O LADO FEMININO DOS HOMENS

A masculinidade tóxica e a negação da energia feminina

Os homens crescem ouvindo “seja macho”, “deixa de ser bicha”, “parece uma menininha” e diversos outros comentários que inibem comportamentos que denotam sensibilidade ou “fraqueza”. Os homens não podem chorar, devem querer sexo o tempo inteiro, precisam ganhar muito dinheiro, são másculos e fortes, precisam ter poder e influência, a única emoção que podem mostrar é raiva e agressividade, entre outras características que fazem parte de ser macho. Muitas mulheres também tem a mesma visão sobre o que é ser homem. Eu já me vi dizendo alguns desses termos e mesmo quando usados em tom de brincadeira reforçam esse estereótipo.

Precisamos quebrar o paradigma de tudo relacionado à energia feminina (sensibilidade, receptividade, vulnerabilidade) ser visto como fraqueza, coisa de gay. É assim que educamos os meninos: ser fraco é ser feminino, ou seja, ser feminino é ser fraco. Como vocês acham que será a visão dele sobre as mulheres? Em minha opinião nossa cultura machista se inicia na negação dos homens do seu próprio lado feminino e deveríamos abordar essa questão com mais ênfase e frequência.

Muitos homens têm extrema dificuldade em lidar com seu lado feminino, em entrar em contato com sua vulnerabilidade e principalmente em se expressar. A Alexitimia é uma condição caracterizada pela dificuldade em verbalizar emoções e descrever sentimentos. A Associação Norte Americana de Psicologia estima que 80% dos homens nos EUA sofrem de Alexitimia. 80%! É um número muito alto. Em casos extremos isso pode levar a depressão e ao suicídio. Esse lindo texto traduzido sobre “Os homens estão morrendo porque não conseguem falar” e o texto do Guilherme Valadares sobre “Masculinidade Tóxica” ambos pelo Papo de Homem abordam muito bem essa questão. Recomendo também essa matéria “O filho que ela só conheceu depois da tragédia de Columbine“ sobre o livro de Sue Klebold (mãe de Dylan, um dos dois meninos do assassinato de Columbine) em que me marcou o trecho “Sue lamenta o fato de Dylan ter sofrido sozinho porque ela não suspeitou que ele estivesse deprimido“. Um triste caso real que é mais comum do que imaginamos.

O documentário “The Mask You Live In” que está no netflix, a campanha que está nas redes sociais #ITSOKTOTALK e esse TEDx “Be a Man” também nos fazem refletir sobre a masculinidade tóxica e a dificuldade dos homens se expressarem. Vamos combinar de falar mais e mais sobre isso?

Aos homens um recado: vulnerabilidade e sensibilidade não são fraquezas! Se expressem! Mensagem esta que também serve para as mulheres. Segundo recado: nunca, mas nunca reprimam uma expressão de sentimento sua ou do outro. Aquele “ihhh tá chorando?”, “deixa de drama”, “vira homem”, por favor, tirem dos seus vocabulários. Eu, como uma grande chorona de comerciais de TV, aprendi com uma sábia chorona (senhora minha mãe) que não há nada mais belo e verdadeiro do que se emocionar e essa expressão não deve ser reprimida nem de brincadeira. O quanto você está aberto e se fazendo presente para escuta do outro? Precisamos nos expressar e, para isso, é necessário nos sentirmos seguros. Sejamos mais vulneráveis! O estado vulnerável gera conexão (falei um pouco sobre isso aqui).

No TEDx “Escutando a Vergonha” da Brené Brown ela pergunta à plateia “quantos de vocês pensam que vulnerabilidade e fraqueza são sinônimos?” a maioria das pessoas levanta a mão. Em seguida outra pergunta “quantos de vocês quando viram vulnerabilidade hoje no palco pensaram que era pura coragem?” e a maioria levanta a mão novamente. Engraçado não? Quando vemos vulnerabilidade expressa no outro enxergamos como coragem, mas quando somos nós que pensamos em ficarmos vulneráveis significa fraqueza. E aí que entram as máscaras, sejam máscaras de superioridade, de amor, de serenidade ou de masculinidade tóxica. As usamos para nos “proteger” desse estado vulnerável quando na realidade são elas que nos tornam frágeis por esconder quem nós realmente somos.

A energia feminina se faz presente no estado vulnerável. Homens precisam resgatar esse lado feminino tão negado dentro deles. É importante entender e confiar que aceitar o feminino e a vulnerabilidade não nos torna fracos, muito pelo contrário, reequilibra as forças complementares Yin e Yang e permite nossa conexão com o eu real. Sem máscaras. Como nascemos e como devemos ser se quisermos estar em plenitude, nus de nossas armaduras. Porque elas não nos protegem de nada.

Para ler o texto sobre “O lado masculino das mulheres” clique aqui.