Caos — o início de tudo
Semana passada, uma borboleta deve ter batido asas em algum lugar do universo e minha conexão com a internet emudeceu.
Um evento simples, pelo qual certamente a maioria das pessoas conectadas já passou. Mas, por uma razão obscura, a solução deste simples evento lança a nossa vida moderna no caos. Pelo menos o fez com a minha. E me abriu a possibilidade de - para não dizer que me obrigou a - realizar um trabalho interno intenso de acomodação das minhas emoções, levando-me a pensar sobre o caos que se espalha pelo planeta.
A ideia comum de que o caos é desordem total se origina de Ovídio que, em Metamorfoses, descreveu o caos como uma “massa crua e indigesta, um amontoado sem vida, não formado e não emoldurado, de sementes chacoalhando“.
Para os órficos, o caos era o útero da escuridão.
Mas de acordo com a moderna Teoria do Caos, há uma ordem nisto que nos parece caótico e basta uma pequena alteração em um ponto inicial de um sistema complexo para surgirem mudanças significativas mais adiante. A isto se deu o nome de ‘efeito borboleta’.
Originando-se do grego khaos, a palavra era inicialmente utilizada com o significado de fender-se, dividir-se em dois, entreabrir-se. E neste sentido se refere ao estado primevo da existência e à força que causa a sua separação. Ao fender-se sob o próprio impulso, a condição inicial produz o ‘vazio escancarado’, semelhante ao que surge quando a boca se abre num bocejo.
Vários são os mitos gregos que tentam dar conta do nascimento do universo. Em todos eles, o significado de caos se refere ao espaço, o grande vazio exterior, o útero da escuridão, do qual surgem todas as coisas. O ‘nada’ de onde os primeiros objetos da existência apareceram.
Para os órficos, o caos era o útero da escuridão. Cortejando a Noite de escuras asas, o vento depositou nela o ovo prateado que continha o universo. Deste ovo emergiu Eros, que pôs o universo em movimento. No mito pelasgo, quem emergiu do caos foi Eurínome, Deusa de Todas as Coisas, a que viaja longe, a lua. Para os olímpicos, foi Gaia, a Mãe-Terra, que emergiu do caos e pariu seu filho Urano.
Não por acaso o caos sempre foi associado com o feminino. Entreabrir-se é o que faz o corpo da mulher quando dá à luz, dividindo-se em dois; fender-se é o que faz a terra para permitir a emergência das plantas, das águas, dos minerais, ou quando nos toma de volta ao seu ventre no momento da morte.
Mas, se no início, o caos se referia ao poder fecundo e criativo do feminino e da vida, quando nos acostumamos com o cosmos, uma determinada ordem estabelecida, começamos a temer o caos.
Enquanto o caos é, originalmente, o momento único de cada ato criativo, ele sempre se opõe a qualquer ordem estabelecida. Quando a criatividade vital caracteristicamente humana é submetida a uma ordem social fixa, externamente condicionada, o caos se torna algo a ser temido e evitado a todo custo.
Assim, quando a ‘ordem estabelecida’ na minha vida foi alterada e produziu um ‘vazio escancarado’ que me engolfou, eu me deparei com crenças e emoções que não mais me servem nas condições atuais de vida. E depois de me revirar e reformatar, emergi renovada, mais preparada para encarar quaisquer mudanças que se apresentem.
E você, está preparada/o?