Os problemas relacionados a leitura no mundo digital

Leonardo Pessanha
6 min readNov 21, 2022

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Um case de UX research para identificar problemas relacionados a livros nos dias atuais e auxiliar na criação de um produto centrado no usuário

Fonte: Pexels

Imagine o seguinte cenário, você precisa comprar um livro, seja ele para estudo ou para lazer. Pesquisa na internet, consulta preços e resenhas e faz sua escolha. Ainda não está 100% certo, fica animado(a) e vai a uma livraria.

O ambiente é aconchegante, com um cheiro de café feito na hora, o que te faz pedir um enquanto você procura o item que escolheu. Ao chegar na seção do item escolhido, nota que existem opções que você não tinha considerado, acaba pegando uns 2 ou 3 itens e vai folhear enquanto toma o seu café.

Sem nenhuma distração acaba passando uma hora ou até mais e você acaba se decidindo o que vai comprar, checa o preço e tem uma surpresa, o item é mais caro do que na internet, O que você faz?

Eu coleciono livros a aproximadamente 5 anos e desde então e vou a livrarias pelo menos uma vez por semana. Muitas vezes acabo por ler algumas páginas de algo que escolhi previamente e outras vezes a escolha é arbitraria.

Em idas e vindas nas principais livrarias de Salvador — BA, eventualmente acabo comprando um ou outro livro. No entanto, devo admitir, dos 450 itens da minha prateleira, aproximadamente 285 foram comprados online (análise do meu histórico da Amazon).

Duas matérias e um acontecimento me fizeram refletir sobre como a tecnologia influenciou a forma que compro livros:

“Sempre nasce algo do excesso”

— Anaïs Nin, O diário de Anaïs Nin

Com base nesses fatos, dois pontos ficaram na minha cabeça:

  • Como pode haver uma acessão de vendas se os locais especializados nesses produtos estão fechando?
  • A compra de livros em ambientes digitais aumenta o consumismo e faz com que os leitores tenham problemas relacionados a espaço?

É um fato que o mundo digital mudou a forma de se consumir todo e qualquer conteúdo, por que que com cultura seria diferente?

Acredito que posso sintetizar tudo o que foi relatado até aqui em uma hipótese: O mundo digital mudou a forma de se consumir livros físicos e isso trouxe problemas para o consumidor. Houve um aumento no consumo de livros, trazendo problemas de espaço para o leitor.

Para o maior entendimento do problema, é necessário fazer uma investigação, para divergir do problema e convergir em uma solução.

Diamante duplo | Fonte: Própria

Para esse equacionamento foi feito:

  • Desk research;
  • Criação de uma matriz CSD
  • Pesquisa quantitativa;

As ferramentas usadas foram:

  • Google Forms;
  • Figjam.

Desk Research e Matriz CSD

Para uma imersão no problema, procurei dados de pesquisas com fontes confiáveis.

Segundo o IBGE, um leitor é aquele que nos últimos 3 meses leu um livro, independentemente de ter concluído ou não. Esse conceito foi utilizado posteriormente como um filtro na pesquisa para evitar a coleta de dados falsos.

O IBGE estimou que o Brasil tem uma média de 52,052 milhões de leitores, o que representa em torno de 24,18% da população do país (215,267 milhões de pessoas).

Por meio de dados se observou que há uma relação direta da escolaridade e da renda com o número de leitores. Quanto maior é a classe social e o grau de educação maior é a proporção de pessoas que leem.

Em números absolutos a classe C é a que tem um maior número de leitores. Isso pode ser justificado pela distribuição de renda desigual no país:

  • Classe A: 2,8% (renda mensal domiciliar superior a R$ 22 mil);
  • Classe B: 13,2% (renda mensal domiciliar entre R$ 7,1 mil e R$ 22 mil);
  • Classe C: 33,3% (renda mensal domiciliar entre R$ 2,9 mil e R$ 7,1 mil);
  • Classes D/E: 50,7% (renda mensal domiciliar até R$ 2,9 mil).

A relação entre idade e escolaridade é clara, mas foi atestado por meio de pesquisas que há um decaimento na quantidade de leitores maiores de 13 anos, o que está relacionado a evasão de estudantes.

“Em 2019, havia quase 1,1 milhão crianças e adolescentes em idade escolar obrigatória fora da escola no Brasil. A maioria deles, crianças de 4 e 5 anos e adolescentes de 15 a 17 anos.”

— UNICEF, Cenário da Exclusão Escolar no Brasil. Um alerta sobre os impactos da pandemia da COVID-19 na Educação

Em 2021 foram consumidos 43.9 milhões de livros físicos e 8.7 milhões em formato digitais (e-books e áudio books).

Com base nessas certezas, montei uma matriz CSD. As minhas suposições estão ligadas a problemas relacionados a espaço e acumulo de material e as minhas dúvidas são ligados a hábitos de maneira de leitores de maneira geral.

Matriz CSD gerada | Fonte: Própria

Pesquisa quantitativa

Foi feita uma pesquisa quantitativa por meio do Google forms com uma taxa de amostragem foi de 37 pessoas, das quais 33 eram por definição leitores. Alguns objetivos foram traçados para serem entendidos na pesquisa, são eles:

  • Leitores tem problemas relacionados a espaço?
  • O hábito de reler livros existe?
  • As pessoas leem tudo que compram?
  • Qual a jornada para comprar livros?

Como é relativo se espaço é um problema ou não, utilizei uma premissa para quantificar isso: espaço se torna um problema a partir do momento em que o local utilizado para armazenar livros já não é mais suficiente, fazendo com que o entrevistado guarde livros em outros locais da casa.

26 pessoas que responderam a pesquisa leem livros físicos e não se adaptaram aos formatos digitais, ocasionalmente leem livros em PDF.

A minha hipótese de que existe um problema relacionado a espaço foi invalidada. 52,6% das pessoas atestaram não terem problemas relacionados a espaço.

83,2% das pessoas tem o hábito de não manter os livros dentro de casa ao terminar de ler eles. Ou seja, Já existe um hábito de realizar empréstimos, doar ou até mesmo revender os livros. Essa ação já previne acumulo de livros, invalidando a minha hipótese de falta de espaço.

51,5% das pessoas tomam notas dos seus livros em plataformas como Medium, Notion e até mesmo em um caderno, usando elas quando querem “revisitar” uma leitura.

A jornada das pessoas incluem a ida em uma livraria. 93,9% das pessoas que compram os livros on-line, passam por livrarias antes mas comparam os preços com e-commerces, no entanto acabam comprando on-line.

Um outro dado importante é que 57,9% das pessoas não leem tudo o que compram.

Dados obtidos na pesquisa | Fonte: Própria

Esses dados me levaram a pivotar. Foram identificados 2 oportunidades diferentes:

  • Há um consumo de recursos em livrarias mesmo não havendo a conversão em compras;
  • Os usuários tomam notas das suas leituras, as quais ficam ociosas até o mesmo precisar reler sobre o assunto.

Escolhi priorizar o segunda oportunidade. A primeira é interessante, no entanto existem dois problemas:

  • Logística;
  • Modelo de negócio.

Além do acesso aos stakeholders ser complexo, a maioria dos entrevistados usa a Amazon para as suas compras e a empresa minimiza o lucro com vendas de itens e monetiza em cima de ações.

“O que a Amazon deixou bastante claro, entretanto, foi que apenas a lucratividade não guia a performance das ações. Investidores estão mais atraídos pelo crescimento de prospectos da Amazon do que uma lucratividade sólida, como a buscada pelo Walmart.”

— Howard Yu, Professor de estratégia e inovação no IMD

Conclusão

Com essa pesquisa refutei parcialmente a minha hipóteses. Foi identificado que existem oportunidades, porém não estão ligados a espaço.

Como houve uma mudança em relação ao problema levantado inicialmente, decidi iniciar uma nova pesquisa relacionado ao insight encontrado, segue o link aqui.

Caso queira entrar em contato comigo me mande uma mensagem pelo LinkedIn.

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Leonardo Pessanha

Brasil, UX/UI Designer, Bacharel em engenharia mecânica e pós graduando em User Experience and Beyond pela PUCRS.