O SENTIDO DA VIDA: Dentro da perspectiva Existencialista, Daseinsanalyse e Logoterapia

Leticia Pontes
4 min readOct 29, 2018

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Desde os primórdios o homem tenta encontrar uma definição para si mesmo, e o sentido de sua vida. Questões como “quem sou eu? ”, “de onde eu vim? ”, “para onde vou? ”, “qual a minha missão no mundo? ”, sempre estiveram acerca do pensamento humano, com isso pensadores e filósofos, cada um em sua época, abordaram esses questionamentos criando teorias com diversas linhas de raciocínio, contemplando as mais variadas ideias.

A corrente Existencialista iniciou-se na Europa, em meados do século XIX por Soren Kierkegaard, filósofo dinamarquês, porém seu ápice deu-se pós 2º Guerra Mundial (século XX) com Heidegger e Jean-Paul Sartre, e fora influenciada pela Fenomenologia (método de investigação que busca estudar o fenômeno como se mostra, livre de pressupostos) criada por Edmund Husserl. Visa compreender o homem em sua existência, de forma singular, concreta, afetiva e histórica. Expressa que o indivíduo constrói ou escolhe o sentido da vida, ou seja, o homem tem liberdade para escolher o que lhe convém, de acordo com os sentidos atribuídos por ele sendo responsável por sua trajetória pessoal.

Martin Heidegger, filósofo e pensador alemão, aborda a Fenomenologia Existencial, baseando-se nos conceitos de Dilthey e Husserl, e insere em sua mais importante obra Ser e Tempo (1927) o termo de Dasein — Ser-aí ou Ser-no-mundo — que desconstrói o homem como um ser absoluto, e vincula-o ao seu contexto sócio histórico, ou seja, coloca o sujeito como um ser indeterminado inserido em sua narrativa temporal. “Ser” esse que coexiste mutualmente com sua historicidade, responsável por sua existência, livre para fazer escolhas e seu sentido de vida, mas a mercê dos preconceitos de sua época. Devido a isso, a responsabilidade pode ser transferida para o outro, nos desviando do que faz sentido para nós e indo de acordo com o mundo, e o resultado desse deslocamento seria a angustia, que nos trará uma “crise existencial” sobre nossos sentidos, significados e finitude, trazendo-nos de volta a condição originaria. A Daseinsanalyse, é um método clínico de análise terapêutica, fundamentado na teoria de Heidegger, tem como seus precursores os psiquiatras Ludwig Binswanger e Medard Boss, e atua sobre as angústias do Dasein.

Vigorosamente influenciada pela Análise Existencial, temos a Logoterapia — 3º Escola Vienense de Psicoterapia — fundada por Viktor Frankl, médico e psiquiatra austríaco, perseguido pelo nazismo e enviado para campos de concentração, que se tornou mundialmente conhecido pela sua obra Em Busca de Sentido (1946) no qual relata suas experiências do cárcere nazista e define as bases de sua teoria.

A Logoterapia é centrada no sentido (força motivadora) da vida. Esse sentido diferencia-se de indivíduo para indivíduo, dia para dia, momento para momento, dentro de propósitos vitais de cada etapa da existência, ou seja, o que importa é o sentido para o sujeito naquele momento, podendo ser diversos os aspectos (amor, felicidade, riqueza, sucesso, reconhecimento, altruísmo, saúde, etc.). Nessa técnica psicoterápica, dá-se ênfase em questões existenciais pertinentes as frustações da vontade do sentido da vida, resultado de crises existenciais.

Sommerhalder, exprime esses aspectos em seu artigo Sentido de vida na fase adulta e velhice (2010), aonde faz uma sondagem bibliográfica buscando as definições e evolução do sentido da vida em dois grandes grupos. O primeiro conecta o sentido da vida à saúde física e psicológica. Já o segundo investiga a origem do sentido da vida. Ambos os casos mostram que apesar de diferentes gerações, os aspectos principais são compartilhados, tais como, necessidade básicas e relações interpessoais, facilitando o processo de enfrentamento das situações adversas do cotidiano. Os estudos atribuídos ao significado do sentido da vida, estão longes de chegarem a uma definição única, todavia, essas pesquisas contribuem muito para a Psicologia, exibindo o seu mérito no desenvolvimento humano.

Portanto, a Logoterapia bebe do Existencialismo e da Daseinsanalyse, por compreender o indivíduo como um ser único sugestionado ao seu contexto sócio histórico, que busca um sentido para a vida, analisando os fenômenos como se manifestam, livre de pré-conceitos e pré-juízos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO, Thiago et al. Logoterapia no contexto da psicologia: reflexões acerca da análise existencial de Viktor Frankl como uma modalidade de psicoterapia. Logos & Existência: Revista da Associação Brasileira de Logoterapia e Análise Existencial, v.4, n.1, p.45–65, 2015. Disponível em <://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/le/article/view/22840/13068>. Acesso em 23 out. 2018

CARRASCO, Bruno. O que significa ser-no-mundo? 2017. Disponível em < http://www.ex-isto.site/2017/07/ser-no-mundo.html >. Acesso em 24 out. 2018

ROEHE, Marcelo Vial. Uma abordagem fenomenológica-existencial para uma questão de conhecimento em psicologia. Estud. Psicol. (Natal), Natal, v. 11, n. 2, p. 153–158, ago. 2006. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2006000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 26 de outubro de 2018.

SOMMERHALDER, Cinara. Sentido de vida na fase adulta e velhice. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v.23, n.2, p.270–277, 2010. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722010000200009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 20 out. 2018.

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