Despedindo do meu primeiro produto

Leonardo Lino Vieira
7 min readApr 25, 2016

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Chegou o momento de descontinuar minha primeira obra, pela qual carrego um certo valor sentimental. Seria muito injusto de minha parte apenas descontinuá-lo sem registrar algum tipo de tributo, nem esclarecimento aos usuários e envolvidos. Por esse motivo, estou estreando na plataforma Medium.

O Day to Day Training foi meu primeiro projeto de aplicativo, meu primeiro produto. Ele tem a função de ajudar treinadores a gerenciar treinos e avaliações dos atletas diretamente no celular.

Página do aplicativo no Facebook

O início do projeto

A ideia surgiu no início de 2012, quando ainda cursava Sistemas de Informação, na UFSC. Ao presenciar, na academia que frequentava, o personal trainer Fernando Arruda utilizando um tablet para acompanhar o treino de uma aluna, perguntei a ele que aplicativo estava usando. Para minha surpresa, eram tabelas de Excel. Vi ali a oportunidade de fazer algo melhor.

Assim que cheguei em casa, parti para a pesquisa de mercado. De fato, não existia nada (ao menos não encontrei) parecido com o que eu queria fazer, então comecei a especificação do projeto. Idealizei como um projeto pessoal nas horas vagas, que me forçaria “na marra” a realizar três objetivos principais:

1) Especializar em desenvolvimento de software mobile: Eu já desenvolvia software profissionalmente há alguns anos, mas nunca específico para mobile. Não existia matéria específica na faculdade que ensinasse (até hoje acredito que não exista), não haviam cursos técnicos, o material na época era escasso e nenhum conhecido desenvolvia para Android ou iOS. Por sorte, a comunidade estava começando a ganhar uma certa força lá fora (muito obrigado StackOverFlow) e pude contar com um ótimo livro sobre desenvolvimento Android de Ricardo Lecheta (melhor autor brasileiro na área, recomendo);

2) Botar em prática o que havia aprendido com estágios/trabalho/faculdade quanto a processo de desenvolvimento, passando e sendo responsável por todas elas;

3) Possivelmente (ainda que de forma muito tímida) entrar no mundo do empreendedorismo, que me interessa desde criança. Apesar de soar piegas, sempre quis realizar projetos que melhorassem como as coisas são feitas. Além disso, queria me testar, para ver se é algo que me agrada, se daria conta etc.

Início do projeto, ainda sem o nome oficial

Turning point (ponto de inflexão)

Na época eu atuava como desenvolvedor web em uma empresa consolidada. Com o passar de algumas semanas, meu projeto pessoal foi ganhando corpo e evoluindo. Eu estava realmente empolgado, trabalhando sempre que tinha chance no meu tempo livre e não escondia isso. Foi então que Júnior Dymow, meu superior imediato na época, veio conversar comigo sobre alguns assuntos..este projeto, fim da faculdade, como eu estava me sentindo em relação a tudo isso etc. Tivemos uma conversa franca que resultou na minha saída da empresa para focar na área mobile. Obs: Trabalhamos juntos em projetos até hoje.

Depois de 8 meses de pesquisa, desenvolvimento e exaustivos testes, consegui finalmente finalizar a primeira versão e lançar na Google Play.

Primeira versão

É importante ressaltar que o projeto jamais tomaria forma sem a contribuição de parceiros da Company Fitness (Antônio, Fernando, Bernardo e Alan) que frequentemente dispuseram tempo em suas corridas agendas para tirar dúvidas e ajudar na análise de requisitos. Além destes, amigos, família, principalmente meu pai, que deram muito apoio e incentivo. Como eu estava tocando praticamente sozinho, foi fundamental.

Resultados

Apesar do investimento irrisório em design e marketing digital, o aplicativo conquistou resultados importantes no período entre a primeira versão, no fim de 2012 e a última, no início de 2014, enquanto ainda mantínhamos o aplicativo. Destaco:

1) Figurou durante bom tempo entre os top 40 apps na categoria Saúde/Condicionamento físico da Google Play chegando a ficar na 35a posição e inspirou a criação de outros apps para a área.

2) Obteve cerca de 50 mil downloads (juntando todas versões) ao redor do mundo. O aplicativo roda em português e inglês desde sua primeira versão;

3) Destaque internacional: Em fevereiro de 2014, a PT Magazine do Reino Unido destacou como um dos melhores aplicativos para personal trainers;

4) Grande aceitação e reconhecimento do público. Neste período, o app tinha sempre entre 4 e 5 estrelas, rendendo satisfação em ler depoimentos como:

“ Ótimo Aplicativo! Ajuda muito a gerenciar os treinos e avaliações físicas, principalmente para quem trabalha como Personal.” Anderson Machado Gonçalves

Muito bom App App bem pratico e fácil manuseio. Quase perfeito..” Jorge Henrique Peixoto

“Muito bom. Para treinadores que trabalham com alunos particulares, esta ferramenta se transforma em uma grande aliada na qualidade do serviço prestado. “ Fabiano Salatini

A vida de um novo empreendedor (principalmente brasileiro) raramente é como nos filmes, aonde como um passe de mágica tudo dá certo e “de prima” seu produto estoura. O buraco é muito mais embaixo. O projeto não faturou milhões, nem baseou roteiros de hollywood. Por outro lado, rendeu muito aprendizado para os envolvidos (não apenas na parte técnica) e influenciou positivamente a qualidade de serviço prestado pelos usuários.

Pessoalmente, abriu-me portas. Basicamente me botou no mapa e permitiu que fundasse a minha empresa Imenze Mobile Solutions no inicio 2013, sob o pretexto de aplicar o know-how para terceiros, como uma fábrica de software exclusivamente mobile. Em uma época aonde poucos se aventuravam em desenvolver para mobile, nos diferenciamos por tê-lo no portfolio, como um case.

No início, eu dividia os esforços da equipe entre atualizações no app e desenvolvimento de projetos para outras empresas. Com o tempo, fez mais sentido seguirmos no caminho corporativo e o Day to Day acabou perdendo foco.

Erros no projeto (Aprendizados)

“O fracasso é simplesmente a oportunidade de começar de novo, desta vez de forma mais inteligente.” Henry Ford.

Abaixo explico sobre o que aprendi com meu primeiro produto, através dos seguintes erros:

1) Demorar muito para lançar a primeira versão, com medo de queimar o produto, preocupando demais com detalhes antes mesmo de validar a ideia em um mercado específico. Por consequência, atrasei a relação com os usuários e o inicio do ciclo construir-medir-aprender (defendido por Eric Ries, referência em desenvolvimentos de Startups). Reid Hoffman, fundador do LinkedIn disse certa vez que “Se você não tem vergonha da primeira versão do seu produto, demorou demais para lançar”. Essa frase não poderia ser mais verdade;

2) Medo de compartilhar o que estava fazendo com terceiros, envolver mais pessoas no período de concepção e possivelmente ter minha ideia roubada. Como diz Ries: “ Se um concorrente conseguir deixar para trás uma startup logo que a ideia é conhecida, a startup já está condenada de qualquer maneira.. .. A única forma de vencer é aprender mais rápido que qualquer outro.” Eu sabia que eventualmente alguém ia acabar fazendo algo parecido. Logo, meu medo de ter a ideia roubada não fazia muito sentido. É sempre bom ter em mente a analogia de que um produto de sucesso está mais para uma maratona do que para uma prova de 100 metros rasos.

3) Tentar agradar a treinadores de todas modalidades desde o início ao invés de restringir meu público. O aplicativo tem um ponto positivo que desde a primeira versão permite a criação de treinos para qualquer modalidade esportiva, mas isso acabou sendo um problema. Atende até certo nível a todos treinadores, mas a ninguém totalmente. Hoje eu escolheria uma modalidade e persistiria nela. Se houvesse demanda para outra, incluiria no produto posteriormente.

4) Modelo de negócio: Acredito que este foi o maior problema.

Adotei um modelo de negócio isca-anzol, cobrando por download na versão PRO e oferecendo um trial limitado gratuito. Na época, pouco se sabia sobre como rentabilizar com venda de aplicativos, mas essa parecia ser a forma que "dava certo".

Com tanta novidade acontecendo, pouca experiência com modelos de negócios e recursos escassos disponíveis pelo android para in app billing / pagamento mobile (que permitiriam implementar modelos mais complexos), optei em lançar desta forma.

Tabela preços/funcionalidades original

Importante frisar que apesar de ter estes problemas, eles eram solucionáveis. Eu poderia pivotar com outra marca, modelo de negócio implementando tudo o que aprendemos. Mas como falei anteriormente, a empresa tomou outro rumo..

E agora?

Como eu ainda venho recebendo e-mails e reviews perguntando sobre as atualizações, sinto que é meu dever oficializar que o projeto está descontinuado por tempo indeterminado. Apesar de não atualizarmos desde 2014, ainda não tinha tornado pública esta situação.

O app estará disponível de graça para download nas suas três versões (FREE, ME e PRO) até que sintamos que não faz mais sentido ele continuar lá. Agradeço muito a todos usuários e espero que continue ajudando vocês.

A Imenze continua trabalhando com projetos corporativos, focando em mobile, mas está passando por uma reformulação e hoje em dia não faz mais software sob demanda. Em breve teremos novidades.

Obrigado pela atenção, espero que tenha contribuído!

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