Comunidades são organismos livres

Leonardo A. Souza
4 min readNov 12, 2014

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E eu e você somos instrumentos delas

tl;dr

Comunidades vivem e se movimentam. Eventos aconteceriam mesmo que o criador ou idealizador não tivesse feito, pois eles surgem de interesses da comunidade e acontecem por causa delas, não dos seus mentores.

The long story short

Eu comecei a me envolver de verdade com comunidades de desenvolvedores em 2010. Eu tinha vergonha, me achava incapaz e achava que os caras fodões que frequentam essas comunidades não iriam querer saber de mim. Então eu conheci dois caras: @yogodoshi e @leobalter

Eu fui numa palestra do Cayo (@yogodoshi) no Instituto Infnet. Eu lia o blog dele e o seguia no Twitter. Ele falou sobre a grande novidade que era usar o Wordpress como um CMS de uso geral e não só como uma plataforma de blogs. Foi legal. No fim da palestra eu falei com ele e, para minha surpresa, ele lembrava de mim do Twitter.

Tempos depois, também por causa do Cayo, eu fiquei sabendo que estavam organizando o primeiro FrontInRio. Eu achei a ideia tão legal que fui perturbar o Balter (um dos organizadores) via Twitter. Eu achava que o site podia ser melhor. Ele me mandou o link do repo da página no GitHub… eu nem sabia o que era GitHub. Fiquei tão empolgado com a possibilidade de ajudar que aprendi a mexer na interface web daquilo na marra.

Dias depois fui ao meu primeiro evento da área. Um EDTED. O Balter deu uma palestra sobre HTML5 (e HTML11). Fui falar com ele "Oi, sou o chato que ficou te pentelhando outro dia sobre o site do FrontInRio". Quem conhece o Balter sabe que ele gosta de gente meio maluca. E ele me deu, na hora, um ingresso de graça pro FrontInRio.

O FrontInRio mudou minha vida.

Lá eu conheci um monte de gente sinistra e descobri que todo mundo era gente que nem eu. @davidsonfellipe, @bernarddelunna, @ruanmer, @tiutalk, @ramonpage, @zenorocha, @keppelen essa galera tava toda lá. Alguns dando palestras, outros batendo papo no corredor. E foi num desses papos de corredor que o Davidson surgiu com a ideia do RioJS.

O resto é história.

Mas por que eu contei isso?

Sacou que esse monte de coisas legais rolou porque uns caras resolveram juntar fisicamente um monte de desenvolvedores que só interagiam praticamente via web?

A comunidade JS/front-end do Brasil evolui muito com o fortalecimento das comunidades locais. Agora tem frontin em vários lugares do país. Tem meetup em um monte de cidades. Hoje em dia os salários são mais justos e os profissionais mais valorizados e disputados. Novas referências surgem o tempo inteiro.

Esses são movimentos da comunidade. Essas pessoas todas que organizam eventos e ajudam na fomentação são instrumentos das próprias comunidades. Eles tem um GRANDE valor, mas ainda são menores que a comunidade em si.

Tem gente que ainda não entendeu que comunidades são organismos sociais. Comunidades, as boas mesmo, não tem donos. Podem até ter líderes, mas não donos.

Uma coisa que eu admiro no Leo Balter é que ele não fica por aí se vangloriando de ter feito o primeiro frontin. Foi ótimo ele ter feito. Se não fosse ele talvez demorasse um pouco mais, mas esse seria o caminho natural pra comunidade no Brasil. Muitos kudos pro Balter! Muitos kudos pra todos os organizadores, palestrantes e community managers que surgiram antes, depois e ainda vão surgir! Mas entendamos todos nós: as comunidades são maiores (e mais importantes) que cada um de nós. E elas vivem mesmo sem nós.

Não é por que eu organizei um evento na minha cidade ou viajei sei lá quantas horas/quilometros pra dar uma palestra ou criei um grupo no facebook/google que eu sou tão mais importante que o cara novo que foi num evento pela primeira vez.

Não, cara, tá errado! Você foi o instrumento da comunidade pra ajudar aquele e outros caras à evoluir. Se não fosse você, alguem faria. Acredite. Alguém faria, talvez até melhor que você. Seja mais humilde.

Vamos combinar uma coisa?

Não diz por aí o quanto uma comunidade tal é privilegiada por ter um cara como você que se sacrifica pra fazer um evento. Eu sei que organizar evento é complicado e cansativo. Custa dinheiro e tempo. Dá uma dor de cabeça da mulesta. Mas, repito, se não fosse você, outra(s) pessoa(s) faria(am). Serinho.

Não quero te magoar, mas repense o seu papel na comunidade. Você e nós, a comunidade inteira, só temos a ganhar com isso. Crie eventos. Dê palestras. Organize meetups. Isso é saudável. Mas não esqueça que você é só a maneira que a sua comunidade encontrou de se movimentar. Poderia ter sido outro e, provavelmente, no futuro outros te substituirão.

Quer um exemplo recente?

A galera que organizava o FrontInRio desistiu do evento. Surgiu o @pedropolisenso, até então desconhecido da comunidade carioca, juntou uma galera e, em meio à acertos e erros, mandaram bem no Front-end Carioca.

Há uma demanda da própria comunidade, então o Rio continua tendo seu evento anual de front-end. Alguém fez. Foi o Pedro. Obrigado, Pedro!

Comunidades vão se movimentar. Colabore e participe do movimento. Mas seja humilde. Sempre.

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Leonardo A. Souza

Chato. Carioca suburbano. Flamenguista. Web Developer. Chato.