Apenas quatro clubes da elite do futebol brasileiro se manifestam no aniversário do golpe civil militar

Dos vinte clubes da série A do campeonato brasileiro, somente Bahia, Inter, Vasco e Corinthians fizeram publicações nas suas redes sociais no dia que o golpe de 1964 completou 60 anos

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4 min readApr 2, 2024

Por Felipe Silva Teixeira

Apenas 4 times publicaram nas redes sociais sobre os 60 anos da Ditadura Militar no Brasil | Foto: Divulgação

A relação histórica do futebol com a ditadura teve início em 1º de abril de 1964, quando Corinthians e São Paulo se enfrentariam em uma partida válida pelo Torneio Rio-São Paulo. No entanto, na noite do jogo, o senador Auro de Moura Andrade, presidente do Congresso Nacional, na época, declarava vaga à presidência, fazendo com que alterasse a data do clássico paulista e confirmando a Ditadura Militar no país. A partir daí, a ditadura alterou os formatos de competições nacionais e se utilizou da seleção brasileira como objeto de propaganda.

Em um gesto que busca recordar a memória histórica do papel do esporte na sociedade, apenas quatro dos 20 clubes que disputam o Brasileirão Série A em 2024, tomaram a iniciativa de recordar um dos períodos mais sombrios da história do país. Somente Bahia, Corinthians, Inter e Vasco manifestaram-se em suas redes sociais sobre os 60 anos do golpe civil militar de 1964 no Brasil, mostrando compromisso em lembrar sobre um período marcado por repressão, censura e violações dos direitos humanos.

Foto: Divulgação / Instagram EC Bahia

O Bahia agiu de forma discreta, publicando uma arte na qual estava escrito: “Democracia! 60 anos do golpe de Estado no Brasil” aplicada ao brasão do clube e a algumas hashtags que relembram os momentos marcados por angústia e repressão no país.

Foto: Divulgação / Instagram Corinthians

Por sua vez, o Corinthians se pronunciou com uma homenagem ao ídolo do clube Sócrates, que teve uma rua com seu nome inaugurada na Vila Olímpica de Paris. O atleta ocupou um papel de destaque na luta a frente da Democracia Corintiana durante os anos de ditadura. No entanto, a menção aos 60 anos da Ditadura Civil Militar no Brasil aparece apenas na hashtag #DitaduraNuncaMais.

Foto: Divulgação / Twitter Internacional

Já o Internacional mostrou seu compromisso com a verdade histórica e a justiça de forma mais explícita. O clube publicou a frase: “Há 60 anos, o Brasil vivia uma das datas mais tristes de sua história. Hoje e sempre, é nosso dever lembrar para jamais repetir: Ditadura nunca mais!”, juntamente com uma imagem da “Coréia” (antigo setor popular do Beira-Rio). A “Coreia” era formada por um fosso sem assentos, que ficava logo abaixo da arquibancada inferior. Os torcedores ficavam em pé, perto do gramado, bem próximo dos jogadores, para acompanhar os jogos. Segundo a monografia “Os malditos da Coréia : um estudo antropológico sobre os torcedores da arquibancada popular do estádio Beira Rio-Porto Alegre - RS”, Mártin César Tempass, professor e doutor em antropologia social, a “Coréia” era um lugar onde ricos e pobres podiam torcer juntos, sem nenhuma hierarquia. A única coisa que importava para eles, era o amor pelo clube.

Foto: Divulgação / Twitter Vasco

Por fim, o Vasco da Gama adotou uma abordagem bastante sutil, postando a frase: “Que a democracia seja sempre um valor inegociável”, acompanhado da música de Aldir Blanc “O Bêbado e a Equilibrista”, lançada em 1979. A letra da música é uma metáfora com um bêbado que é como um equilibrista, enfrentando as dificuldades da vida com graça e leveza, apesar das adversidades e das quedas que eventualmente enfrenta. A música faz referência à luta pela liberdade e a busca pela esperança, mesmo em tempos sombrios, como a Ditadura Militar. A canção se tornou um hino de resistência durante os anos de ditadura militar no Brasil.

Para o jornalista Roberto Jardim, o restante dos clubes da elite do futebol brasileiro agiram contra a história da democracia do Brasil não mostrando interesse em recordar os momentos de conflitos sociais que feriram os direitos humanos e a democracia. “É um assunto que precisa estar na pauta das equipes de comunicação dos clubes, pois é importante que as instituições ressaltem o valor da Democracia brasileira”. Jardim também observou que a não manifestação por parte dos clubes pode ser atribuída por conta da dualidade política que o país vive no momento.

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Laboratório convergente do curso de Jornalismo da Famecos/PUCRS