Análise da Pesquisa Ibope de 20 de agosto

Leonardo Rossatto
7 min readAug 21, 2018

--

O bom da pesquisa do Ibope ontem é que o enfoque foi diferente da pesquisa CNT/MDA, então dá pra saber coisas diferentes dos candidatos. Existem algumas informações reveladoras ali:

Primeira informação: o voto por classe social

Bolsonaro é um candidato de elite, mais do que qualquer outro. Seu público começa a crescer além dos dois salários mínimos, e ele é o candidato preferido de quem ganha acima de 5 salários mínimos. É o voto de quem votou no PSDB nas últimas quatro eleições.

Segunda informação: o voto por escolaridade

Bolsonaro cresce entre eleitores com ensino médio e ensino superior, que se pressupõe terem maior renda. Outro indicativo de que ele é o candidato de elite que o ex-eleitor do PSDB adotou para si após se decepcionar com o partido

Terceira informação: o voto por Idade

Ao contrário do que se imaginava, o pico de Bolsonaro não está entre os jovens, e sim entre os eleitores de 25 a 34 anos, seguidos dos eleitores de 35 a 44 anos, embora a distribuição do voto por idade não seja tão preponderante. Lula lidera entre eleitores dos 16 aos 24 anos de idade. O número de votos brancos e nulos aumenta sensivelmente na idade entre 45 e 54 anos. É a faixa de população que tem dificuldade de se recolocar no mercado ao mesmo tempo que vê sua expectativa de aposentadoria ameaçada. Há um campo pra se explorar em campanha aí

Quarta informação: o Voto Por Região

Lula ganha, em números absolutos, em todas as regiões do país, mas fica dentro da margem de erro no Norte/Centro Oeste, com forte influência do agronegócio e com a questão recente dos refugiados venezuelanos, capitalizada por Bolsonaro (que é líder em Roraima). Além disso, Sul e Sudeste são as áreas com mais votos brancos/nulos e indecisos, o que pode ser importante para a definição da estratégia eleitoral. E Álvaro Dias atrapalha enormemente Alckmin na Região Sul.

Quinta Informação: O Voto por Religião

Entre católicos

Lula: 41%
Jair Bolsonaro: 15%
Marina Silva: 5%
Ciro Gomes: 4%
Geraldo Alckmin: 6%
Alvaro Dias: 3%
Eymael: 0%
Guilherme Boulos: 1%
Henrique Meirelles: 1%
João Amôedo: 1%
Cabo Daciolo: 0%
Vera: 0%
João Goulart Filho: 0%
Brancos/Nulos: 16%
Não sabe/não respondeu: 6%

Entre evangélicos

Lula: 31%
Jair Bolsonaro: 23%
Marina Silva: 8%
Ciro Gomes: 5%
Geraldo Alckmin: 5%
Alvaro Dias: 3%
Eymael: 1%
Guilherme Boulos: 0%
Henrique Meirelles: 1%
João Amôedo: 1%
Cabo Daciolo: 1%
Vera: 0%
João Goulart Filho: 0%
Brancos/Nulos: 15%
Não sabe/respondeu: 7%

Outras/sem religião

Lula: 35%
Jair Bolsonaro: 21%
Marina Silva: 5%
Ciro Gomes: 5%
Geraldo Alckmin: 4%
Alvaro Dias: 1%
Eymael: 1%
Guilherme Boulos: 1%
Henrique Meirelles: 0%
João Amôedo: 2%
Cabo Daciolo: 1%
Vera: 0%
João Goulart Filho: 0%
Brancos/Nulos: 16%
Não sabe/respondeu: 7%

Apesar de Bolsonaro ter mais votação entre os evangélicos, 23% tá bem longe daquele cenário que muita gente alerta “Bolsonaro será eleito pelos evangélicos”. Inclusive Bolsonaro segue atrás de Lula entre os próprios evangélicos.

Sexta Informação: O Voto por Raça/Cor

Raça/cor Branca

Lula: 26%
Jair Bolsonaro: 22%
Marina Silva: 5%
Ciro Gomes: 5%
Geraldo Alckmin: 8%
Alvaro Dias: 4%
Eymael: 1%
Guilherme Boulos: 1%
Henrique Meirelles: 0%
João Amôedo: 2%
Cabo Daciolo: 0%
Vera: 0%
João Goulart Filho: 0%
Brancos/Nulos: 18%
Não sabe/não respondeu: 8%

Raça/Cor Preta/Parda

Lula: 44%
Jair Bolsonaro: 16%
Marina Silva: 6%
Ciro Gomes: 5%
Geraldo Alckmin: 4%
Alvaro Dias: 2%
Eymael: 1%
Guilherme Boulos: 1%
Henrique Meirelles: 1%
João Amôedo: 1%
Cabo Daciolo: 1%
Vera: 0%
João Goulart Filho: 0%
Brancos/Nulos: 14%
Não sabe/não respondeu: 5%

Raça/cor Outras

Lula: 45%
Jair Bolsonaro: 12%
Marina Silva: 7%
Ciro Gomes: 4%
Geraldo Alckmin: 4%
Alvaro Dias: 2%
Eymael: 1%
Guilherme Boulos: 1%
Henrique Meirelles: 1%
João Amôedo: 1%
Cabo Daciolo: 0%
Vera: 1%
João Goulart Filho: 0%
Brancos/Nulos: 10%
Não sabe/não respondeu: 9%

Há um componente racial no voto sim (Bolsonaro, Alckmin e Amoedo crescem em cenários de eleitores brancos), mas isso tem também muito a ver com renda e escolaridade, consolidando o perfil de eleitor do Bolsonaro, que é bem menos “povão” do que sugere e militância de Internet.

Sétima Informação: o Voto por Sexo

Mais uma informação: o eleitor do Bolsonaro é prioritariamente masculino. Isso é uma má notícia pra captação de novos eleitores, considerando que o índice de brancos/nulos e indecisos é maior entre as mulheres (26% a 17%)

Além disso, há uma candidatura que tem chance de crescer com esses votos femininos: além de Lula, Marina Silva é a única que tem voto predominantemente feminino, E chega a vencer Bolsonaro (15 a 13%) entre as mulheres no cenário em que Haddad é o candidato petista.

Cenários com Fernando Haddad no lugar de Lula

É do conhecimento de todos que a candidatura Lula tem sérias chances de ser impugnada pela Justiça Eleitoral, com base na Lei da Ficha Limpa. Inclusive já há pedido da Procuradoria Geral da República nesse sentido. Com isso, o Ibope também testou possibilidades com Fernando Haddad como candidato, sem informar ao eleitor que ele tinha o apoio de Lula.

Primeira Informação: o Voto por Sexo

Voto masculino

Bolsonaro: 28%
Marina Silva: 10%
Ciro Gomes: 9%
Geraldo Alckmin: 7%
Haddad: 4%
Alvaro Dias: 3%
João Amôedo: 2%
Cabo Daciolo: 1%
Eymael: 1%
Boulos: 1%
Henrique Meirelles: 1%
Vera: 1%
João Goulart Filho: 1%
Brancos/Nulos: 23%
Não sabe/não respondeu: 7%

Voto feminino

Bolsonaro: 13%
Marina Silva: 15%
Ciro Gomes: 8%
Geraldo Alckmin: 7%
Haddad: 3%
Alvaro Dias: 4%
Cabo Daciolo: 1%
Eymael: 0%
Boulos: 1%
Henrique Meirelles: 1%
João Amôedo: 1%
Vera: 1%
João Goulart Filho: 0%
Brancos/Nulos: 33%
Não sabe/não respondeu: 11%

Além de Lula, Marina Silva é quem tem mais protagonismo entre as mulheres, com chances de herdar grande parte do eleitorado feminino.

Segunda Informação: Análises Superficiais por Faixa Etária

Faixa etária com Haddad em que Bolsonaro vai melhor: 25 a 34 anos (25% dos votos)

Faixa etária com Haddad em que Marina Silva vai melhor: 16 a 24 anos (18% dos votos)

Os demais candidatos não tem variações dignas de nota em relação à pesquisa incluindo Lula.

Terceira Informação: Análises superficiais do voto por Escolaridade

Até a 4ª série

Ciro: 11%
Bolsonaro: 10%
Marina: 10%
Alckmin: 8%

5ª a 8ª Série

Bolsonaro: 18%
Marina: 16%
Ciro: 9%
Alckmin: 8%

Ensino médio

Bolsonaro: 24%
Marina: 14%
Ciro: 8%
Alckmin: 7%

Ensino superior

Bolsonaro: 24%
Ciro: 9%
Marina: 8%
Alckmin: 7%

A penetração de Marina Silva e Ciro Gomes entre os votos menos escolarizados mostra a capacidade de ambos de herdar o voto lulista. Bolsonaro segue soberano entre os mais escolarizados.

Quarta Informação: o voto por renda

Até 1 Salário Mínimo

Marina: 16%
Bolsonaro: 12%
Ciro: 9%
Alckmin: 8%

1–2 Salários Mínimos

Bolsonaro: 18%
Marina: 13%
Ciro: 9%
Alckmin: 6%

2–5 Salários Mínimos

Bolsonaro: 27%
Marina: 9%
Ciro: 8%
Alckmin: 8%

Mais de 5 salários mínimos

Bolsonaro: 32%
Marina: 9%
Ciro: 11%
Alckmin: 11%

Quinta Informação: o Voto por região

Norte/Centro Oeste

Bolsonaro: 30%
Marina: 15%
Ciro: 5%
Alckmin: 5%

Nordeste

Marina: 17%
Ciro: 14%
Bolsonaro: 13%
Haddad: 5%
Alckmin: 4%

Sudeste

Bolsonaro: 21%
Marina: 11%
Alckmin: 11%
Ciro: 7%

Sul

Bolsonaro: 23%
Alvaro Dias: 12%
Marina: 8%
Ciro: 8%
Alckmin: 3%
Haddad: 3%

Fica nítido que Bolsonaro tem sua menor penetração eleitoral no Nordeste do país, e alcança seu pico nas regiões Norte e Centro Oeste, não passando de 30% em nenhuma região, porém.

Conclusões

Nessas simulações com Haddad fica claro que:

  • O trabalho de transferência de votos nem começou ainda
  • Bolsonaro varia pouco. Marina e Ciro são os principais beneficiados de uma eleição sem Lula.
  • O voto Bolsonaro é o voto do eleitor de elite que votava PSDB.
  • Sem Lula, o voto que seria dele está dividido entre Marina, Ciro e Haddad (em menor proporção), mas há uma enorme parcela dos eleitores de Lula que não se decidiram por outro candidato, o que deve inflar em alguma medida as três candidaturas em questão.
  • Alckmin está muito ferrado. Trabalha com uma base enxuta de votos (valeu, Temer) fidelizada por Bolsonaro nos últimos meses. Nesse sentido, a estratégia de Bolsonaro de pregar pra convertidos não se mostra tão equivocada assim, ele está se prevenindo de Alckmin.

--

--

Leonardo Rossatto

A descrição deste perfil está imperdível, mas antes fiquem com uma mensagem dos nossos patrocinadores: ¯\_(ツ)_/¯