Não, o Bolsonaro não é fascista.

Larissa Limas
10 min readOct 12, 2018

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Dois dias atrás eu peguei o celular da minha mãe e eu vi que ela tinha perguntando ao Google “o que é fascismo”. Pra muita gente é uma pergunta boba, mas muita gente ainda tem dificuldade de entender o que é, e principalmente, entender a ligação do termo ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Então decidi fazer o mesmo, perguntei ao Google o que é fascismo. Ele, em sua extensa sabedoria, me respondeu com essa página. Então aqui, farei o link dessas informações com declarações públicas de Jair Bolsonaro. Vem nesse artigo!

1. Valoriza o nacionalismo

Os regimes fascistas valorizam de forma intensa o sentimento de nacionalismo. Assim, é comum que os governos fascistas utilizem, de forma exacerbada, propagandas nacionalistas através de lemas, símbolos, músicas e bandeiras.

Em nome no nacionalismo, os governos fascistas utilizam todas as formas possíveis de manipulação da população, seja através da mídia, da religião ou mesmo da violência. Além disso, os regimes fascistas estabelecidos na Itália e na Alemanha buscavam constantemente a expansão do seu território.

Slogan da campanha

A campanha de Bolsonaro é marcada por esse slogan, onde ele reafirma suas políticas de que o Brasil deve funcionar acima de interesses separados por grupos, e seu Deus, o Deus cristão, deve ficar ainda acima disso. A ideia de que o Brasil deve ficar acima de todos, também é indicada no seu discurso de 2017:

Esse vídeo causou mau estar dentro da minha família. Minha tia perguntava incessantemente “o que é uma minoria?”, não com tom de dúvida, mas com tom de autoridade. E nessa ideia já é possível ficar claro que ela de fato não sabia o que é uma minoria. Minorias são os grupos que estão à margem da sociedade. São grupos, que independente de seus números totais, somam uma minoria em ambientes mais privilegiados como universidades, postos de trabalho com melhores condições trabalhistas e salariais, menor propensão ao crime e de sofrer violências. Grupos esses, que tem seus representantes, os famosos “militantes”. Na sociedade brasileira, não é difícil identificar quem são esses grupos mais vulneráveis: negros, indígenas, LGBTs e mulheres. Ora, então se ele “governa para as maiorias”, então ele trabalha para ceder mais privilégios para quem já é privilegiado?

2. Totalitarismo e Corporativismo

O fascismo estabelece um governo totalitário que exerce o controle absoluto dos direitos dos cidadãos, seja no contexto político, cultural ou econômico. Além disso, o governo incita o corporativismo entre todos os setores da sociedade com o objetivo de criar um “Estado Orgânico”.

O maior exemplo de corporativismo fascista ocorreu na Itália durante o governo de Mussolini. Na época, foram criados sindicatos de trabalhadores e de patrões para cada profissão. Esses sindicatos eram submetidos à supervisão do Partido Comunista, o que garantia que todas as classes, de todas as áreas, estivessem sempre em harmonia com os ideais do governo.

Bolsonaro, desde o início se vendeu como liberal. Sempre defendeu o estado mínimo, tem um banqueiro ao lado para indicar o braço forte do capitalismo, mas esse discurso vêm ruindo desde que seu discurso de ódio passou a ganhar força. Ele tem o discurso do “liberal na economia e conservador nos costumes” o que é, provavelmente, a maior falácia do cenário político. Como você pode permitir que a pessoa tenha o que ela quiser, se dentro do seu discurso, não é permitido ela ser quem é? Jair Bolsonaro, definitivamente não entende o que é reconhecer os limites de sua autoridade. Ele prega maior intervenção nas escolas, porque como ele mesmo já disse “os gays usam crianças para quando crescerem se relacionarem com eles”. Até o momento desse artigo, não foi encontrado em nenhum mecanismo de pesquisa, um levantamento de dados que indique tal número, me puxando pela memória, só consigo me lembrar do Caso Woody Allen (que é heterossexual!).

3. Ênfase no militarismo

O fascismo é um regime que acredita na utilização da força e da violência para atingir seus objetivos. Por esse motivo, o governo dedica quantidades desproporcionais de recursos ao financiamento de armas e guerras, chegando a negligenciar outras áreas como saúde ou educação. Neste tipo de governo, soldados e militares são vangloriados pelas massas.

Nos regimes fascistas a polícia é altamente militarizada e possui ampla autonomia para lidar com problemas internos e domésticos que normalmente não necessitam de participação militar.

Esse tópico eu creio que não precisa ser expansivamente comentado, ele tem palavras que bem ilustram esse pensamento mas vamos lá: Jair Bolsonaro é um ex-militar que fala com saudosismo da ditadura. A ditadura militar no Brasil, durou 21 longos anos, até hoje os pais não enterraram seus filhos, crianças e grávidas mortas, estupradas, torturadas, desaparecidas, nenhuma liberdade de expressão, controle de veículos de informação e todas as outras características de uma ditadura. O Golpe de 64 teve apoio dos Estados Unidos, hoje, o que é se torna assombroso é essa notícia.

Mas muito se engana quem crê que só sofriam as repressões militares quem era comunista ou bandido, muito pelo contrário. Bastava ser ou parecer suspeito. A cantora Elis Regina foi um grande exemplo, e minha mãe como grande fã, me conta ainda hoje quando ela foi obrigada a cantar para militares e ser vista como traidora porque sua família havia sido ameaçada. Ela era sim, opositora, mas era apenas uma artista. Mas e quanto a Miriam Leitão, que estava grávida?

Essa declaração de 1999 (14 anos após o fim da ditadura) marca seu discurso:

4. Obsessão com a segurança nacional

Os regimes fascistas possuem uma necessidade constante de preparar a nação para um conflito armado. Com esse objetivo, são propagados discursos de terror para causar um sentimento de insegurança e paranoia na população, que busca se unir para lutar pela mesma causa. Assim, o fascismo utiliza o medo como instrumento de motivação.

Desde 2002, José Serra diz que Lula irá transformar o Brasil na Venezuela. A “ameaça comunista” existe desde a Guerra Fria. LGBTs e negros, desde o início dos tempos. Mas hoje, o que mais se ouve é que tudo isso é uma ameaça. Há anos essas ameaças estão “nos rondando”, de forma que até parece que não existem. Mas como não existem? E a doutrinação comunista nas universidades? Doutrinação essa, que passou a “existir” quando o percentual de pessoas pobres passaram a ter acesso à educação de grau superior. O Censo do IBGE de 2010, mostrou que em 10 anos (2000–2010) o percentual de formados subiu de 4,4% para 7,9%. Então quer dizer que mais gente estudando, tem mais gente optando por vertentes ideológicas que as representam? Ou que é só doutrinação? O Fernando Holiday do MBL responde a pergunta: (1:35–2:25)

1:34 ao 2:25

Mas então de onde vem esse desespero de Jair Bolsonaro? Ele realmente teme tanto pela segurança e por “preservar a inocência das nossas crianças” ou são formas de controle de massa? Toda sua campanha foi baseada na segurança nacional, em preservar o cidadão de bem e matar bandido. Inclusive querendo armar a população. Mas ao ler suas propostas que consistem em “dar carta branca para policial matar na favela”, “castrar estuprador”, “armar a população” e “dar tranquilidade para a mulher que é ver seu filho chegar bem em casa” parecem um aglomerado de exageros e/ou senso comum considerando que hoje (11/outubro) seus seguidores tem assassinado e agredido fisicamente e moralmente os opositores democratas. Mas indo parte por parte, por que tais propostas não são eficientes?

  • O policial já mata na favela. E não, ele não mata só bandido. Foram 32 civis mortos só até o final de agosto na Intervenção Militar do Rio de Janeiro;
  • Castrar estuprador não funciona porque o estupro não é sobre sexo, é sobre poder. Ele encontra meios de violentar e humilhar sexualmente sua vítima, sem a necessidade de uma genitália funcional;
  • Armar a população me parece a mais irreal. Sem entrar sequer no mérito do aumento gradativo de assassinatos e massacres como podemos comparar aos Estados Unidos, o bandido já tem arma, o que nos difere e nos protege é não ir até as últimas consequências. E outra, armas de fogo tem uma média de R$4000,00, e o brasileiro médio ganha R$1200,00. Talvez o deputado precise conversar mais com a população para saber ao menos o quanto seu eleitor ganha;
  • “dar tranquilidade para as mães” é sua política de proteção às mulheres. E as mulheres que não são mães, não ganham nada? Porque se o máximo que ele pode fazer é proteger o filho, então…

5. Desprezo pelos direitos humanos

Em uma sociedade altamente militarizada e em constante confronto, os ideais do governo são constantemente impostos de forma violenta, convencendo os cidadãos de que os direitos humanos não são prioridade. Assim, no fascismo não existe valorização da liberdade, da integridade física, da igualdade ou mesmo da vida.

Nos regimes fascistas, o desprezo pelos direitos humanos é transmitido para a população, que passa a ser conivente com práticas como execuções, torturas, prisões arbitrárias, etc.

Segundo a ONU, “ Os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre e muitos outros. Todos merecem estes direitos, sem discriminação.” Então sim, bandidos merecem e precisam de proteção porque o Estado não pode determinar quem é digno disso e quem não é, todos são humanos e merecem partir dos mesmos princípios. E o mais importante: bandido é uma palavra subjetiva. Quem rouba pra comprar droga e quem compra pra comer é bandido igual? Quem é bandido? Quem desobedece a lei? Apologia ao crime é crime de acordo com a constituição:

Art. 287 — Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:
Pena — detenção, de três a seis meses, ou multa.

Isso é apologia:

Isso é apologia:

E essa é a opinião de Bolsonaro sobre criminoso:

Mas não, ele não é bandido. Aceitar propina, fazer apologia à tortura, estupro, racismo e crime de ódio não é crime o bastante. Bandido mesmo é o menino da periferia que aprende desde cedo que o único caminho é o crime, que nunca teve um incentivo para pensar maior que aquilo. Isso é bandido, e é isso que a gente deve fazer com essas crianças do tráfico (lembrando que: menor infrator também é ser humano, não cabe a ninguém determinar quando vive, quando morre e infringir sua integridade física):

6. Desprezo por intelectuais e artistas

Considerando que os governos fascistas possuem o apoio da população, aqueles que não se adéquam aos ideais da nação são abertamente hostilizados.

Por esse motivo, intelectuais e artistas com a capacidade de questionar o regime e influenciar o povo a fazer o mesmo são perseguidos, e qualquer forma de insurgência contra o Estado é rechaçada de forma violenta.

Você sabe o que é e como funciona a Lei Rouanet? Ela prevê três formas de financiamento para eventos ou obras: o mecenato, o Fundo Nacional de Cultura e o Fundo de Investimento Cultural e Artístico (mas este último não saiu do papel). A maior parte dos recursos disponibilizados provém do mecenato, em que pessoas e empresas atuam como patrocinadores (“mecenas”) ao investirem em atividades culturais, como exposições, festivais de música e produção de livros.

Em troca, os mecenas podem deduzir esse valor do Imposto de Renda. Pessoas comuns podem abater até 6% do IR com esse recurso. Para empresas, o limite é 4%. Com isso, o governo deixa de receber cerca de R$ 1,7 bilhão por ano. Pode até parecer muito, mas a renúncia fiscal em outros setores é muito maior — na área de comércios e serviços, a isenção de taxas chega a R$ 77,3 bilhões por ano. (Superinteressante)

Ou seja, o Estado deixa de ganhar R$1,7bi por ano para incentivar a cultura. Comparado às outras renúncias fiscais, a Lei Rouanet equivale a 0,021 da renúncia fiscal dos outros setores. Mas essa é a opinião de Bolsonaro:

7. Controle da mídia e censura

A fim de manter a integridade do sistema, os regimes fascistas tendem a controlar os meios de comunicação. Por vezes, o controle é exercido diretamente pelo governo e, em outras, a mídia sofre regulação indireta. De qualquer forma, a censura a ideias contrárias ao regime é comum.

Bolsonaro ainda não está no poder, ele ainda não pode controlar o que o povo fala. Mas o que ele pode fazer é manipular o que se fala dele e de seus oponentes. Principalmente o que se fala sobre seus oponentes. Seus seguidores creem veementemente em teorias descabidas que de longe percebem-se que são fake news, negam a realidade e acusam o sensacionalismo, a mentira, e seus inimigos de espalhar isso para que “eles não querem que você saiba a verdade!”. Nessas eleições, grandes veículos de mídia precisam disponibilizar de seu pessoal apenas para checar a veracidade do que é dito e a mentira parece ter escolhido um lado. (Essa afirmação depende do seu ponto de vista.)

Tem forma mais fácil enfraquecer alguém do que espalhando seus podres? E nem precisam ser verdades, só basta ser dito e financiado. Já vimos o Papa que não conhece a Bíblia, o alemão que não conhece o nazismo, o Itaú, TV Globo, Santander comunistas… É tapar os olhos para o que está acontecendo e abraçar o que convém, não é a toa que somos o povo que está em segundo lugar em ‘falta de noção da própria realidade’, segundo o Instituto IPSOS MORI. Mas se isso ainda não é o suficiente porque os bolsonaristas não refletem o Bolsonaro, aqui a atitude do filho dele nas eleições:

E aqui a avaliação do técnico do TRE de Minas Gerais:

Para censurar não é necessário processar ou calar com assassinato.

8. Usa a religião como forma de manipulação

Tanto na Alemanha quanto na Itália o fascismo, nos primeiros anos, disputava a devoção das pessoas com a igreja. No entanto, os dois governos resolveram utilizar a religião a seu favor para manter os ideais da população alinhados e reunir mais seguidores. Dessa forma, os fascistas passaram a traçar paralelos forçados entre preceitos religiosos e ideologias políticas para manipular as pessoas.

Dispenso meu local de fala e deixo o Pedro Cardoso falar:

E aqui voltamos para o primeiro tópico:

Mas claro, Bolsonaro não é fascista e tudo que eu disse é fake news.

Referências estão linkadas ao longo do artigo. Para entender melhor o cenário político que propiciou um solo fértil, indico esse artigo.

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