O mercado matou o sonho — uma apresentação

Laís Lacet
3 min readJul 6, 2019

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Como se não bastasse o twitter, a tonelada de cadernos, o antigo blogspot (que eu jamais darei o nome nem sob tortura) e alguns poucos amigos, a gente decide criar um Medium e fazer pequenos desabafos um pouco mais extensos.

Culparei a crise de abstinência dos textões de Facebook, já que não quero culpar meu signo.

Porque, amigo, se você conhece um escritor, sabe que tudo com a gente é textão. Desde DR de relacionamento até lista de compras. Se o escritor em questão, por alinhamento de planetas, for tagarela como eu, a coisa toda parece pior. Uma amiga disse que eu morreria se não pudesse enviar áudio no Whatsapp e eu descobri, no dia que o Whatsapp bugou, que ela tinha razão. Ô inferno.

Escrever, então, é e sempre foi uma dessas conversões energéticas. Escrevia sobre o que eu não podia falar, sobre o que eu não sabia falar. Incrivelmente, apareceu quem gostasse das baboseiras que eu colocava no papel. Até uma professora que nunca, nunquinha mesmo, elogiava ninguém, me deu essa honra no meu Ensino Médio.

Mas sobre o ponto principal disso tudo. Como escrever virou um sonho? É daquelas coisas de que só quem se sente completamente deslocado do mundo entende. I’m a drama queen, I know.

Cursando Engenharia Civil, meus amigos andavam com livros de física debaixo do braço, eu também tinha, mas junto deles sempre havia um caderno cheio de histórias. Em 2016, no oitavo período, que publiquei pela primeira vez. Uma história que hoje eu destrincharia toda e me mandaria escrever de novo, mas a primeira experiência serve de algo: aprendizado.

E como eu aprendi! A primeira lição: se uma editora tá demorando a te responder, tem algo errado. O problema é saber exatamente o quê. Meu primeiro contrato durou algo em torno de 6 meses e acabou com a trágica falência da primeira editora em que me vi metida — e o saldo de 70 livros para vender sozinha…

Mas tudo bem. Tá tudo bem. Levanta e tenta de novo.

2017, segunda edição desse mesmo livro. A segunda lição: amigos, amigos, negócios à parte. O contrato dizia 100 livros, foram feitos 80. Tudo bem, tá tudo bem, eu já tava trabalhando noutro livro mesmo. Não tinha como me desdobrar em divulgação de dois livros, escrever meu TCC, passar em todas provas e descobrir o que fazer da vida uma vez que, pasme, escrever não paga as contas!

Não tinha preju. Bola pra frente. Vamos tentar de novo.

Só que dessa vez era aquele projeto xodó, aquele que a gente rega, aduba, coloca no sol da manhã com todo carinho. Aquele que floresceu em 4 anos e tinha até prêmio, que era reconhecido por meia dúzia de gatos pingados e que me fazia orgulhosa — ainda me faz.

E sabe de uma coisa? Eu nunca entendi o medo de montanhas-russas. Eu gosto da adrenalina que precede a descida, os tacks na subida e da sensação da vertigem, do vento que bate no rosto e do corpo que se levanta dois dedos da cadeira, o suficiente pra se achar que se pode voar por um segundo. Acho que por isso dizer que esse processo foi uma montanha-russa é injusto.

Não foi uma montanha-russa, foi aquela roda-gigante que te deixa preso no topo quando você tem medo de altura. Você sabe, racionalmente, que uma hora vai descer, que é impossível te deixarem ali pra sempre, mas cada segundo é longo demais pra ser suportado.

Eu ainda tô no topo da roda-gigante. Mas eu perdi meu medo de altura.

Essa terceira experiência foi tudo que as outras duas não foram. E com isso eu quero dizer que houve dois meses excelentes e dez outros péssimos em silêncio. Acontece que quando você tá no topo da roda-gigante e o operador não parece te ouvir, uma hora você fica sem voz.

De terceiras lições, tenho várias. Não se deixar levar pelo sonho, ser mais atento, viver com os pés ficados no chão. Mas a principal, e mais difícil e que ainda não sei se aprendi totalmente, é a se reerguer quando o mercado mata teu sonho.

Tá tudo bem. Eu tô me levantando e vim tentar de novo.

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Laís Lacet

Paraibana, escorpiana e maluca. Escreve fantasia e ficção científica, é feminista e estudante de design gráfico.