Dia 8: “Inimiga do fim.”
Começar um livro é minha especialidade. Terminar, já é outra história.
Já falei sobre isso em outro post, em outro blog, uma outra vez, mas acho bacana tratar disso aqui também, porque está diretamente relacionado com todas as coisas que venho falando desde o primeiro texto desse diário. Vira e mexe menciono esse e aquele projeto que acabo abandonando por qualquer motivo, ou outro que suspendo temporariamente (e por tempo indeterminado) quando encontro algum tipo de obstáculo que demande mais estudo ou exercício… Mas o fato, enfim, é que nunca termino nada que começo.
Não que eu não queira. Mas também não faço questão.
Houve um tempo em que isso me causava algum dissabor. Namorei uma menina que, virava e mexia, repetia a cobrança que “em algum momento, eu precisaria terminar alguma coisa”. Só que escrever demanda tempo, espaço, concentração, silêncio… E o dia-a-dia quase nunca é compatível com essas demandas todas. Fica bem difícil parar pra escrever tendo de performar quarenta horas de trabalho remunerado na semana, fazer três ou quatro refeições ao dia (e cozinhar essas refeições), namorar, transar com um mínimo de regularidade e qualidade, tomar no mínimo um banho por dia, fazer mercado duas vezes por mês, atualizar a planilha de gastos, limpar a caixa de areia dos gatos, dar faxina na casa aos sábados, lavar a louça da cozinha, botar a roupa suja na máquina e a roupa da máquina no varal, separar o lixo reciclável, retirar o lixo, dar água pras plantas, acompanhar aquele seriado interessante da HBO, visitar os amigos, beber uns drinks no final de semana, comparecer naquele churrasco, naquele samba, naquela feijoada, na inauguração do barzinho, no lançamento do filme, na festa de casamento, no batizado da criança, no aniversário da chefe, no velório do pai de um colega, no show do Caetano… Saca?
E aí, depois de um tempo gastando muito fósforo da cabeça tentando organizar uma agenda, tentando “aproveitar” melhor cada espaço de tempo que me sobrava, ajustar rotinas e expectativas pra ser capaz de garantir alguma constância na produção dos meus textos, no avanço dos meus projetos pessoais, chegou um dia em que, simplesmente, desencanei. Larguei mão.
Se der pra escrever, escrevo. Se não der pra escrever, não escrevo e se o desejo (ou a necessidade) de escrever estiver grande demais pra ser adiada, deixo a louça na pia, o cinema pro final de semana que vem, o sexo pra depois, e vou lá, escrever.
Terminar algum projeto, aí já é outra história e — definitivamente — não está na minha lista de prioridades. O negócio que me diverte, que me dá prazer e sacia meu cérebro que nunca pára, é elaborar as histórias, planejar a estrutura, realizar as pesquisas, documentar tudo, montar as pecinhas, ler uma dezena de livros que tenham alguma relação com o tema ou o estilo do projeto em andamento, testar as possibilidades e brincar de ser escritora. É esse processo, o que mais me satisfaz nessa coisa toda. Não existe uma intenção deliberada de publicar, o desejo de que mais alguém leia (embora eu ame quando as pessoas lêem) ou a ambição de fazer sucesso. Caguei pro sucesso. Escrever é uma atividade que faço pra mim, sem compromisso com mais nada. Se alguém quiser participar da jornada (lendo, acompanhando, me motivando ou simplesmente saindo da frente), ótimo! Mas a prioridade sou eu, meu processo criativo, o prazer que obtenho dele, o tesão de criar alguma coisa inédita no meu tempo livre. Quando houver tempo livre.