Pelo fim da liderança acidental: 7 aprendizados, 1 ano depois

Letícia Pires
QuintoAndar Design
Published in
7 min readMay 23, 2019

Há um ano eu escrevi esse texto bem emocional: meu manifesto pelo fim da liderança acidental no design. Estava apaixonada pelo meu novo desafio: ser líder e gestora de uma equipe brilhante. Na última semana, nesse estado apaixonado, levei esse tema na UXConf BR 2019. Foi a quinta edição do evento — e que edição! Papo para um outro texto :)

Só um tico mais sobre a UXConf BR de 2019, Leandro Novaes, product design lead no QuintoAndar, também esteve no palco com Design Jams.

foto da Charlene Cabral

Assumi a posição de lead de design no QuintoAndar em setembro de 2017, quando nossa equipe era composta por 7 pessoas. Em outubro, estava eu desenhando uma estrutura de equipe para um número novo: 15 designers. Ali, assumi o cargo de manager. Hoje, maio de 2019, somos 24 designers de produto.

Na UXConf, relembrei sobre como foi quando meu gestor me propôs o cargo de liderança de design na empresa. À época, já tinha interesse em estudar e me dedicar à gestão. Porém quando o convite veio, minha cabeça oscilou entre entusiasmo e insegurança.

Depois notei que isso não acontecia somente comigo. E por que isso acontece? Minhas hipóteses são:

  • a gestão de equipes para designers é algo novo;
  • designers não tem, na educação formal, conteúdo de gestão de pessoas;
  • designers têm poucos gestores designers;
  • o medo de parar de projetar. Aqui há algo mais profundo que é ser designer tem uma carga muito grande com sua identidade.

Na lista acima, eu dou check em todos os itens.

Minha trajetória para migrar de uma posição de designer para design lead, começou antes de setembro com a oportunidade que a empresa me deu.

O QuintoAndar vivia um novo momento, a equipe tinha crescido bastante e tinha começado a conversar com meu gestor que percebia alguma falta de alinhamento. A gente tinha designers muito bons, mas algo estava desarticulado. Cheguei a entrevistar pessoas para serem gestores da equipe de design. Mas os descompassos se acumulavam. Meu gestor me provocou sobre porquê eu não poderia arrumar as coisas que me desagradavam.

E lá fui eu puxar algumas conversas com os designers. Juntos entendemos que éramos um time e que nos faltava de fato a visão do chapter de design. E antes mesmo da chegada de um gestor, fomos resolvendo o que identificamos como problemas. Lembro que na época, éramos 7 e cada um ficou com um problema para atacar.

Assim comecei a aprender que:

1. Liderança é diferente gestão

Liderança é um comportamento. É um atributo pelo qual você é reconhecido por uma série de atitudes que toma. Gestão é um papel, é um trabalho com um conjunto de tarefas e responsabilidades que a empresa ou seu chefe te dá e pode te tirar também.

Super dá para ser líder, sem ser gestor

Ser líder não depende de posição. Designers deveriam estar mais atentos a isso. Uma vez que estamos cada vez mais ocupando posições importantes nas empresas. Trouxe liderança no texto: O que é Liderança por Seth Godin.

Entretanto a melhor forma de um gestor é quando ele tem consciência de seu papel de liderança

Aí, entendi que meu chefe só viu que eu poderia abraçar a posição de lead depois d’eu ter puxado o trabalho de construção de uma visão do chapter. Com evidências da minha capacidade de mover o time, ele pôde ficar mais seguro e me considerar para o convite.

2. Definir é diferente de facilitar a definição

Uma vez lead, pirei em pensar em tudo que precisava definir. E claro, sozinha! Achava que nesse papel, precisava propor a definição de muitas coisas sozinha: desenhar um processo de design, contratar todo o time, pensar no job description, tirar o Design System do papel, propor um jeito mais eficiente de fazer pesquisa… e uma lista bastante extensa.

Se, sozinha, eu definisse tudo, possivelmente, chegaria só no meu universo de resoluções e não, no do time. Entendi que um bom gestor não é aquele que define tudo e coloca um modelo dele. É muito mais interessante pensar que meu papel é de facilitar. Assim consigo uma flexibilidade que engloba contexto das pessoas do time.

Um exemplo muito recente disso foi a revisão do job description de todos degraus de maturidade de design na empresa. Montei uma proposta e estamos discutindo em grupo se as responsabilidades e o que é atribuído para crescer na empresa faz sentido para nosso momento. Enquanto puxo isso, Lívia Amorim e Lucas M. Otsuka estão 100% no Design System, Raquel Prado, repensando o nosso processo de recrutamento, Otávio Vidal, cuidando do nosso Medium e outras tantas iniciativas com os designers do time. Facilito essas discussões pensando em que time queremos ser na empresa, mas a decisão é do grupo.

foto da Charlene Cabral

3. Você está bem no meio

É bem óbvio que você cuida de um time e uma disciplina na empresa. Mas nessa posição você não deve só olhar seu time.

Meu lugar mudou na empresa, mapeeie novos territórios e interlocutores

Surgiram novos pares de outras áreas e o que precisa ser articulado com meu gestor direto também mudou. No dia a dia, precisei de bastante disciplina para não ficar somente nas atividades do design. Abri conversas e alinhamentos com pares diretos e os mais distantes. No meu caso, era importante o questionamento acerca do alinhamento do design com engenharia: como podemos trabalhar melhor nos squads, que rituais estão funcionando e os que não estão etc

Nos últimos meses, estive em conversas com o RH com o objetivo de levar métodos de pesquisa de design para a atuação da empresa nas jornadas dos candidatos e recém-chegados. Assim como design virou referência de boas práticas em rituais para o chapter de Data e BI, há muitas conversas e relações para se construir.

4. Na verdade, você nunca estará pronto

Não há nada mais certo do que isso. De algum jeito, sempre vi meus gestores como pessoas muito infalíveis. Às vezes, do jeito mais glamurizado possível: como muito experiente, inteligente e com a expectativa de resposta para tudo. Outras vezes, de maneira super cruel, criticando uma decisão sem considerar que há muitos elementos de um contexto do qual eu não sabia. Percebi que por infinitas vezes, eu quis muitas respostas e soluções deles sem mesmo perguntar se eles estavam bem ou como estava o dia.

A real é que você é só uma pessoa

Muitas vezes, uma pessoa mais experiente ou com algumas ferramentas a mais. Mas você vai sentir medo, vai ter dias ruins, pode ficar inseguro com uma ou outra decisão. Você vai mandar mal. É pedir desculpas e consertar, mudar e construir novas saídas.

Ser líder e gestor é uma construção contínua. É fundamental trazer consciência para o processo e ter também um pouco de compaixão com você mesmo.

5. E você nunca vai deixar de ser designer

A gente pensa que quando viramos gestor, deixamos de ser designer. E em parte, sim! Você vai acumular tarefas diferentes, as ferramentas serão outras e seu dia a dia, novo. Mas sua lente não muda. Sua abordagem sempre será o design: pensar em soluções focadas nas pessoas.

6. Sempre comece pela conversa com as pessoas

Falando em pessoas, entendê-las e estar próximo delas é super importante. O meu papel na gestão é facilitar a entrega dos designers e ser suporte para desenvolvimento de cada um.

Se eu não conhecer os designers, esse trabalho não acontecerá. Sempre se faz necessário a conversa aberta. Já ouviu falar de Radical Candor? Indispensável estudar o material da Kim Scott. 1:1s, encontros de conversas francas em que falamos de expectativas, hard e soft skills e principalmente situações que estão acontecendo agora, são super importantes para alinhamentos da minha visão e de cada designer no time.

Ferramentas e visualizações para conversar mais

Também é muito importante ter suportes e ferramentas para alavancar conversas como competências que se quer desenvolver, o que você valoriza como profissional. Assim como temos dinâmicas de “quebra-gelo” em workshops ou diário de uso para uma pesquisa qualitativa, há uma série de frameworks para conhecer os momentos e interesses de cada indivíduo do time.

Aqui há um espaço enorme para os designers porque geralmente é onde a gestão clássica peca. Transformar as pessoas em índices e números não é a solução. As companhias sofrem em engajar profissionais com trabalhos mais complexos. E pra mim, os números são bons para visualização de funcionamento mas não podem reduzir as pessoas.

7. Liderança em design é sobre maturidade

Esse assunto não se limita a minha jornada pessoal ou de colegas. Designers precisam colocar mais intenção no assunto liderança e gestão. Aqui é uma oportunidade de maturidade da nossa disciplina. Designers presentes em outras posições e em outros fóruns, influenciando mais decisões das empresas nos dá novas experiências, desenvolvendo novas competências e conquistando outro patamar nas companhias.

Estamos falando sobre o designer que aprende mais sobre negócios e não só cria soluções para clientes porque se envolve em desenvolver ideias para os colaboradores e a empresa em si. E empresas com mais designers podem pensar cada vez mais nas pessoas — não só clientes, mas também seus colaboradores.

E aí, quem topa o desafio?

Abraços e beijinhos ao time de design do QuintoAndar ❤ Vamos juntos!

Abraços e beijinhos para os meninos da UXConf BR, Pedro Belleza, Thiago Esser e Rafael Helm. Vida longa a conferência de design mais amada do Brasil!

parte do time do QuintoAndar na UxConf BR 2019

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Letícia Pires
QuintoAndar Design

I help teams create engaging product experiences and new services. Design Director @QuintoAndar.