nesse mesmo ano de 1998, depois de se mudar para Nova York, Kathleen começa uma nova banda com sua amiga Johanna Fateman, chamada “Le Tigre”, que permanece em atividade até 2004, quando a cantora é obrigada a parar por motivos de saúde, que até ela mesma desconhecia. Anos mais tarde ela foi diagnosticada com a doença de Lyme.

Apesar da doença ter interrompido a carreira de Kathleen por mais de cinco anos, ela voltou recentemente a fazer shows com o Le Tigre, além de ter montado uma nova banda: “The Julie Ruin”, que conta com Kathi Wilcox, a baixista do Bikini Kill. Eles já têm um albúm lançado, com o título de “Run Fast” (disponível no Spotify!)

Alguns links interessante sobre a cantora seguem abaixo:
Documentário sobre a vida de Katleen Hanna:

Blog da Kathleen Hanna (muitos textos fodas sobre feminismo, política e etc.): http://www.kathleenhanna.com/category/blog/

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