Resenha do filme “Parasita” (2019)

Letícia Zamboni
5 min readJul 6, 2024

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O longa “Parasita” é um filme sul-coreano com um misto de comédia, suspense e crítica social, dirigido por Bong Joon-ho. Lançado em 2019, o longa foi declarado por muitos críticos como o melhor filme do ano, além de ter garantido vários prêmios, entre eles um Oscar de melhor filme.​

“Parasita” trata da desigualdade de classe entre duas famílias com humor e suspense andando lado a lado. O filme conta a história e relação de duas famílias lidando com os contrastes e espelhamentos de classes diferentes entre elas. Uma distopia na qual vive a Coreia do Sul e o mundo, o longa faz um resumo brutal a sociedade em que vivemos. Em vários momentos durante a narrativa, me peguei chocada com as situações em que os personagens se submetem.​

Tudo começa como uma comédia ácida, mas conforme a trama se desenrola conseguimos observar uma sátira social com elementos de suspense e horror. Através de uma série de mentiras e planos mirabolantes, a família consegue se “infiltrar” na mansão luxuosa, exatamente como um parasita que habita um corpo sem que ele perceba. Porém, além disso, a casa também está cheia de mistérios que os protagonistas vão desvendando ao longo da narrativa.​

O longa realmente começa quando um amigo da família chega com um presente: um talismã feito para atrair riqueza, além disso, uma grande oportunidade de trabalho, propondo que seu amigo o substitua, assim, se passando como um professor de inglês. O jovem então, aceita logo de cara, e a partir disso, sua irmã falsifica um diploma de uma universidade conceituada.​

Logo que é contratado, ele descobre que existe uma vaga de professora de arte e passa o contato de sua irmã, que finge ser outra pessoa, Jennifer. A irmã é uma garota muito esperta, que costumava trabalhar como atriz em velórios, e estava acostumada a enganar pessoas. Então, depois de uma pesquisa rápida no Google, ela encontra argumentos para convencer a dona da casa de que o filho precisa fazer sessões de arte terapia, a partir disso, os irmãos conseguem entrar na mansão dos Parks com facilidade.​

Pouco tempo depois, eles planejam um jeito para que os Parks demitem o motorista. Durante uma carona, a jovem irmã deixa a sua lingerie no banco de trás, para o patrão encontrar e demitir o tal motorista, e assim, o pai acaba sendo contratado como motorista do patriarca, usando o nome de Mr. Kevin. Finalmente, eles só precisam arrumar um emprego para a mãe, mas, para isso, precisam tirar a empregada do caminho. A funcionária permaneceu na mansão quando ela foi vendida para os Parks e conhece a casa melhor que qualquer um. No tempo livre, eles vão elaborando esquemas e treinando suas grandes mentiras, com um roteiro pronto, para tudo sair perfeito. Quando eles descobrem que a empregada é alérgica a pêssego, eles fazem de tudo para amplificar sua alergia, fazendo a mulher ter crises cada vez piores. Simultaneamente, eles convencem a patroa que a pobre empregada está com tuberculose. E, de repente, ela é demitida e obrigada a deixar a casa, com um sentimento notório de aflição.​

Certo dia, os patrões foram acampar, deixando eles sozinhos aproveitando a mansão, quando de repente, a antiga empregada surge no meio da tempestade, e assim, a familia descobre a existência de um bunker secreto que abriga um homem há anos. A mulher explica que o seu marido vive ali trancado, pois vivia com muitas dívidas e corria risco de vida. Exatamente como os protagonistas, estes dois personagens estavam desesperados e encontraram refúgio na espaçosa mansão sem que os donos percebessem.​

No fim, vemos os dois grupos batalhando pelo lugar de “parasita” na casa, pois sabem que não poderão coexistir sem que os patrões reparem. No entanto, quando os Parks voltam para a casa durante a noite, os protagonistas trancam a antiga empregada e seu marido no bunker, enquanto organizam toda a residência e se escondem. Sem que os donos reparem, o motorista e seus filhos conseguem fugir da mansão no meio da forte chuva, e quando finalmente chegam no seu apartamento, tudo está alagado e destruído. Enquanto, a casa dos Parks está em total harmonia e o filho mais novo até dorme em uma tenda no jardim.​

Sem rumo, sem dinheiro e com a casa destruída, o que motivava aqueles personagens se torna mais compreensível: eles apenas estão lutando por um teto. Então, no dia seguinte, eles precisam trabalhar e ajudar os Parks com todos os preparativos para a festa de aniversário do caçula. No carro, a madame cobre o nariz com a mão, manifestando desagrado pelo cheiro do motorista. Ele repara e se enfurece rapidamente, deixando claro em sua expressão facial. Durante a festa, o filho do motorista, desce até o bunker e acaba libertando o homem sem querer.

Quando se liberta, o homem tem sede de vingança e não poupa o jovem menino e sua irmã. Depois de esfaquear a mais nova, o assassino parte para cima do dono da casa, enquanto o motorista (que parece estar paralisado) escuta as ordens do patrão que está gritando, e observa a expressão de nojo perante o cheiro do mesmo, e sem pensar ele pega a faca e, em vez de atacar o assassino da filha, acaba matando o patrão e se escondendo em seguida no bunker da casa.​

O longa retrata acontecimentos trágicos, entre mortes sangrentas e momentos que provocam ansiedade. Porém, mesmo assim, “Parasita” possuiu uma dimensão cômica inegável, com um humor macabro, capaz de nos fazer rir nos piores momentos. Além de falar sobre dinheiro, sua abundância e também a sua ausência. Tudo isso vai ficando mais evidente através da narrativa, que vai esclarecendo e confundindo o telespectador, a cada cena.​

Ao longo do filme, ele joga com a nossa capacidade de sentir empatia, ou não, por estes indivíduos e os atos absurdos que cometem. À primeira vista, a família dos protagonistas, são claramente os vilões da história, sendo assim, uma família manipuladora, que invade a vida de outra família e ameaça a sua segurança. Por outro lado, quando eles recebem o “castigo merecido”, podemos considerar que tudo acabou bem, e assim, é possível encarar a trama com outra visão, mais atenta à sociedade sul-coreana e as suas desigualdades gritantes. Através dessa perspectiva, podemos considerar que estes sujeitos mentem e dão golpes por sobrevivência.​

Todos os personagens que estavam tentando viver naquela casa como “Parasitas” têm algo em comum: a falta de opção. A vida miserável que não oferecia saídas, e, por isso, qualquer oportunidade precisava ser agarrada com unhas e dentes. Ao longo da trama, vamos sentindo um mal-estar, cada vez mais intenso, entre os patrões e os empregados, principalmente o motorista. “O dinheiro é como um ferro de passar” Uma das frases ditas no filme. Vivemos em uma sociedade capitalista, e assim, os funcionários observam o cotidiano dos Patrões e percebem como a vida deles é mais fácil, mais agradável e muito mais feliz.​

Apesar do universo obscuro em que a história entra, as reflexões sobre a pobreza e a riqueza, têm um tom universal. Um exemplo é a sequência do filme em que chuvas fortes provocam inundações que para a família pobre implicam na destruição de sua casa, enquanto para a outra, representam apenas a interrupção de um acampamento. O longa surpreende, diverte, assusta e trabalha questões do presente, fazendo nós telespectadores, refletirmos.

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Letícia Zamboni
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Jornalista, Escritora e apaixonada por Cinema, Cultura Pop e Moda.