Resenha: STREET, B. V. Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação. Trad.: Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2014. 240p.

Lari Albuquerque
3 min readJul 13, 2018

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O livro Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação, de Bran V. Street, foi escrito em pela primeira vez em 1995, contando com oito capítulos, que são divididos em quatro sessões. Para a edição brasileira, o livro ganhou um novo capítulo; traduzido pelo distinto Prof. Dr. Marcos Bagno e publicado em 2014, pela Parábola Editorial.

Brian Street é professor emérito de King’s College London e professor visitante da University of Pennsylvania; o autor dedica-se a pesquisas sobre letramento nas vertentes teórica e aplicada. Além disso, Street também realizou pesquisas no Brasil, com foco nas perspectivas etnográficas e acadêmica do letramento, com trabalhos parecidos com os descritos por ele na seção 2 de sua obra. Já o professor Marcos Bagno, que traduziu a obra para o português, é professor-adjunto do departamento de Línguas Estrangeiras da UnB, e atua na área de Tradução Francês/Português.

A apresentação do livro fica por conta de Clecio Bunzen, professor do Departamento de Educação e PósGraduação em Educação da Universidade Federal de São Paulo, que nos apresenta um panorama histórico sobre ensino no Brasil, citando pesquisadores que discutem e contribuem para os estudos de letramentos e Street no país. Quanto ao prefácio, nos é apresentado que o livro busca desenvolver abordagens alternativas de letramento, trazendo críticas à concepção de letramento divulgada internacionalmente.

Em seguida, na Introdução, os conceitos abordados pelo autor no livro são sintetizados de maneira clara e objetiva, sintetizando o que será tratado ao decorrer da obra. Street afirma que os estudos sobre letramento estão em fase de transição, de modo que novas pesquisas afetam diferentes áreas do conhecimento de maneira desigual. Os conceitos de prática e evento de letramento também são apresentados nessa parte, trazendo reflexões sobre o modelo autônomo de letramento, e defendendo o modelo ideológico. Ao final, os tópicos analisados em cada seção também são cuidadosamente apresentados.

Assim, a primeira seção, composta pelo capítulos 1 e 2, é nomeada “Letramento, política e mudança social”, e explicita o embate entre os modelos autônomo e ideológico de letramento, de modo a apresentar argumentos favoráveis ao último, colocando que o letramento é, em verdade, resultado de práticas sociais de leitura e escrita. O autor também diferencia o letramento colonial do letramento dominante: o primeiro é aquele que é trazido como parte do processo de colonização e conquista; o segundo, é feito por membros de uma mesma comunidade, porém de classes sociais, grupos étnicos e/ou localidades distintas.

Já a seção 2, “Letramento, política e mudança social”, abrange os capítulos 3 e 4; nele Brian Street relata sua experiência no Irã, e as práticas letradas sobre o letramento no país durante a década de 70. Para isso, ele descreve e critica uma abordagem antropológica clássica, afirmando que há a necessidade de uma nova abordagem, assim como a de um quadro teórico metodológico para o estudo de oralidade e letramento em contextos sociais. Sua perspectiva inovadora ao tratar dos letramentos no Irã direcionam uma luz para letramentos etnográficos de maneira excepcional.

Seguindo, os capítulos 5 e 6 compõem a terceira seção, intitulada “O letramento na educação”, e apresentam estudos de caso de salas de aulas em comunidades americanas, com um olhar voltado para a educação, relacionando o que ele observou em suas pesquisas com discussões sobre letramento cultural. É nessa seção que Street questiona o porquê uma única variedade foi escolhida como o que é letramento, apresentando o conceito de “pedagogização do letramento”, em que o letramento é associado apenas às questões educacionais e escolares, defendendo o modelo ideológico de letramento, já que o aprendizado do letramento se dá através de um processo, não apenas da aquisição de determinado conteúdo, sendo dever do educador conceber o letramento enquanto prática social.

Na quarta seção, última da edição original e penúltima da edição brasileira, o autor retoma alguns conceitos abordados anteriormente. Composta pelos capítulos 7 e 8, a seção é chamada “Para um quadro teórico crítico” e propõe reflexões pertinentes, para que algumas posturas teóricas sejam revistas. Street trabalha, ainda, com ideias propostas por Ong, analisando seus trabalhos e rejeitando a divisão entre oralidade e letramento. Ao revisar os estudos de Ong, Brian Street se utiliza de três níveis — metodológico, empírico e teórico.

Assim, Brian Street traz uma abordagem crítica inovadora com o livro “Letramento sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação”. Sua maneira de apresentar e debater os conceitos trazidos por ele é feita de modo inigualável, enquanto a discussão e temas discutidos são, ainda hoje, bastante atuais e relevantes.

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Lari Albuquerque

Estudante de linguística e apaixonada por todas as formas de comunicação.