João Victor
16 min readJun 5, 2023

PSICANÁLISE, VEGANISMO E CAPITALISMO

Essa redação pretende explicitar temáticas que fazem parte do nosso dia a dia, sendo elas a psicanálise, veganismo e capitalismo. Num primeiro momento parecem coisas totalmente distintas e sem conexão alguma, mas tentarei nessa dissertação demonstrar um elo que une esses três pontos a serem abordados e seus modos de funcionamento. Desde já, agradeço a você que se interessou e continuará a leitura do texto a seguir. Por último e não menos importante, o texto redigido não tem a intenção de julgar e nem obrigar alguém a mudar seus hábitos, mas apenas levarem todos os que lerem a refletirem sobre seus pensamentos e suas ações, e avaliar se estão condizentes com seus verdadeiros valores internos. Assim como Freud (1917) não quero despertar convicções, apenas engendrar uma estimulação na vida mental e comportamental e abalar preconceitos, preconceitos estes ainda muito presentes quanto ao veganismo. Também vale ressaltar que ao final deixarei as fontes usadas como base para me direcionar, como livros e documentários.

Nossos valores e condutas que possuímos influenciam em nossas decisões e ações nos dias atuais, são valores impostos e internalizados desde a nossa mais tenra infância e ao longo de todo nosso desenvolvimento passados por nossos pais ou cuidadores, assim como pelo nosso ingresso na sociedade e ainda se fazem presentes nos dias de hoje, alguns mais fortes do que outros. Nossos hábitos alimentares e nossos hábitos consumistas na forma em que investimos nosso dinheiro diz muito sobre quem somos. De acordo com Freud, quando nascemos nossa psique é composta apenas pelo Id, regida pelo princípio do prazer. Somos movidos pela pulsão de vida e autoconservação a buscar o seio de nossa mãe ou cuidadora para poder obter o alimento e nos mantermos vivos. E podemos dizer que o Id é sempre infantil, mesmo quando chegamos a fase adulta pelo fato de que ele continua em constante funcionamento e operando em nosso sistema mental, nos influenciando, mas tendo que entrar em acordo com o Ego e Superego. Apesar dessas instâncias surgirem posteriormente com o intuito de nos ingressarem ao princípio da realidade e a vida em sociedade, a busca pelo prazer ainda é um impulso muito forte e que influencia em nossas decisões ao longo da vida, as vezes nos beneficiando e as vezes nos proporcionando uma pequena ou grande dose de desprazer, afinal, não podemos ter tudo e essa castração simbólica já se torna presente em nossas vidas desde muito cedo.

Também existem os mecanismos de defesa que são operados pelo nosso aparelho psíquico com o objetivo de amenizar o desprazer causado pelos conflitos que enfrentamos em nossas vidas. Mas através deles também podemos continuar mantendo hábitos maléficos, em muitos casos sem nos darmos conta disso. Abordarei alguns dos mecanismos de defesa que acredito serem usados pela população que consome alimentos de origem animal e também por aqueles que trabalham nas grandes indústrias que financiam e fornecem esses alimentos. Antes disso, explicarei como é a vida de alguns desses animais criados em fazendas industriais, que já são preparados para uma vida de servidão e exploração desde o seu nascimento até o seu abate, e como todo esse encadeamento de eventos impacta negativamente para a degradação dos recursos ambientais e na nossa nutrição. De forma resumida, os tópicos a serem abordados serão:

  • Como é a vida dos animais criados e abatidos para consumo humano.
  • Impactos negativos no meio ambiente e na nutrição com alimentos de origem animal e derivados.
  • Mecanismos de defesa utilizados pela população onívora e pelos donos e funcionários das grandes empresas alimentícias.

A vida dos animais criados para consumo humano:

Alguns documentários apresentam investigações que foram feitas em diferentes fazendas industriais de diferentes países e como é o funcionamento de todo o processo realizado, dos animais que chegam de outros locais e daqueles que constantemente nascem através da realização da inseminação artificial incessante, principalmente com porcos e vacas. No caso das vacas, elas são escravizadas por um tempo mais longo do que os bovinos e suínos devido ao uso que os técnicos podem fazer do seu leite para o uso pessoal e da população que consome laticínios. A reprodução forçada faz com que as vacas produzam mais leite em seus úberes e gerem outro animal para passar pela mesma escravização, perpetuando o processo dessa indústria cruel, que diferentemente do que nos mostram os comerciais, está longe de existir a “vaca feliz”, ou qualquer outro animal feliz criado para ser explorado e abatido. No livro Galactolatria: mau deleite, a autora Sônia T. Felipe nos expõe de forma descritiva um pouco desse processo de escravização sexual das vacas:

“Nascido, o vitelo fica com a mãe no máximo por dois dias. Quando o levam, ela muge desconsolada por até duas semanas, na expectativa de que ele a reencontre, já que ela está presa à baia de extração do leite. Imediatamente após esse “desmame” abrupto, de um bezerro que mal pôde ser amamentado, a vaca é levada à esteira de extração do leite. Pelos próximos três meses, suas glândulas mamárias, estimuladas pela dieta ou por hormônios injetados diretamente nelas, geram grande quantidade de leite. No entanto, na ausência do bezerro, mesmo injetado com hormônios sintéticos, há um momento no qual o organismo entra em recesso na produção de leite. É hora de outra descarga hormonal. Ela volta a ser inseminada”.

Há veganos que partilham da opinião que a ingestão de leite é ainda pior que a ingestão de carne animal, devido ao processo mais longo e cruel que é perpetrado na vida das vacas, na quantidade absurda e antinatural de leite que é extraída e com as gestações forçadas e ininterruptas, desgastando seus corpos e o funcionamento singular de suas mentes, até que cheguem à exaustão total e assim, serem vendidas e abatidas para também se tornarem carne bovina, assim como os touros. Durante a extração do leite, as vacas são obrigadas a ficarem em pé num chão de concreto ou aço durante várias horas causando degeneração do tecido das patas das vacas (laminite) ou tendo suas glândulas mamárias inflamadas (mastite) por decorrência do maquinário que realiza a retirada forçada do leite de suas tetas. Eis o motivo de veganos e alguns vegetarianos não consumirem laticínios, além da renúncia com a carne. Antes de dar continuidade, pode ser útil explicar as diferenciações de veganos e as subcategorias de vegetarianos. Veganos não consomem nenhum alimento de origem animal ou derivados, assim como não usam roupas e acessórios que também seja de origem animal, como o couro, e também procuram obter produtos que além de considerado vegano também seja de uma empresa que não realize testes em animais e tenha pacto com outras que realizem; De acordo com Felipe (2016), essas pessoas geralmente se tornam veganas a partir do momento em que tomam ciência do sofrimento infligido aos animais na produção de alimentos, espetáculos, moda, cosméticos, medicamentos e outros produtos químicos. Já os Vegetarianos podem ser enquadrados em:

  • Vegetariano estrito: retira de sua alimentação todos os alimentos de origem animal e derivados – assim como os veganos -, eliminando a carne vermelha/branca, laticínios, ovos e mel.
  • Ovolactovegetariano: retira todo tipo de carne mas continua a consumir ovos e laticínios.
  • Lactovegetariano: retira todo tipo de carne e ovos mas continua a consumir apenas laticínios.
  • Ovovegetariano: retira todo tipo de carne e derivados mas continua a consumir apenas ovos.

Vale ressaltar que além das vacas, outros animais também passam por processos semelhantes de exploração e crueldade. As porcas, por exemplo, são confinadas a um espaço minúsculo onde são incapacitadas de se moveram adequadamente, ocorrendo em muitas vezes a morte de seus filhotes por esmagamento. Alguns filhotes têm seus rabos e dentes arrancados sem nenhuma anestesia, e quando aparentam algum defeito físico logo são descartados como lixo e de forma cruel, alguns sendo espancados ou tendo suas cabeças jogadas contra a parede ou uma barra de metal. Essas cenas que são filmadas por investigadores de instituições disfarçados ou por sujeitos de grupos organizados que arriscam a própria vida adentrando esses lugares onde podem ser presos ou até mesmo mortos, para revelarem as atrocidades que acontecem por trás dos muros. Isso é apenas uma apresentação breve de tudo o que acontece com os mais diversos animais de fazendas industriais, e essas explorações também se enquadram para outras espécies, como aves e peixes. Outro mito muito disseminado é a afirmação de que “peixes não sentem dor”, o que já foi refutado e comprovado por estudos científicos de que eles possuem um sistema nervoso e isso faz com que eles possam sentir dor, e indo além, peixes são animais inteligentes e que possuem formas de funcionamento complexas entre seus grupos e também demonstram curiosidade. Se alguém ainda usa o argumento da ausência de dor para comer peixes, engana-se. E é recorrente ser divulgado casos de trabalho forçado no mar por embarcações clandestinas, como por exemplo na Tailândia. A escravidão no mar opera abaixo do radar, o que facilita a vida desses criminosos. Há casos em que até mesmo as autoridades locais estão envolvidas no encobrimento dessas condutas criminosas. Aproveitam-se da mão de obra escrava para capturarem um maior número de peixes e outros animais marinhos e poderem comer e vender, gerando lucros que nunca são repartidos com esses prisioneiros e muito menos aos seus familiares, que desconhecem a gravidade da situação. Não abominamos os pequenos fazendeiros que retiram leite para seu próprio consumo e nem os pequenos pescadores que realizam sua pesca para a própria sobrevivência e de sua comunidade, sendo que alguns arriscam a própria vida adentrando cada vez mais o mar na busca por alimento. Não os vemos como monstros e nem os culpamos por todos os males que são infligidos nos animais em nível mundial e é um erro dirigir o olhar para eles quando na verdade os grandes culpados e perpetradores da crueldade animal e destruidores do meio ambiente são as grandes indústrias.

Impacto ambiental e nutricional:

Diversas áreas florestais são exploradas e destruídas para a criação de um local onde serão criados animais para abate, causando de forma recorrente o aumento no número de áreas desmatadas e contribuindo para o aquecimento global, mudança climática e a degradação de outros recursos ambientais. A agricultura é uma das maiores responsáveis por todas as consequências citadas anteriormente. Inúmeras pesquisas também apontam que a pecuária é também uma das maiores consumidoras de água do mundo, com o destino hídrico indo para a dessedentação animal e a limpeza realizada nesses locais – costumeiramente imundos – e também a irrigação para a produção de soja que posteriormente é dirigida para o preparo de rações para animais que serão abatidos. Voltando ao assunto do leite por uma perspectiva nutricional, Sônia T. Felipe, no livro Galactolatria: mau deleite, nos expõe como somos enganados através dos meios de comunicação:

“A questão, em resumo, é: tomar leite para quê? Por que sobrecarregar os órgãos digestórios com uma tarefa sem sentido e nociva para a saúde deles e do resto do organismo, incluindo o cérebro? Enquanto fixamos nossos olhos no “ponto cego”, isto é, na “marca” do leite e dos laticínios, sem investigar seu real teor nutricional, continuamos assediados pelo bullyng da propaganda. Acreditamos que sem ingerir leite e laticínios não teremos saúde. A verdade está no polo oposto”.

Somos habituados ao leite desde o nascimento, quando ingerimos o leite materno de nossa mãe, movidos pela pulsão de autoconservação com o intuito de nos mantermos vivos. Após o desmame, com frequência é comum que os pais ou cuidadores passem a alimentar a criança ainda com leite, mas dessa vez, o leite de vaca, juntamente com outros produtos em pó para que o gosto fique mais agradável ao paladar. Continuam a tomar leite mesmo na idade adulta induzidos pela adicção ao leite causada pelos opioides, e não por alguns nutrientes presentes no leite, nutrientes estes que também podem ser encontrados em outros alimentos vegetais.

Alguns alimentos que são preparados e em alguns lugares até geneticamente modificados, como os cereais, são produzidos para depois se tornarem ração para esses animais de abate, como o boi, a vaca, as galinhas e os porcos. Se fosse destinado apenas para o consumo humano, poderia alimentar uma parcela enorme da população nacional.

“(..) o que é dado às vacas norte-americanas poderia alimentar uma população de 200 milhões. de humanos, quase 60% da população humana daquele país. Esse cálculo leva em conta apenas o alimento dado às vacas usadas para extração de leite. Se somarmos o alimento dado diariamente aos animais sustentados para a produção de carnes (bois, porcos, galinhas, perus, cabras, ovelhas, cavalos, coelhos etc), o consumo de alimento desviado do estômago dos humanos para o desses animais atinge proporções estratosféricas. E a conversão que os animais podem fazer, da proteína vegetal em proteína animal, é baixíssima, se comparada com a conversão que os humanos podem fazer da proteína vegetal em proteína necessária à sustentação de seu próprio organismo. Só a garantia de lucros para os empresários do setor de carnes e leites justifica tal irracionalidade no emprego de alimentos ao redor do planeta”.

Além disso, o tipo de alimentação que é dada as vacas impactam de forma negativa em uma tríade: a saúde dos animais, a qualidade do leite e, consequentemente, o sistema imunológico e a saúde dos indivíduos que o consomem.

“(…)serragem coberta de amônia e penas, jornal picado [incluindo a tinta tóxica dos quadrinhos de domingo e das propagandas], ‘feno plástico’, lavagem processada, sebo inaproveitável, excremento de galinha, pó de cimento, raspas de papelão, sem falar dos inseticidas, antibióticos e hormônios. Aromas artificiais são adicionados para levar os pobres animais a comerem essa matéria. (…) Esses componentes da “dieta” das vacas são ingredientes inseparáveis do leite”.

“Devido à herança genética, é provável que, na maioria dos brasileiros, cesse a produção da lactase, a enzima que digere a lactose, após o desmame. Para agravar o quadro, a pasteurização do leite destrói suas enzimas naturais, necessárias para a correta digestão e absorção da gordura, das proteínas e de seus outros nutrientes. Ao impor a politica da merenda escolar, o Ministério da Educação não determina que as crianças sejam examinadas pelo Ministério da Saúde para verificar se cada uma delas tem, ou não, persistência na produção da lactase; se têm, ou não, resistência para digerir a caseína, a proteína do leite que fomenta o crescimento de células cancerígenas, conforme pesquisas levadas a efeito por Collin T. Campbell e Thomas M. Campbell ll, publicadas em 2006, no livro O estudo da China. Mal digerida, a caseína, a mais concentrada proteína do leite, forma peptídeos que circulam como betacasomorfina-7 e atrelam-se aos receptores de opioides naturais do cérebro, acentuando ou mesmo desencadeando distúrbios como os da hiperatividade, ou déficit de atenção, autismo, esquizofrenia e indisposição abdominal generalizada que retarda o desempenho cognitivo”.

Com toda essa mistura grotesca que as vacas consomem, antes mesmo de afetar nosso organismo ao ingerirmos o leite, já é gerado um impacto agressivo no meio ambiente com os gases de efeito estufa. Felipe (2016) informa que o gás metano é 23 vezes pior que o dióxido de carbono. Esse gás é formado no trato digestivo do gado alimentado com grãos, cereais e lixo orgânico, em vez de gramíneas e capim, que a espécie bovina evoluiu naturalmente para digerir. A expulsão do gás ocorre pela boca e pelo ânus. De acordo com Michael Abberton, do Departamento do Meio Ambiente, Alimentos e Negócios Rurais Britânico, uma vaca usada para extração de leite expele, em média, “entre cem e trezentos litros de gás metano por dia”. Fica ainda pior quando pensamos na quantidade absurda de vacas que são amontoadas num mesmo local e recebem uma alimentação totalmente antinatural para elas, a soma desses gases chega a um nível elevado. Felipe (2016) salienta que, ao invés de culparmos a vaca por esse processo, da qual ela não tem culpa e é forçadamente a comer o que não pode digerir direito, é preciso questionar a demanda de leite e laticínios, se não quisermos ter a nossa assinatura na ruina final do planeta. Isso sem falar nas toneladas de excrementos que são geradas e descartadas de forma inadequada pelas fazendas industriais, poluindo o meio ambiente e atingindo locais em que residem água potável da qual nós consumimos, mas nada disso vem na marca e na caixinha do leite, o “ponto cego moral” do consumidor.

MECANISMOS DE DEFESA DO APARELHO PSÍQUICO:

Chegamos agora aos processos mentais que as pessoas usam para continuar nas indústrias de carne e leite e por parte daqueles que consomem. Abordarei 3 mecanismos de defesa nesse último tópico, que serão Idealização, Recusa e Racionalização. Vale ressaltar existem outros, mas estes se encaixam de forma mais adequada a temática e são utilizados na maioria das vezes de forma inconsciente, ou seja, sem que o sujeito se de conta.

  • Idealização: A idealização é um componente presente em nossa vida antes mesmo do nosso nascimento. Ao longo de todo processo enquanto estávamos sendo gerados no ventre de nossa mãe, nossos pais já nos idealizavam, de forma a pensarem como gostariam que fossem nossas características físicas, o tipo de conduta que eles gostariam que tivéssemos no futuro ao se tornar adulto, a faculdade e o emprego em que vamos ingressar. E também há situações que passamos em nossa vida em que idealizamos, o trabalho que desejamos ter e como é a pessoa pela qual estamos apaixonados, por exemplo. As idealizações podem ser boas ou ruins, dependendo da quantidade de investimento libidinal que fazemos a um objeto social (pessoas ou coisas) e a quais ações elas podem nos conduzir. No caso do consumo de carne ou laticínios, tendemos a acreditar de forma convicta no que um profissional alimentício está dizendo sobre esses alimentos, reforçando apenas sobre os nutrientes que estão presentes – sem especificar sobre os malefícios que podem vir acompanhado pela ingestão, em que os contaminantes podem superar os benefícios dos nutrientes. Idealizamos de forma superestimada um profissional (ou determinado alimento) sem nos questionarmos e sem nos aprofundarmos no assunto através de outros profissionais e outras fontes de informação, onde corre-se o risco de se cair numa credulidade escrava. Devemos aprender a questionar mais.
  • Recusa: Um mecanismo de defesa muito comum e também caracterizado como um dos processos da negação, mas ocorre de forma parcial e menos agressiva. Na negação, o alienamento da situação em que o sujeito se encontra presente é total. Por exemplo, uma criança tinha um cachorro que amava muito e infelizmente acaba por morrer de causas naturais ou um acidente. Mesmo que os pais expliquem o ocorrido, pode acontecer de a criança continuar a colocar comida e água no pote do animal, com a esperança inconsciente de que ele esteja vivo e reapareça, negando assim a situação real por ser um evento traumático e desprazeroso. Na recusa o sujeito nega parcialmente a realidade, mas apesar de tentar enganar a si mesmo e o entendimento da verdade, mas em seu âmago, em seu interior, ele sabe que essa verdade existe. É o que acontece com as pessoas que acabam sendo conscientizadas de todos os males ocorridos aos animais, e como os alimentos que veem destes mesmos animais podem causar diversos prejuízos ao seu funcionamento orgânico, mas que ainda prefere continuar a consumir, como que “esquecendo” sobre o impacto negativo da ingestão desses alimentos e/ou sempre ressaltando de forma incisiva para si e para os outros os benefícios que são proporcionados pelo consumo animal.
  • Racionalização: Um mecanismo com uma utilização mais frequente de forma consciente. O sujeito visa criar um encadeamento lógico de eventos e situações complexas que inicialmente são incompreendidas por seu psiquismo, em que cria-se um argumento racional e lógico para dar cabo da interiorização desses conteúdos conflitantes. Os consumidores e os fabricantes e comerciantes da carne e do leite elaboram todos os tipos de argumentos possíveis e os tentam embasar em algo cientificamente comprovado para poderem dar continuidade no consumo e na fabricação e venda desses produtos, de forma a aliviar e apaziguar a má-consciência sobre a própria conduta e a perpetuação da mesma. Aqui, entro numa conexão com o sistema capitalista. É um sistema explorador e opressor, que também usufrui de forma cruel e intensiva. Em 1999 foi publicado um panfleto vegano socialista em que criticava o modo do sistema capitalista em lidar com seres humanos e animais. Um site que ressalta trechos importantes desse panfleto escreve: “O panfleto mencionava como as indústrias de exploração animal foram fundamentais para o desenvolvimento do capitalismo. “A evidência histórica sugere que não só é o capitalismo dependente de acumulação primitiva cruel, mas a acumulação primitiva depende da indústria animal”, afirma o texto. “Marx é claro em dizer que foi ‘o aumento do preço da lã’, que tornou rentável transformar ‘terra arável em pastos para ovelhas’. As pessoas foram expulsas de suas casas para dar lugar à ovelha.” E continuam: “O panfleto argumentava que, em termos práticos, não poderia haver tal coisa como o capitalismo vegano. “É claro que é possível imaginar um modelo teórico do capitalismo que não depende de animais, mas isso só serve para confundir uma abstração idealizada com o capitalismo realmente existente que surgiu como resultado de processos históricos reais”, diz o texto. “Da mesma forma nós poderíamos imaginar um capitalismo sem racismo ou opressão às mulheres, no entanto, esses dois têm desempenhado um papel crucial na manutenção da dominação do capital e da continuação de sua existência apesar das mudanças superficiais que podem sugerir o contrário”. Podemos ver o quanto esse processo da racionalização também se enquadra com a idealização, tudo para que encontrem formas de continuar mantendo esse mesmo tipo de sistema e o mesmo tipo de alimentação, para que não seja necessário haver mudanças, pois como sabemos, mudar dói. Mas Sigmund Freud é categórico em afirmar que: “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda”. Sônia T. Felipe expõe de forma magistral a relação da indústria de laticínios e a sede de capital: “De onde vem a autoridade que apregoa como benéfica a ingestão de três copos de leite por dia? Benéfica, para quem? Para a vaca, da qual o leite é extraído, tal consumo não é benéfico. Para o vitelo, arrancado da mãe logo após nascer, também não. Para os consumidores humanos sem as enzimas capazes de digerir essa matéria, não é. Para quem prefere se alimentar com produtos sem pesticidas, metais pesados, hormônios, pus, antibióticos, proteínas e açúcar nocivos, não é nada bom. Então, só pode ser bom mesmo é para os galactocratas, os que produzem e comercializam o leite. A venda direta de leite pelos produtores, no Brasil, movimenta pelo menos 20 bilhões de reais por ano (R$ 0,60 a 0,75 por litro). Ingerir mais leite vai fazer muito bem para a saúde dessas cifras”.

Por fim, agradeço a você que leu até aqui e espero ter contribuído de alguma forma a ter lhe transmitido uma pequena dose de conhecimento a respeito de coisas tão presentes em nosso cotidiano e que não percebemos. Reitero que não pretendi com esse texto a lhe obrigar a mudar sua relação com a comida, mas tenho apenas o intuito de conscientização e desmistificar alguns pontos a respeito do veganismo. Para concluir, deixo mais um trecho retirado do livro Galactolatria: mau deleite:

“Não existe “leite de vaca feliz” à venda. Se tal leite existe, sua produção é doméstica, não destinada ao mercado”.

Livros e documentários de recomendação:

  • Galactolatria: mau deleite – implicações éticas, ambientais e nutricionais do consumo de leite bovino (livro)
  • Alimentação sem carne: um guia prático para montar sua dieta vegetariana com saúde (livro)
  • CowSpiracy – documentário Netflix
  • SeasPiracy – documentário Netflix
  • Dieta de gladiadores – documentário Netflix
  • Dominion – documentário youtube legendado
João Victor

Psicologia 6/10 ; Filosofia (Nietzsche) ; Vegetariano ; Charles Darwin