Avaliando competências na carreira de UX Design: em busca de uma ferramenta prática

Karine Drumond
8 min readJan 19, 2018

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“– Como saber se eu sou uma UX Designer competente? Como saber se eu posso me considerar um UX Designer?”

Esta foi a pergunta da minha cliente de mentoria, um dia destes...um pergunta que angustia muitos designer. Eu também já sofri desta ansiedade. São tantos termos, jargões, novos eventos, tendências e mudanças… e nunca se falou tanto da importância das habilidades dos designers e junto com as novas possibilidades e como está tudo tão em desenvolvimento, bate também ansiedade… como acompanhar tudo isso? O que devo focar primeiro? Ou devo saber tudo? E desde então, tenho pensado sobre as possíveis respostas para esta pergunta aparentemente simples.

O campo do design vem sofrendo uma tremenda transformação nos últimos anos (Veja o último relatório do Designing a future economy 2018). Vinda de uma formação clássica em design (como tantos colegas), eu me formei em design em 2005 (com ênfase em Design Gráfico) e depois de um período experimentando em várias frentes, foi só em 2008 que me encontrei no universo do design de produtos digitais — o que começou a princípio guiada pela minha curiosidade pela Arquitetura da Informação, depois pela Usabilidade e enfim a mudança total na carreira impulsionada pela pós em Design de Interação. De lá pra cá venho explorando o que eu chamo de “design para além do design”, com consultorias para produtos digitais, workshops, aulas em pós graduação, iniciativas empreendedoras e seguindo minha curiosidade por outras áreas dentro da psicologia, desenvolvimento humano, coaching, carreira e negócios. Aqui é preciso dizer uma coisa que tenho descoberto: ao experimentar você pode se perder, mas ao se perder você também pose se reencontrar, em uma nova versão de sim mesmo, uma nova função e até descobrir um novo potencial. Mas esse é o papel do design, não? O design faz isso com a gente, permite ir além, enxergar soluções alternativas, experimentar. Mas e quando a gente se perde nas diversas frentes? E quando a gente vai sendo levada pelas demandas da empresa, da carreira e perde o rumo? Para onde é mesmo que EU quero evoluir? Com tantas novas tendências, mudanças e um mercado em transformação, como retomar o rumo da sua carreira? Como identificar as competências em UX design? Preciso focar minha energia em todas as tendências e disciplinas para evoluir e atingir uma maturidade? E cá chegamos na pergunta desafiadora da minha colega.

E já adianto uma pista: Não, você não precisa saber tudo!

Áreas de influências do User Experience Design (DAN SAFFER)

UX Design: confuso e instigante

O campo de atuação do UX Designer é tão amplo quanto suas influências e transformações. Nos últimos anos cresce a importância e significado do design para diversos contextos e tentar definí-lo e delimitá-lo é tarefa árdua (e improdutiva). Diante disso tudo, como planejar um desenvolvimento de carreira neste campo fervilhante e em profundo movimento?

Em teoria a gente sabe que a área do UX Design é dinâmica, múltipla e abocanha um bocado de conhecimentos, ferramentas e técnicas advindas de áreas bem diversas como psicologia, engenharia, computação, design, comunicação, tecnologia e outras. E é exatamente esta diversidade toda o motivo de tanta confusão e ao mesmo tempo ser tão interessante e instigante. Deixando a ansiedade de lado, na prática a gente sabe que o que acaba definindo ou orientando o conjunto de competências e habilidades do designer é uma combinação dos fatores: ambiente (contexto, tipo de negócio, mercado onde o designer atua), necessidades (da empresa /do contratante / da organização para o qual atual) e visão/propósito de carreira do designer (este me parece o direcionador menos explorado pelos profissionais, talvez pela falta de clareza da própria visão).

Ainda assim, apesar das contradições, eu acredito que é possível traçar as principais áreas de competência em UX design — mesmo que elas estejam em plena mutação. Novas habilidades e demandas surgem a cada instante. A partir de algumas pesquisas (como o artigo da Andrea Pacheco, do Steve Psomas, do Fabrício Teixeira) e adaptações no modelo de Travis, criei um modelo (ainda em estudo) — um resumo com as principais competências em design advindas das principais áreas de influências da disciplina. Por competências, quero dizer os conhecimentos, habilidades e atitudes que compreendem uma determinada área de atuação. No entanto, é preciso alertar aqui que não quero sugerir que uma única pessoa deva ter fluência e competência plena em todas estas áreas. Muito pelo contrário, o amadurecimento do UX design caminha justamente para times cada vez mais complementares e atuações multidisciplinares e colaborativas.

Então o objetivo deste mapeamento é poder esclarecer (para designers, estudantes e também para mim mesma) o que compõem a visão macro das principais competências da área. E espero, que assim, cada um possa identificar seus pontos fortes e também os pontos fracos, optando por complementariedades e não exigir que uma única pessoa tenha 100% de profundidade em todas as áreas. Também penso que uma ferramenta como esta pode ajudar designers a planejar suas carreiras nesta área, identificando suas prioridades de atuação (FOCO) e fortalecendo as competências dentro deste foco ou mitigando alguma fraqueza que possa estar atrapalhando seu desenvolvimento. Raramente um designer terá profundidade e autoridade em todas as competências. O mais comum é ter uma delas como orientador/diferenciador da carreira. Por exemplo, uma pessoa pode ser mais orientada para a pesquisa e o contato com usuários e ter competências básicas de design visual, enquanto outra pode ser muito mais competente em desenvolvimento de protótipos, ser apaixonada por tecnologia e preferir se concentrar nestes pontos de definição das interfaces e interação, mantendo um conhecimento básico sobre pesquisas e psicologia cognitiva. Ou, você pode conhecer um pouquinho de cada coisa, ter uma visão do todo e ser um excelente comunicador e liderar os processos de design dentro da empresa, ou fora dela, atuando como uma facilitador, mentor ou professor. Isto é plenamente possível e até desejável, diante dos benefícios da diversidade de carreiras. Tem espaço para todos.

Portanto, encare o conteúdo a seguir como um mapa de oportunidades de atuação dentro da área.

As competências em UX design e as etapa do design

Acho mais fácil compreender as competências organizadas em um fluxo de processo de design, como organizei na imagem a seguir. Sendo as 4 principais etapas do design: Pesquisa/Insights, Ideação/Prototipação e Testes. Para isto usei o modelo de design proposta pelo British Design Council. E indiquei habilidades de cada etapa. E a competência de comunicação e liderança como um grupo de competências que permeiam toda as outras e independem da etapa.

Imagem 1: detalhes de habilidades e comportamentos de cada área de competência.

A partir das competências identificadas, criei uma adaptação da Roda das Competências (uma ferramenta de coaching), para facilitar o processo de mapear os pontos fortes e fracos em cada competência e traçar as prioridades. A Roda inclui 6 competências: Pesquisa, Insights & Definições, Ideação, Prototipação, Testes, Comunicação e Liderança. *

*apesar do modelo do British Design Council agrupar Prototipação e Testes na mesma etapa, acredito que separar os dois em grupos de competências diferentes facilita o processo de mapear os pontos fortes e fracos de cada uma destas grandes áreas.

Como usar a Roda das Competências

Baixe o arquivo da Roda para impressão aqui.

Quando uso a Roda em processos de mentoria e coaching, em outro contexto, costumo usar a ferramenta como facilitadora de comunicação e descobertas. As pessoas costumam dizer que ajuda a organizar os pensamentos, clarear os pontos fortes e identificar o que é realmente importante naquele momento da carreira. Também vejo as pessoas usando a roda de tempos em tempos como forma de comparar o progresso e desenvolvimento.

A roda possui as 6 áreas de competências. Cada área pode ser avaliada em uma escala de 1–10. Esta é apenas uma referência para auto avaliação, portanto, não é exata. É uma ferramenta para avaliação comparativa, qualitativa e subjetiva.

Orientações

  1. Escolha uma das 6 áreas. Leia atentamente as habilidades e comportamentos que envolvem aquela área (descritos na imagem 1). Reflita sobre seus pontos fortes e fracos nesta área específica.
  2. Dê uma nota de 1 a 10 para esta área, sendo que:

0 — Eu não sei nada sobre esta competência
3 — Novato: Eu tenho conhecimento bem básico de alguns conceitos mas é mais teórico que prático
5 — Novato evoluindo: Eu tenho conhecimento básico das habilidades, coloco em prática alguma coisa mas preciso de supervisão
7 — Competente: Eu já coloco em prática as habilidades sem precisar de supervisão
10 — Proficiente: Já oriento outros nesta competência / Eu pesquiso novas formas de evoluir esta área.

3. Avalie

Agora que você preencheu sua roda, como ela está? Em qual área você tem maior competência? Onde estão os seus pontos fortes? Há alguma outra habilidade de alguma outra área que poderia fortalecer sua maior competência? Por exemplo, se você é excelente em pesquisa, será que melhorar suas habilidades de escrita pode ajudar a comunicar melhor seus achados? E o mais interessante:

Onde os seus pontos fortes encontram as necessidades do mercado ou da organização que você trabalha?

Alguns cenários que podem surgir das combinações de seus pontos fortes:

  1. Liderar Pesquisas em Design (para quem tem ponto forte e gosta de conversar com pessoas, coletar dados, estudar, aprender técnicas de pesquisas…)
  2. Facilitador de processos colaborativos usando o design (pontos fortes em comunicação, liderança, lidar com pessoas, pesquisas, trabalho colaborativo, processos criativos…)
  3. Designer de Produto (pessoas que são mais focadas em especificar produtos, definir estratégias, visão a médio, longo prazo, wireframes, design de interfaces, etc)
  4. Desenvolvedor designer (gosta de experimentar com tecnologias, tem pontos fortes em prototipação, desenvolvimento, interfaces, pesquisa novas tecnologias..)
  5. [Invente aqui sua própria combinação de pontos fortes].

A verdade é que não precisamos nos prender a um modelo único de atuação. Viva a diversidade e pluralidade! E sorte a nossa que atuamos em uma área tão mutante e interessante. Podemos nos reinventar de tempos em tempos. Passamos muito tempo focando no que ainda nos falta. Mas o que é que você já construiu de pontos fortes no design? Direcionar sua carreira amparado nas suas forças e guiado pela sua curiosidade pode ser o melhor que você tem a fazer, mais ainda quando a confusão ou ansiedade bater.

Próximos passos

  • Estabeleça suas prioridades. Das 6 áreas da Roda, qual ou quais você gostaria de se desenvolver mais? Onde está a sua curiosidade atualmente? Quais assuntos te interessam e você gostaria de aprender mais?
  • Como você pode reforçar, potencializar e usar mais seus pontos fortes? Escreva algumas ações. Ex.: criar conteúdo, estudar mais detalhes sobre tal assunto, ensinar esta habilidade para meus colegas, criar um workshop ou palestra … são alguns exemplos de transformar o bom em ótimo.
  • Dê uma nota futura. Para cada área que você avaliou, dê uma nota para onde você gostaria de estar no futuro. Qual a nota você gostaria de se dar daqui 6 meses? E 1 ano?

Nos próximos artigos, pretendo escrever mais sobre carreira. E para isso, quero contar com sua ajuda. O que você gostaria de ver nos próximos posts? Me conta também o que você achou desta ferramenta! Ela ainda é um estudo e preciso muito do seu feedback :)

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Karine Drumond

Investigando o "Ux" do UxDesign. O fator Humano, no Design para produtos, serviços e negócios digitais. karinedrumond.com #uxresearch #carreira e #pesquisa