Review - Wolfenstein: The New Order (PS3)

Jorge André
8 min readFeb 18, 2019

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Fazem 23 anos que a iD Software lançou o primeiro Wolfenstein. Na época, os jogadores de PC estavam acostumados a biblioteca de jogos plataforma que a Apogee oferecia. Tínhamos Street Fighter II e só meses depois conheceríamos Sonic 2, Mortal Kombat e Super Mario Kart. Destes, somente Mortal Kombat abraçaria o lar dos jogadores de PCs. O lançamento de Wolfenstein 3D trouxe a definição de um novo gênero no mercado: o FPS, sigla para First Person Shooting, ou “Tiro em Primeira Pessoa”. Logo em seguida, tivemos o segundo do gênero, Spear of Destiny, continuação direta de Wolfenstein e, para emplacar o gênero de vez, o tão conhecido Doom. Anos se passaram desde então, o FPS se torna cada vez mais o gênero preferido da maioria dos jogadores, e também o mais desgastado, principalmente pelas IPs mais recorrentes, como as séries Call of Duty e Battlefield. Não há mais guerra para ser recontada no ambiente virtual que já não tenha sido através de alguma DLC ou versão destas séries, ou da falecida franquia Medal of Honor, e as histórias originais são pífias ou curtas demais, pois o foco aparente da indústria de FPS se resume à diversidade do multiplayer. Ninguém mais pensa em contar uma história, e é neste ponto que Wolfenstein: The New Order, chega para retornar o gênero a sua mais profunda origem.

Joguei a versão do Playstation 3. Obviamente o jogo é MUITO mais bonito e detalhado, mas avaliarei conforme a capacidade de entrega e potencial do console. Óbvio que PS4, XOne e PC possuem versões muito mais caprichadas, e por isso mesmo se torna muito mais fácil de achar um review das ditas versões em outras páginas por aí. Escreverei para quem cogita comprar o game e tem como versão mais viável, a de PS3. O que, claro, não impede quem tem os outros consoles de ler e considerar esta review na hora de escolher as outras versões. Já joguei a versão para PS4 e asseguro-vos que a única diferença é a gráfica, mas é bom sempre avisar.

Também não joguei a última entrega da série, em 2009, o que faz minha experiência mais recente ser Return to Castle Wolfenstein, de 2001. Isso não me impede, contudo, de falar do jogo como o que ele é, e o que representa para a franquia e para o gênero que fundou.

Gráficos

Pra um jogo gerado em equipamento next-gen e posteriormente capado para consoles da geração anterior, a qualidade gráfica é superior a de muitos FPS exclusivos da casa. Em alguns momentos, é perceptível a renderização e o detalhamento de texturas atrasado, mas são problemas menores que não chegam a atrapalhar a experiência. Uma coisa que me agrada é, se tratando do FPS que Wolfenstein era, a permanência do exagero gráfico na “violência” geral. Tiros bem localizados em inimigos fazem um mega estrago. Entre uma recarga e outra, espere inimigos com braços recém dilacerados tentando te atacar de alguma forma, cabeças estourando sem a menor piedade, pernas voando e muito, muito sangue. Porque, afinal, é meio irreal você dar um tiro de pistola a menos de 1 metro de distância e o inimigo apenas cair no chão e evaporar.
Os cenários são muito detalhados, e há o máximo de interação possível. Se esconder numa barreira por causa do fogo adversário pode não ser uma boa idéia dependendo da barreira e do calibre da arma do inimigo, pois o cenário se destrói conforme os tiros são desferidos com certa facilidade, e isso pode te colocar em problemas se sua energia estiver fraca. Porém, a riqueza dos mapas permite que você enfrente uma artilharia inteira de frente ou, explorando um pouco mais, chegar de surpresa por trás de todos e ir matando cuidadosamente um a um, através de um duto de ar do banheiro, um bueiro ou um alcapão.

Som

Após jogar Battlefield 4 e Call of Duty Ghosts, minha experiência com o som de Wolfenstein: The New Order é em nível excelente. O ambiente compôe uma atmosfera realista na maioria dos cenários e a trilha sonora é fantástica. As músicas são inteiramente compostas pela gravadora fictícia conhecida como Neumond Records, existente no jogo como parte da história alternativa. A interação vocal dos inimigos também é bastante enfatizada, com eles distraídos conversando assuntos aleatórios, e posteriormente notando a sua presença e alertando entre si rapidamente. Infelizmente o Português não é uma alternativa como língua, seja na dublagem ou na legenda. Porém, ao jogar em inglês (língua base da dublagem, neste caso) nota-se que a ausência de localização é um acerto para a fidelidade da história: as falas em alemão são preservadas, assim como as em polonês. O sotaque do protagonista ao tentar falar nas outras línguas é mais do que evidente, e são referências que inevitavelmente se perderiam numa localização em português, ou deixaria a qualidade da dublagem baixa, visto o exemplo das duas franquias supracitadas.

Jogabilidade

O controle padrão é estranho para alguns, mas é o mais lógico quando analisado com calma e imparcialidade. Os gatilhos, pela primeira vez em muito tempo, servem para atirar, o que pode irritar alguns pelo costume (mas afinal, um gatilho serve pra que mesmo?). Algumas vezes, pular uma barreira (a animação na qual o personagem apoia sobre a barreira e a pula completamente) pode ser irritante, pois é preciso estar completamente encostado nela e olhando para a frente para que o comando seja executado com sucesso. No entanto, o controle é impecável e a falta de mira automática traz ao jogo um desafio a mais, porém prazeroso.
Existe uma mecânica denominada “Perk Missions”, que constitui uma série de objetivos secundários que trazem recompensas que incrementam a jogabilidade. Como por exemplo, matar 15 pessoas com a pistola enquanto se protege atrás de uma cobertura, quando cumprido, aumentará a quantidade de tiros que podem ser disparados por recarga na pistola. Ou seja, o jogo começa de um jeito e vai se transformando a medida em que os perks vão sendo cumpridos. Assim como sua energia e seu escudo também, começam com a quantidade máxima de 100 unidades e, embora seja possível ultrapassar a quantidade máxima por meio do “Overcharge”, este número não é fixo e vai diminuindo gradualmente até voltar a 100. A medida em que vai coletando Health e Armor Upgrades, esta quantidade máxima vai aumentando, sendo possível, a partir daí, manter até 200 de energia e escudo, após coletar todos os Health e Armor Upgrades.

História

Você controla B.J. Blazkowicz na linha de ataque americana, em 1946, de encontro a uma investida nazista pós-Segunda Guerra Mundial, comandada por Deathshead, um general a frente das forças armadas Alemãs. Uma tecnologia misteriosa foi posta à campo e toda a força americana está sendo rapidamente aniquilada. Você e seu exército invadem o exército adversário e, apesar de todos os esforços, é tarde demais. Você escapa de um explosão inconsciente e recobra a consciência anos depois, num asilo em 1960, apenas para descobrir que a Alemanha ganhou a guerra mundial. Em meio a confusão, só te resta resgatar seus amigos remanescentes e descobrir como por um fim a guerra que, ao que parece, ainda não terminou.
Com um clima desses, o que vem a seguir durante toda a campanha dá a certeza de jogar uma história de alta qualidade. O jogo é muito bem amarrado inclusive como história paralela a nossa, com várias referências, através de recortes de jornal, destacando passos históricos da humanidade do ponto de vista alemão, como a criação de uma base lunar alemã (e a própria descoberta da Lua) e a liderança em vários campos de pesquisa onde, para nós, são os americanos, franceses ou japoneses que tomaram a frente. São pequenos e breves “registros” que inserem mais o jogador na história alternativa e até tem a capacidade de abrir alguns debates com relação a teorias conspiratórias que nos envolvem hoje.
Em determinado momento, você precisará fazer uma decisão que mudará partes importantes da história e construirá caminhos alternativos em partes da campanha. Há itens que só podem ser coletados por um determinado caminho, o que garante a jogatina pelo menos duas vezes. E a diversão bem mais do que isso.

No Playstation 3…

Como foi dito anteriormente, as diferenças entre a versão PS3 e as Next-gen são em sua grande maioria relacionadas a gráfico. A outra porção é referente aos tempos de loading, que no PS3 demoram bem mais, mesmo após exigir a instalação de dados no console. Dito isto, passar de um trecho difícil no PS3 pode exigir bem mais do que habilidade em alguns momentos. Contudo, as telas de loading escritas em alemão são um ótimo passatempo se você está com seu smartphone ao lado e o Google Tradutor instalado nele! Experimente!
Dizem, inclusive, que a versão PS4 contém mais glitches gráficos e bugs que a versão PS3. No meu caso, os bugs foram mínimos (já existia o update mais recente quando comecei a jogar) e o mais notável se resumiu a uma ou duas cápsulas de balas flutuando na minha frente, enquanto eu não me movia. Nada que afete o gameplay.

Multiplayer

Uma das coisas que eu mais gostei. Como o clássico que representa, Wolfenstein: The New Order não possui modo Multiplayer, e eu simplesmente adorei isso. Você apenas senta em frente a sua TV, coloca o jogo e joga uma história. Sem jogadores se metendo no meio da partida, sem gastar recursos monitorando um servidor de netplay, e com a certeza de estar jogando algo que foi, do início ao fim do tempo de desenvolvimento, projetado visando um único objetivo: te contar uma boa história. E isso acontece de forma maravilhosa, algo que poderia ser diferente se houvesse um esforço para um modo multiplayer.

Finalizando

Vale muito a pena investir em Wolfenstein: The New Order, seja a versão PS3 ou alguma next-gen. Apesar de ser um console já ultrapassado, o PS3 entrega uma experiência competente e em nada decepciona, apesar de algumas falhas aqui e ali.

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Jorge André
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Faço pequenas reviews descompromissadas sobre o que jogo/experimento.