Mar visto da praia com arco-íris

Sobre o tempo e o mar

Laura Emerim
2 min readApr 19, 2020

“Havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.” — Maiakóvski

eu não sei lidar com o tempo. ou melhor, não sei lidar com o excesso dele.

de longe, o considero infinito. aqueles três meses de férias, quantas possibilidades. porém, quando boa parte dele já passou, percebemos que não só há um fim como ele está muito próximo.

sei que não adianta chorar sobre o tempo derramado, e que a memória tenta nos sabotar dando mais ênfase às faltas que ao resto, mas, mesmo assim, me desespero e surge a culpa: sinto que estou o deixando escapar, como a areia da praia que escorre entre os dedos quando tentamos segurá-la.

também do litoral, surge outro um pensamento:

quando tenho tempo livre em meio à rotina, entre aulas e compromissos, é como um deliciosa ida à praia. entro no mar e me sinto mais leve, sem tantas obrigações. é um respiro. quando estamos na orla, percebe-se a finitude: o mar tem fim, bem sob nossos pés.

porém, quando o tempo livre é muito grande, me sinto perdida. É mar pra tudo que é lado e não sei onde fica a costa.

há quem, perdido no meio do oceano, consegue ser feliz. flutuando sobre as ondas, deixam a brisa marinha bater no peito e pensam “que bom que eu estou aqui”.

“Mas onde você nada, ela se afoga.”

Foi o que o escritor James Joyce ouviu quando mostrou um texto de sua filha a Jung.

Ouvi essa frase e a história por trás dela em uma aula que fiz em 2015 justamente para escapar desse excesso de tempo. Meu colégio estava em greve e, para não ficar à deriva até as aulas voltarem, comecei a frequentar uma aula na universidade. Como podemos ver, meu problema é antigo.

O professor também tinha mar no nome.

eu só penso em voltar pra beira, dar uma de Amyr Klink e fazer do mar caminho. mas sem estar à bordo do Paratii, nem ao menos com uma bússola na mão, é difícil saber para que lado ir.

estava pesquisando sobre o Paratii para ver se achava algum instrumento de navegação moderno além da bússola para esse texto (não sei se o astrolábio que me fascinava no ensino fundamental ainda tem uso, nem se eu saberia usá-lo para achar um rumo). não achei. mas achei isso aqui.

“Os lugares mais interessantes do mundo são os mais rasos”

se ele, que já navegou o atlântico de leste a oeste, de sul a norte e depois de novo de norte a sul, prefere os lugares rasos, quem sou eu para discordar?

sim, tem quem goste das profundezas e nade por entre as focas, mas eu, como a filha de Joyce, me afogo por lá.

--

--