Como os Estados Unidos perderam a Guerra Fria e quais foram as consequências para o Brasil

Leandro Ruschel
15 min readDec 27, 2017

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É praticamente uma unanimidade entre historiadores a vitória dos Estados Unidos no conflito contra a União Soviética conhecido por Guerra Fria. O nome foi dado pelo fato de não ter havido uma única batalha militar direta entre essas duas potências, apesar dela representar a maior corrida armamentista da história e de dezenas de conflitos diretos serem travados por países satélites dessas potências.

A queda do Muro em 1989 e posterior dissolução da URSS é apresentada como prova da vitória americana após décadas de violento confronto entre dois modelos muito diferentes de sociedade.

Na versão oficial da história, o bloco soviético colapsou diante da sua própria ineficiência econômica, especialmente pela sua impossibilidade de continuar a corrida armamentista, acelerada pelo projeto “Guerra nas Estrelas”, de Reagan, que junto com Thatcher formou a frente política que teria colocada o último prego no caixão do regime mais opressor e mortal que já surgiu na face da Terra.

Depois da queda do Muro, o “capitalismo” teria provado a sua superioridade contra o “comunismo”, a democracia representativa passaria a ser o modelo de organização política padrão e passaríamos por uma fase de paz e crescimento sem precedentes, onde não haveria mais espaço no mundo para ditaduras brutais em larga escala.

Bem, os dois lados dessa disputa eram capitalistas, apesar de serem capitalismos muito diferentes, a URSS nunca foi comunista nem nunca poderia ter sido porque o comunismo é inviável e na verdade a democracia representativa nunca foi o grande fiador do Mundo Livre. Apesar de uma fase positiva para o mundo pós-Muro, nem de longe foi o período de maior crescimento econômico.

Depois de quase três décadas de queda do Muro, podemos fazer uma avaliação mais precisa sobre a “vitória” americana na Guerra Fria. Explico as aspas: como podemos afirmar que os valores americanos foram os vencedores se tivemos entre 2009 até 2017 o mais esquerdista presidente americano da história? E nas primárias para as eleições de 2016 tivemos o fenômeno “Bernie Sanders”, um velho simpatizante do socialismo soviético quase ganhando a indicação do Partido Democrata, com um apoio massivo dos eleitores mais jovens.

Olhando para fora dos EUA, a situação não fica melhor. A América Latina foi dominada quase que completamente por partidos socialistas, a União Européia é uma versão light da URSS e a China comunista desponta como uma grande potência econômica e militar.

Alguém pode argumentar que o socialismo presente hoje nos EUA ou na Europa não pode ser comparado com o socialismo soviético, especialmente em termos de opressão e de sofrimento gerado, o que podemos rebater com a tese que o vírus socialista sofreu mutações importantes que o fizeram mais transmissível. Mesmo causando menos mortes hoje, ele permanece extramente perigoso do ponto de vista do cerceamento do mais importante direito humano: a liberdade.

Essa mutação ocorreu durante a própria Guerra Fria e depois de meio século do seu surgimento podemos observar o quanto efetiva ela foi. Mas antes de explicá-la, precisamos dar alguns passos para trás.

Seria basicamente inviável nesse artigo voltar até a gênese da URSS na Revolução de 1917, mas precisamos pelo menos voltar para o final da Segunda Guerra. Após dezenas de milhões de mortos, especialmente entre soldados e civis e soviéticos, Stalin surge como um líder muito poderoso, numa das maiores contradições da história, visto que o mundo havia se unido para lutar contra a brutal ditadura nazista, mas tomou como aliado uma ditadura ainda pior. Sem contar o fato dos soviéticos terem colaborado com o regime nazista desde o princípio, inclusive oferecendo o seu conhecimento sobre campos de extermínio e as técnicas para a propaganda política.

Mas após a derrotar o Eixo, as potências ocidentais estavam fartas de Guerra e resolveram varrer para baixo do tapete essa “pequena” contradição, deixando o leste europeu ser entregue à opressão soviética.

“De Estetino, no Báltico, até Trieste, no Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre o continente. Atrás dessa linha estão todas as capitais dos antigos Estados da Europa Central e Oriental. Varsóvia, Berlim, Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste e Sófia; todas essas cidades famosas e as populações em torno delas estão no que devo chamar de esfera soviética, e todas estão sujeitas, de uma forma ou de outra, não somente à influência soviética mas também a fortes, e em certos casos crescentes, medidas de controle emitidas por Moscou” Winston Churchill, 1946

Os EUA rapidamente estabeleceram uma vantagem militar no final da Segunda Guerra, com a criação da bomba atômica. Poderiam ter usado essa vantagem para pressionar a URSS a voltar as suas fronteias originais pré-guerra, mas ao invés disso viram a vantagem se desfazer rapidamente quando a URSS roubou a tecnologia da bomba e construiu a sua em 1949.

Logo em seguida os EUA criaram a bomba de hidrogênio, novamente a tecnologia foi roubada pelos soviéticos. A partir daí, ficou claro que seria impossível vencer uma guerra entre as duas potências. A tecnologia passou a evoluir no sentido de garantir a mútua destruição e com isso impedir o início de um conflito militar, que chegou a ser uma ameaça real em algumas oportunidades, especialmente no início da década de 60 com a Crise dos Mísseis em Cuba.

A guerra então passou a ocorrer num outro nível, basicamente através de propaganda e de influência cultural, além da própria atividade de espionagem e infiltração em todas as esferas desses governos com objetivo de desestabiliza-los e sabotá-los.

E nesse ponto a URSS foi imbatível. A KGB chegou a ter mais de 500 mil funcionários diretos, fora a rede de milhões de informantes e colaboradores, além da rede de outras agências de inteligência no Leste Europeu. A Stasi, polícia secreta da Alemanha Oriental tinha mais de 90 mil funcionários, sendo que um a cada 6 alemães era informante da agência.

É fácil de entender porque a URSS possuía um aparato de inteligência muito mais efetivo do que os EUA ou outros governos ocidentais. Enquanto nos EUA a base do sistema é a liberdade, a base do poder soviético é a concentração do poder, através do medo e do terror.

Nos EUA há liberdade política, ou seja, qualquer um pode criticar o governo, que precisa sistematicamente prestar contas à sociedade. Qualquer um pode se candidatar aos principais cargos de poder. A imprensa é livre e constantemente investiga e dá publicidade a abusos ou outros mal feitos no governo. Por outro lado, mesmo na Rússia de hoje podemos ver o traço autoritário do governo, onde há o controle de absolutamente tudo, desde escolas até o parlamento, passando pelos meios de produção, imprensa e da produção cultural, formando um sistema fechado de poder.

Nesse tipo de sistema, é preciso desde já manter pressão sobre a população para evitar o surgimento de qualquer tipo de oposição, além de manter as aparências através de um constante estado de mentira, de negação da realidade.

Após a Segunda Guerra, os soviéticos já tinham uma larga experiência em manipulação, o que fez muita diferença na guerra cultural que se iniciou após o impasse nuclear.

Um dos livros mais importantes que revela essa guerra de bastidores é o “Desinformação”, escrito pelo General Romeno Ion Mihai Pacepa, o militar de mais alta patente do bloco soviético a desertar para o Ocidente. Ele era Chefe da Securitate, a KGB romena e assessor direto do ditador Nicolae Ceauşescu.

Nesse livro, Pacepa dá uma ideia do tamanho do aparato soviético e de sua influência no mundo.

O primeiro objetivo dessa Guerra era apresentar os valores socialistas como positivos para o mundo, de uma maneira muito sutil. Como bem explica o General Pacepa, toda operação de desinformação parte de alguma verdade.

Por exemplo, existem problemas sérios no mundo, entre eles a pobreza. A falta de comida e de meios dignos de subsistência é uma realidade inquestionável, apesar do nível de pobreza global ter diminuído radicalmente desde a Revolução Industrial, mas isso não interessa à propaganda socialista.

Então eles partem de uma verdade, a pobreza, e distorcem as informações para associar a pobreza à exploração dos pobres pelos ricos, representados pela nação mais rica do planeta, os EUA. Voilá, numa tacada só é criada não só uma mentira (os pobres existem porque são explorados pelos ricos) com base numa verdade (existe a pobreza), como também é gerada uma justificativa pelos piores crimes que a humanidade já presenciou. Os regimes comunistas mataram mais de 100 milhões de pessoas no século passado em busca de um “mundo melhor”, da criação de um sistema de “justiça social”. Esse então seria o segundo objetivo da guerra: ocultar os crimes soviéticos e na impossibilidade de ocultá-los, justificá-los.

Partindo da vasta experiência em desinformação interna, que criaram as condições para a Revolução de 1917 e depois mantiveram o regime de pé por décadas, foi criada a maior operação de guerra da história. Ela consistia na infiltração de órgãos estatais de governos ocidentais, da imprensa em geral, de Universidades, de organismos internacionais como a ONU, das principais Igrejas, da criação e financiamento de movimentos de oposição socialista nesses países, da cooptação de escritores e artistas em geral, da própria criação de movimentos culturais completos, como a Escola de Frankfurt e a New Left americana, entre centenas de outras iniciativas. Onde existia uma posição de poder, ela deveria ser subvertida e colocada a disposição da revolução socialista.

A base filosófica da revolução pode ser entendida da seguinte forma: a sociedade humana é injusta e reflete uma ordem ultrapassada, que precisa ser reformada completamente. As estruturas sociais antigas, representadas pela família patriarcal, pela Igreja, pela Justiça e pelo Estado precisam ser destruídas para a formação de um “novo homem” e de uma “nova sociedade”, que passaria por uma fase de transição violenta para uma situação de total liberdade anárquica.

Para os crentes da religião marxista, Deus é o paraíso que será criado no futuro e o único mandamento é buscar esse paraíso a qualquer custo, mesmo que seja cometendo os piores crimes que a humanidade já viu.

Obviamente que o VERDADEIRO objetivo da religião marxista é colocar o poder na mão da Vanguarda, os profetas de Marx, seres iluminados que tem a vida e a morte de todos em suas mãos.

A primeira onda da revolução foi extremamente violenta, criando um contra-movimento poderoso. A partir daí os teóricos marxistas perceberam a necessidade de uma abordagem mais sutil para atingir os seus objetivos. Matar opositores ou mandá-los para o Gulag estava gerando uma péssima propaganda. Esse é outro motivo para a Revolução Cultural ter surgido, em conjunto com a impossibilidade de conquista militar por conta da mútua destruição assegurada pelas armas nucleares.

Talvez o autor que captou de maneira mais completa tudo isso foi o George Orwell com o seu 1984, uma distopia futurista que apresenta os principais truques de desinformação, como a manipulação da própria língua para limitar a forma de pensar de qualquer pessoa. Por exemplo, na ficção de Orwell, o partido no poder criou a novilíngua, um dicionário em constante evolução que retirava de circulação palavras “perigosas”, como oposição. Assim, como alguém poderia pensar em fazer oposição ao governo se o próprio tema não existia?

De fato, isso foi amplamente utilizado pelos soviéticos. Por exemplo, todos os movimentos militares patrocinados pelos soviéticos pelo mundo usavam a palavra “liberação”, desde Organização para Liberação da Palestina até o Exército de Libertação Popular Chinês, entre dezenas de outros movimentos.

Mas como se dava toda essa operação na prática?

A KGB era o grande cérebro da operação, respondendo diretamente ao Politburo, o Comitê Central do Partido Comunista. Com as diretrizes definidas, as operações eram divididas entre outras polícias secretas do bloco soviético. A Securitate de Pacepa, por exemplo, era responsável pelas operações no Oriente Médio.

Desde o começo, havia a clássica infiltração de agentes soviéticos em órgãos de interesse, que possibilitaram por exemplo o roubo da tecnologia nuclear. Quando um agente não era o responsável direto, ele tentava cooptar alguma pessoa de interesse, utilizando eventualmente propinas, mas principalmente técnicas de conversão ideológica.

As pontas de lança eram os próprios partidos comunistas espalhados nos países ocidentais, como as embaixadas soviéticas. Jornalistas, cientistas, artistas de destaque, professores, políticos e outras lideranças comunitárias eram abordadas direta ou indiretamente. Recebiam presentes, bolsas de estudo, ou até mesmo viagens para a estudar em Moscou. Os candidatos a se transformar em agentes de influência acima de tudo estariam ajudando a criar “um mundo melhor”, “uma sociedade mais justa”, um apelo especialmente sedutor para os mais jovens, naturalmente mais afeitos às aventuras e também à revolta contra a “opressora” sociedade conservadora.

É muito mais interessante viver o mundo lúdico da revolução pela liberdade e justiça social em contraposição ao chato mundo da economia de mercado, com os seus recursos finitos e necessidade de aumento de eficiência para geração de riqueza. Muito melhor pensar na liberdade sexual ilimitada do que nos óbvios riscos de DST’s e da gravidez indesejada, além da desestruturação da família.

É muito mais atraente acreditar na ideia que eu não tenho nada porque algum burguês me explora do que aceitar a realidade da minha incapacidade ou mesmo preguiça de trabalhar duro.

Imaginem uma máquina gigantesca trabalhando 24 horas por dia, 365 dias por ano durante décadas a fio com o único objetivo de transmitir a ideia de destruição das bases da sociedade e criação de uma nova sociedade, liderada por uma vanguarda de iluminados socialistas que querem apenas “ justiça e igualdade”!

Pacepa comenta em seu livro “Desinformação” que um dos mais influentes diretores da KGB de todos os tempos, que chegou a ser Secretário-Geral do Partido Comunista comentou com ele que uma vez iniciada a Revolução Cultural, ela não poderia ser mais freada por ninguém. Ela teria vida própria.

Tanto é verdade que mesmo décadas após a queda do Muro, vemos os efeitos dessa guerra como nunca antes!

É impossível não ler a matéria num grande jornal, um livro, ver um filme, ou o discurso de um político qualquer, de esquerda ou de direita, sem identificar a influência da Guerra Cultural.

Como disse Michael Moore, talvez o mais canalha diretor de cinema de todos os tempos, um monumento à desinformação, a Guerra Cultural foi ganha.

Os americanos hoje aceitam pagar mais impostos, aceitam um governo central cada vez mais intrometido nas suas vidas, o monopólio estatal na educação, um crescente controle de armas, a diminuição de autonomia dos Estados da Federação, o aborto, a destruição da família tradicional, a diminuição do poder americano no mundo, a regulamentação pesada dos negócios, os programas de bolsas governamentais entre dezenas de outras agendas socialistas.

Mais, eles elegeram por duas vezes um presidente que é discípulo ardoroso de Saul Alinsky, revolucionário esquerdista da década de 60 que é fruto direto da Guerra Cultural. Alinsky foi um os lideres estudantis que organizaram as mega manifestações contra a Guerra do Vietnã, um movimento fortemente incentivado pelos soviéticos. Como resultado, os EUA abandonaram a guerra e permitiram que todo o sudeste asiático caísse na mão dos comunistas. Resultado: um milhão de mortos e 5 milhões de perseguidos políticos no Vietnã. No Camboja houve a tomada do poder pelo Khmer Vermelho, regime comunista que exterminou 4 milhões de cambojanos, quase a metade da população.

Aposto que você não sabia o que ocorreu no pós Vietnã. Não é para menos, essa história foi escrita e reescrita muitas vezes pelos milhões de professores de história esquerdista, mais um fruto da Guerra Cultural.

Olhando para o Brasil, vemos dezenas de historiadores forçando a barra para tentar provar, sem sucesso até hoje, a participação americana no Golpe de 64. Mas por que não há quase nenhuma informação sobre a influência soviética para a organização de movimentos marxistas organizados com o único objetivo de criar uma ditadura do proletariado no Brasil?

Tal influência ocorre desde a década de 20 e esteve presente em praticamente todos os movimentos esquerdistas desde então. Em 64 havia dezenas de movimentos violentos, inclusive com a participação de figuras conhecidas atualmente na política nacional, como a própria ex-presidente Dilma Rousseff. Todos esses movimentos receberam suporte operacional da URSS. Obviamente que dado o contexto da Guerra Fria os EUA apoiariam o regime militar que foi motivado justamente pelo interesse desses grupos de esquerda em transformar o Brasil numa grande Cuba.

O próprio Partido dos Trabalhadores foi cria indireta da KGB e o General Pacepa conta essa história parcialmente no seu livro. Ele discorre sobre o apoio soviético à criação de um movimento dentro da Igreja Católica chamado Teologia da Libertação, uma completa distorção da mensagem cristã tentando aproximá-la do marxismo.

Só uma mente muito sádica poderia criar esse tipo de interpretação, especialmente com os repetidos episódios de perseguição que a Igreja Católica e outras igrejas sofreram em regimes comunistas. Por conta disso o próprio Papa XII baixou um decreto papal sugerindo a excomunhão automática para os defensores do comunismo.

Um dos fundadores da Teologia da Libertação foi Frei Betto, que veio a ser também fundador do PT e abriu as portas da Igreja para o partido.

A queda do Muro trouxe um rearranjo da esquerda, que se movimentou para apoiar um socialismo mais democrático, pelo menos temporariamente. A base utilizado foi o Socialismo Fabiano europeu, turbinado pelas ideias de Antonio Gramsci, o filósofo comunista italiano que apresentou várias técnicas da Guerra Cultural e de infiltração do movimento em todas esferas do Estado e da sociedade.

Esse movimento teve especial acolhida na esquerda latino-americana, mas com um viés mais autoritário do que aquele apresentado na Europa. Em 1990 o próprio PT encabeçou a aliança de vários partidos esquerdistas que nos anos seguintes tomaram o poder nos principais países da América do Sul, como Brasil, Argentina, Venezuela, Equador e Bolívia, sofrendo forte influência da ditadura cubana.

Os resultados foram catastróficos. A destruição da Venezuela só tem paralelo com a própria destruição de Cuba. O país que poderia ser considerado rico para os padrões sul-americanos hoje apresenta a maior taxa de homicídio do mundo, e uma situação econômica de penúria, com falta de absolutamente tudo, de comida a remédios. O regime político é uma ditadura comunista na prática, com o fim da imprensa livre e perseguição pesada da oposição.

No Brasil o PT organizou o maior esquema de corrupção não só da história do país, mas do mundo ocidental. Centenas de bilhões de reais foram desviados de estatais, dos bancos públicos e de fundos de pensão, parte destinado ao enriquecimento pessoal dos membros do partido, a maior parte utilizada para a manutenção do partido no poder e da ajuda aos movimentos bolivarianos sul-americanos.

Pior do que a roubalheira é “A Corrupção da Inteligência”, título do livro de Flávio Gordon, onde o autor apresenta o verdadeiro colapso intelectual brasileiro causado pelo monopólio do socialismo como única ideologia política aceita na Academia e em outros círculos de influência. Tal fenômeno explica os motivos da nossa mediocridade em relação ao mundo, representando uma verdadeira camisa de força que impede a criação de conhecimento e riqueza, representando uma tragédia multigeracional.

Quando um país abre mão de controlar o seu próprio destino, acaba sendo um reflexo das forças externas, o que não é necessariamente ruim, dependendo da origem dessa influência. Nesse caso, para entender o Brasil, é preciso estudar a evolução de tais forças ao longo da história. No jogo da Guerra Fria, o país quase caiu sob total influência soviética. E mesmo quando foi salvo desse destino em 64, o próprio Regime Militar que dominou o país por duas décadas foi profundamente estatizante, além de ter aberto espaço para a esquerda na Guerra Cultural, plantando a semente para a implementação do monopólio socialista na cena política brasileira após a abertura política, formando um terreno fértil para o “socialismo light” que dominou o mundo pós Guerra Fria.

Dessa forma o Brasil se transformou num campo de testes para todos os experimentos socialistas, onde as decisões são tomadas em outros círculos e implementadas aqui com extrema velocidade. Por exemplo, a transformação da Igreja Católica numa rede de apoio aos partidos de esquerda, a perda da soberania nacional em nome do ambientalismo e da “proteção dos índios”, a libertinagem sexual com o objetivo de destruir a família, a transformação de bandidos em vítimas da sociedade travestida de imposição dos “direitos humanos”, o fim da liberdade de opinião vendida como ataque ao “discurso de ódio”, o feminismo radical que transforma homens em seres malignos, o racialismo radical que transforma negros em eternos escravos e brancos em exploradores desde o berço, a definição das lideranças com base no seu grau de vitimização social e não pelo mérito, só para citar alguns movimentos que foram gestados desde fora e implementados no país com as consequências óbvias e desastrosas: a destruição da justiça que levou há um nível de violência absurdo, a formação da mais corrupta elite política da nossa história, a criação de um ambiente tóxico em todos os níveis com dificuldades quase intransponíveis impostas aos empreendedores e um sistema escravagista, onde especialmente os mais pobres precisam trabalhar a maior parte do tempo para sustentar aqueles que mamam gostosamente nas tetas estatais.

Não é tão complicado entender o que nos trouxe até aqui. Difícil é mudar essa realidade, já que ela se desenvolve no plano nacional e internacional ao mesmo tempo. A eleição de Donald Trump demonstra que os conservadores ainda tem voz no país mais poderoso do planeta, mas a fortíssima oposição que ele sofre demonstra que a Hegemonia gramsciana já está praticamente implementada. Oposição não é bem a expressão correta, o que está ocorrendo nos EUA é a imposição do socialismo como único sistema aceito, qualquer ideia diferente é tratada pela elite intelectual como barbárie. Dessa forma, o governo conservador de Trump é atacado de maneira vil sistematicamente pela imprensa e pelo establishment político, até mesmo dentro do seu próprio partido. O próprio Trump é retratado sempre da pior forma possível.

No Brasil, a queda de Dilma Rousseff representou um breve momento de esperança, destruída pela demonstração posterior de poder absoluto mantido pela união dos chefes do executivo, legislativo e judiciário com o objetivo de acabar com a operação Lava Jato e manter a elite bandida no poder. PT e PMDB já discutem abertamente uma possível aliança para as próximas eleições, que será realizada por urnas eletrônicas inauditáveis e paga exclusivamente por verbas públicas controladas pelos mesmos partidos que saquearam o país, garantindo que os mesmos bandidos sejam os eleitos. Quase todos os candidatos diferem apenas no grau de socialismo que defendem.

A situação global e brasileira provam que os soviéticos podem ter perdido a Guerra Fria, mas o socialismo foi o grande vencedor.

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Leandro Ruschel

Especialista em investimentos. Apaixonado por filosofia e ciência política. Empreendedor. Admirador da excelência. Conservador.