2013, o ano que não acabou
2013… o ano que não acabou
Como foi o seu 2013? Bom, o meu ainda “está sendo”.
Este é um texto do Raphael de 2013 para o Raphael de 2019. E vice-versa.
Em 2013, após 5 anos de Banco do Brasil eu tomei uma decisão. Precisava de um plano B caso a minha carreira não desse certo. Precisava estar coberto caso a minha incompetência sobressaísse à minha competência. 2019, 5 anos depois, eu estava certo. Precisei usá-lo.
Janeiro de 2013 eu estava muito bem. Tinha 27 anos, namorava uma pessoa super bacana, fazia algumas viagens por ano com ela, já morava sozinho há 2 anos em ap próprio, já estava como Analista Sênior de TI, já estava há 4 anos como Instrutor na Caelum. Enfim, life was pretty fuckying good para aquele brasileiro médio que foi treinado a vida inteira pela escola para fazer um tipo de coisa: estudar.
Poorrrrrréeeem, algo não ia bem, profissionalmente já me sentia confortável demais. É engraçado esse meu paradoxo: lutar a vida inteira para estar confortável, e quando atinge, se sente desconfortável por estar confortável. Talvez confortável não seja o adjetivo adequado, mas sim, acomodado. O estalo veio e pensei: daqui há 5 anos, se eu tiver na mesma posição que estou hoje, estarei confortável com isso? E a resposta foi: definitivamente não. Logo, precisava fazer algo.
Lógico que a decisão não foi somente baseada no meu ego de estar em um posição X ou Y. Teve ego? Claro que teve! Mas 2012 foi um ano bem pesado no BB. Duas pessoas que confiavam bastante no meu trabalho e me colocaram de Sênior, muito mais rápido do que eu deveria, basicamente baseado no meu potencial e confiança
Edson Andrade, que junto com o Marcelo Santos Silva e a Fabiana Lauxen, me chamaram para trabalhar com eles em 2008. O Edson confiava demais em mim, ficou chateado com algumas coisas que aconteceram no banco, pediu pra sair e, tão puto, que anunciou na segunda que estava se retirando e na terça já não estava mais lá. Salvo engano, em 2014, infelizmente, ele faleceu. O outro, um gerente executivo super descolado, Jefferson Martins, que depois eu descobri que não gostava somente do meu trabalho, mas sim de todo mundo (poxa @jefmartins, achei que eu era especial!!) ficou chateado também, pegou o notebook e foi embora.
Perdi minhas referências ali, me desconectei com a empresa, fiquei profissionalmente perdido e abalado. O que me fez pensar: se esses caras com tanto tempo de casa, tem um plano B pra sair, pq diabos eu não tenho um? E se daqui há um tempo acontecer o mesmo comigo? Como vou simplesmente pegar minhas coisas e me retirar?
Nunca fui aquela pessoa que consegue dividir bem a vida pessoal da vida profissional sabe? E nesse momento eu estava tão triste profissionalmente, sendo difícil explicar para aqueles próximos o que eu de fato estava passando, que isso eventualmente iria refletir no pessoal e vice-versa, num ciclo que demorou muito anos.
Janeiro de 2013 eu tomo uma decisão que iria mudar completamente minha vida, só não tinha dimensão do quanto. Sair do Brasil naquele momento não me interessava, então eu teria que fazer o que eu sou realmente bom em fazer: sentar a bunda numa cadeira e estudar.
Não quero discutir se isso é a melhor forma ou não de fazer um plano B, mas é a forma que eu fui treinado para fazer. Admiro meus amigos empresários, artistas que vivem da música, do teatro, do esporte, os não planejadores, enfim, das mais diferentes formas. Já eu, passei a vida inteira sendo preparado para uma coisa: estudar! Provas! Estudar! Provas!……. Goes on and on.
Se vc chegou até aqui, isso é uma história de fracasso e não de sucesso. Lido com fracasso literalmente desde 2003, se vc quiser incluir vestibulares, desde 2001. Isso quer dizer que sou bom em lidar com eles? Não, sou péssimo, chorei em todas as provas que eu fiz e não passei desde 2003. Fico incomunicável por uma ou duas semanas.
Voltando para 2013, juntei namorada, amigos próximos e familiares e disse: vou voltar a estudar para concurso, esse vai ser meu plano B. E, para minha surpresa, todos apoiaram, e disseram que eu lograria êxito rápido, pois eu era muito disciplinado. Onde está a pegadinha?
Bom, as pessoas se motivam de diferentes formas. A minha, definitivamente, não é essa. Quando as pessoas acreditam em mim, eu costumo falhar, e quando alguém diz que eu não irei conseguir, eu costumo conseguir. Eu me motivo pelo quão desacreditado eu sou, e querer provar que posso fazer o contrário. A verdade é que cada um tem a sua forma de se motivar, e a minha é essa. A minha batalha sempre é com meu próprio ego. Todos nós temos, mas sou melhor quando ele é desacreditado.
Janeiro começa, opto por trabalhar somente 6 horas e minha rotina vai de: academia das 06:00 às 07:00, cursinho das 08:00 às 12:00. Trabalho no BB das 13:00 às 19:00. Trabalho na Caelum das 19:00 às 23:00. Chegava em casa, comia algo rápido e fazia uma revisão do dia. Na verdade, olhando hoje, dá pra ver que eu não fazia a menor ideia do que eu estava fazendo e os resultados começaram a vir rápido: fracasso, fracasso, fracasso.
6 meses nesse ritmo e já tenho a primeira perda nesse processo. Deixa eu explicar uma coisa para vocês sobre namoro. Namoro é um contrato pré acordado entre duas partes que faz sentido enquanto este contrato está sendo cumprido. Quando vc decide alterar sua rotina igual um maluco, dispensa aquelas viagens de fds, aquele cinema de quarta feira, aquele jantar de sexta e aquele almoço de domingo pra ficar estudando, bom, vc claramente quebrou o contrato. E, obviamente, levei um pé na bunda. Foi um pé na bunda bem certeiro, dolorido, e eu estava há 2 meses da minha primeira grande prova, que seria o concurso do BACEN. Enfim, vcs claramente já sabem o resultado disso.
Depressão vai, depressão vem, posição fetal no chuveiro, muito choro, estudos vão e estudos vêm, me envolvo com algumas pessoas e perco todas elas. A verdade é: ficar com um pessoa que está estudando não é nada agradável, na verdade é agoniante. Quando eu estava junto, minha cabeça estava em outros lugares. Quando as decepções de provas chegam, isso se reflete diretamente na relação. E bom, eu também não sou o cara mais transparente do mundo, mas estou bem perto disso. It was a fucking dark time e eu peço desculpas a todas. VCS TINHAM RAZÃO EM ME DAR AS CONTAS!
Decepcionar pessoas nesse período por causa de uma decisão que servia “apenas” como um plano B me deixava mais puto ainda em seguir com ele: mas sabe aquele ditado? Pisou na merda, abre os dedos. Então, prossegui! Minha carreira no banco não estava evoluindo do jeito que eu queria, algumas promoções rolaram e eu fui ficando pra trás, e daí veio surgindo a minha motivação: fazer com que toda essa desgraça que eu estava passando não fosse em vão!
The show must go on.
Outubro de 2015, uma grande amiga, que virou namorada e voltou a ser amiga de novo durante esse processo me disse algumas palavras que eu precisava ouvir desde o começo mas talvez nunca ninguém tivesse ficado tempo o suficiente para constatar isso: “Rafa, do jeito que vc está fazendo/estudando não vai te levar a lugar algum!”
Ela estava super certa e sou eternamente grato a ela por isso. Eu estava fazendo muita coisa errada mesmo, estava perdido, sem saber o que fazer, mas as palavras dela me motivaram! Além disso, recebi um “fodeback” no trabalho inesquecível, logo após uma reprovação no TCU: em suma: exigiam mais disciplina no trabalho da minha parte. O meu “drive” ressurgiu daí. Com a vida pessoal e profissional em cacos, contratei um coach que revolucionou minha forma de estudar. A verdade é que eu sempre tive disciplina para estudar, mas zero técnica, zero planejamento, apenas força bruta mesmo sabe (lema da minha vida) ? E isso não leva a lugar nenhum.
Entra 2016 e conheço a mulher que viria a casar comigo 3 anos depois, mas minhas primeiras palavras pra ela foram: “vc não é prioridade, e não será tão cedo! Eu estudo praticamente 25h por semana, trabalho 30h e ainda dou aula nos fds”. Lembra daquele lance do contrato que eu falei lá no começo? Então, aprendi! Depois de inúmeros pés na bunda, constatei que para a pessoa estar ao seu lado neste momento, ela precisa saber das regras do jogo desde o início. Ela incrivelmente aceitou, não sei como, mas aceitou. E gostou, pois até casou depois comigo.
Entramos em 2018, 5 anos depois, e adivinha? Minha carreira no BB ainda continua exatamente onde eu achei que iria estar quando pensei nisso em 2013. Fui extremamente competente em apostar na minha incompetência. Na verdade, é que nesse processo, foi uma relação perde-perde: eu perdi bastante, pois me ceguei durante o processo e me tornei inúmeras vezes um profissional bem abaixo do que poderia ser e isso inevitavelmente refletiu diretamente na minha carreira. Já a empresa perde um pouco, pois essa minha principal qualidade, sentar a bunda e estudar, não foi valorizada como deveria.
E o que acontece em 2018, no ano que eu decidi sair? Bom, a empresa dá uma boa mudada em perspectiva de mercado e a minha qualidade principal passar a ser valorizada. Criam uma equipe com autonomia para decidir sobre tecnologias e implementar um core de negócio no estilo que eu sempre quis fazer, e me colocam como um dos heads da equipe justamente pelo meu perfil, trabalhando com os caras que eu sempre quis trabalhar @cassiopl e @andrebreves
O ano que decidi sair, junto com o meu primeiro (2008) e segundo (2009), foram os melhores na minha carreira do BB. Eu fiz exatamente o que queria fazer, com as pessoas que eu queria, no estilo de trabalhar que eu queria. E olha que eu não queria nada demais não, queria fazer uma aplicação de negócio em Java que acessasse um Banco de Dados numa equipe Ágil (ooooooohhhhh). Demorou 11 anos para eu fazer isso, mas eu consegui. Deixaram mexer até com drogas mais pesadas como Node e Neo4j. Olha que ousadia!
E eu amei! Na verdade, desde 2016 já estava numa equipe bem gostosa de trabalhar, mas sabia que ainda queria sair pois não era ainda o que eu queria fazer, e só depois, de já ter puxado o gatilho: AGORA EU SAIO, olha que ironia, eu fui fazer justamente o que eu queria.
A verdade é que a vida não está nem aí para o seu planejamento, sim eu acertei em 2013 quando pensei que em 5 anos eu poderia estar estagnado (e de fato acertei) então eu precisava dessa alternativa. Passei por muito sofrimentos nesses 5 anos, tanto profissional como pessoal, não fui o melhor que eu posso ser em nenhum deles. Mas, a possibilidade de me sentir acomodado me fez tomar essa decisão, e isso eu não conseguiria suportar.
Sim, depois de 11 anos e 2 dias, hoje é meu último dia de empresa. Achei, há 5 anos atrás, que iria ser um dia feliz! Iria subir na mesa de alguém e gritar: “eu me deeeemmiittttoooo!!!” — “Não fui promovido??? Agoooorraa chuuppaaa!! Eu me demitoooo!!!”. Mas não. Estou sim, feliz por um novo recomeço, mas triste, muito mais triste por saber que comecei a trilhar esse caminho 5 anos atrás, deixei pessoas pra trás, pessoas me deixaram, e agora, deixo a empresa.
Foram várias alegrias e decepções nesta empresa. Já fui conhecido como “o” cara do JSF (meu passado me condena), como “o” cara dos testes automatizados, “o” carinha do GIT. Mas eu gostei mesmo de ser aquele cara que entrou na GEARQ, para um contrato temporário. Então me deram a chave de um carro e falaram: toca aí. Tive a oportunidade de contratar o melhor programador com que eu já trabalhei: @geraldo_ferraz . Impressionante como eu sinto falta dessa época @fabianalauxen .
De consolo, amei me despedir da forma como eu queria me despedir: fazendo exatamente o que eu queria: acessar um banco de dados! Uauhauhauha! Fiquei 4 meses trancado numa sala com 4 pessoas para fazer o tal do KERNEL. 4 meses que pude ser eu mesmo. Segui meu instinto e muito provável que se esse trabalho tivesse vindo há 5 anos atrás, eu definitivamente não teria feito um plano B. Mas a vida não está nem aí para o seu planejamento.
Obrigado a todos que dividiram essa história de 11 anos comigo, em especial à equipe do @rfarinello por me aturar por um bom tempo sem eu conseguir dar o meu melhor.
Sair definitivamente nunca é fácil.
Escrever esse texto definitivamente não é fácil! A verdade é que eu me preparo para escrever esse texto desde o dia que resolvi sair, mas ele mudou tanto durante esses anos, igual o escritor dele.
Lágrimas correm! E muitas! E um Chorão, CBJR, de trilha, que by the way, morreu em 2013 também.
2013, que ano!
Depois de tanto tempo lidando com frustrações, derrotas, pés na bunda, cobranças pessoais, chefe falando merda, por mais preparado que vc esteja, vc nunca se acostuma e querendo ou não, vc acaba se tornando uma pessoa frustrada. Acabo de completar um ciclo de 5 anos e ainda me sinto frustrado, será que eu queria mesmo ir? Hehehe! Vai logo rafa! poorra!
Como eu disse, isso não é uma história de sucesso, é uma história gigante de um fracasso persistente. Sabe aquele clichê? “Se pudesse eu faria tudo de novo!” Eu definitivamente não faria, e já adianto logo pra vc, não faça, e se o fizer, esteja preparado para a frustração consumir cada gota da sua energia.
Por fim, obrigado @paulinhacaliman que, de todas as que passaram, foi a única me aguentou. Sei que aturar este ser que vos fala não é fácil, ainda mais lidando constantemente com essas frustrações, furúnculos na bunda de tanto estudar e humor instável. Vc entrou no meio de um processo que já vinha ocorrendo há 5 anos, de em média 18 horas de estudos por semana…. e agora está vendo o final.. Ou não!
Mas fica a dica lovinho: vou até o fim com as minhas palavras.
You can take it to the bank!
Te amo e obrigado por não desistir!
Agora um novo ciclo se começa, não sei se é a decisão certa ou não, a única conclusão que chego depois desse processo é que além de frustrado eu não me acomodo facilmente.
Odeio me sentir acomodado!
Vamos lá, recarregar as energias e atualizar o status do linkedin: unemployed
It was a fuckying long journey.