Another Metroid 2 Remake— Level Secreto #88 (Transcrição)

Autor: Erick Oliveira

Level Secreto
6 min readNov 17, 2023

Another Metroid 2 Remake, conhecido também pela sigla AM2R, foi lançado em 6 de agosto de 2016, no aniversário de 30 anos da série. Esse é um remake não oficial do Metroid II do Game Boy, criado pelo argentino Milton Guasti, e foi lançado para PC.

No episódio anterior, havia falado que o Metroid II, apesar de sua importância, é considerado um patinho feio da franquia, o jogo mais difícil de revisitar, tanto na questão visual quanto em gameplay. Ao longo dos anos surgiu um anseio por um remake, e o apelo se tornou cada vez maior após o lançamento do Metroid Zero Mission em 2004. Esse foi um remake do primeiro jogo da série, ele não só atualizou a primeira aventura da Samus, como acrescentou detalhes a mais nesse enredo. Além disso, Zero Mission trouxe uma gameplay polida e bastante ágil, melhorando o que havia sido feito no Fusion, sendo considerado a melhor jogabilidade em 2D da série.

Quando Metroid Zero Mission foi lançado, todos aqueles que de alguma forma não conseguiam desfrutar o Metroid original, passaram a apreciar muito as raízes da série. Neste momento, pairou na cabeça dos fãs de quando a Nintendo tornaria a experiência do segundo jogo mais agradável, permitindo que todos saboreassem melhor esse evento tão importante do universo da franquia, que se interliga com o maior clássico que é o Super Metroid.

Um fã, em particular, decidiu não apenas esperar por isso, mas começou a agir. Em 2006, o engenheiro de som argentino Milton Guasti começou a trabalhar numa revitalização do Metroid II, e a partir de 2008 ia divulgando o progresso em um blog.

O primeiro passo de Milton foi jogar bastante o Metroid II, conhece-lo de cabo a rabo na intenção de capturar a sua essência. Depois disso, jogou o restante da franquia, verificando os pontos mais fortes a incrementar. O decidido foi que gameplay seria baseada no Zero Mission.

Milton lançou uma primeira demo para a comunidade, que reagiu de maneira bem positiva, favorecendo com que mais fãs, com diferentes habilidades em desenvolvimento de jogos se juntarem ao projeto. Isso permitiu com que fossem criados sprites originais e não reciclados dos outros jogos, fazendo do Another Metroid 2 Remake, de fato, um jogo próprio e não uma rom hack.

AM2R começa com uma intro inspirada em Super Metroid, com um texto não muito diferente do manual do jogo original do Game Boy. Nesse remake foi acrescentado um objetivo secundário a trama, resgatar os marines da Federação Galática que haviam investigado o planeta SR388 antes de Samus, algo que não foi aprofundado antes.

Metroid II é um jogo mais linear que o primeiro do NES, sua progressão dependia de quantos metroids a Samus eliminava. Em alguns trechos a lava impedia o jogador de adentrar mais fundo em SR388. Ao derrotar o número determinado de metroids da área, um terremoto ocorria, que é exatamente o momento que essa lava desce, liberando novos segmentos a se explorar. O remake adicionou áreas novas e, principalmente, uma sensação menos linear com segmentos opcionais. É algo mais Metroidvania se podemos dizer dessa forma. No entanto, a cerne mais direta do jogo original é o que sustenta toda a experiência.

Another Metroid 2 Remake apresenta a lógica de level design que havia falado no podcast anterior. Em cada área, o cartão de boas-vindas é um grande espaço, tipo um vão, que simula um ambiente externo. Esse level design incentiva o jogador a ficar passeando com a Spider Ball nas paredes do cenário para encontrar salas secretas.

Visualmente o jogo lembra o Zero Mission, porém, sem a direção de arte tão característica desse remake oficial da Nintendo. AM2R é um título menos fluído na movimentação da Samus que o título do Game Boy Advance.

Another Metroid 2 Remake adicionou novos chefes comparado ao jogo original, até aproveitando a relação que história tem com o Metroid Fusion. Com isso, o título entrega um fator fanservice que dá muita satisfação aos jogadores que captam as referências.

No Metroid II original, as batalhas contra os metroids eram ruins, devido a movimentação do jogo, o quão pouca era a visão que se tinha dos cenários na tela. O visual dos diferentes estágios de evolução dos metroids foram retrabalhados, há ainda alguns problemas nesses enfrentamentos, como a movimentação das versões voadores e a dificuldade de acertar os pontos fracos.

AM2R adicionou power ups que não existiam no jogo original. Tem uma habilidade que é vista de modo diferente aqui que é o Ice Beam. Ele é o último poder de tiro a ser coletado pela Samus, sendo o gelo a principal fraqueza dos metroids.

O Ice Beam acabou sendo subutilizado no sentido de ajudar na exploração, porque, nos outros jogos, esse tiro congelava os inimigos, fazendo-os servir de plataforma. Aqui no remake de Metroid II, ao invés do inimigo ficar estático no ar, ele cai com a gravidade, algo que só acontece no Other M, por exemplo. Isso pode ser um pouco frustrante por não oferecer uma nova possibilidade de exploração, porém, o que chama atenção é o caprichado efeito da animação do inimigo se quebrando no chão, se desfazendo, ou congelado dentro da água.

Uma coisa interessante do AM2R é o fato dele ser o primeiro Metroid 2D que utilizou o sistema de logs que preenchem o contexto do que está acontecendo, uma característica que veio dos Metroid Prime.

Uma coisa importante que o Milton Guasti conseguiu entregar foi a atmosfera da série. A sua especialidade como engenheiro de som, certamente, contribuiu para trabalhar cuidadosamente com isso. A trilha sonora melhora as composições originais e traz arranjos de outros títulos, fora o acréscimo de umas batidas eletrônicas que remetem aos jogos da fase Prime.

Na época que lançou, Another Metroid 2 Remake foi uma experiência que condensou muitas das características principais da série. Em alguns momentos, eu me sentia jogando uma sequência de Metroid Fusion, porque o jogo do Game Boy Advance se passa em uma estação de pesquisa que simula o ambiente de SR388. Vivenciar a atmosfera do planeta com um visual melhorado foi incrível.

Como falado no início, o jogo foi lançado no aniversário de 30 anos da franquia Metroid. Um dia depois disso, a Nintendo retirou o jogo do ar por conta dos direitos autorais. Mas, esse banimento já não havia mais efeito, pois, se está na internet, está espalhado de qualquer jeito, não sendo difícil de encontrar o AM2R para baixar.

Entretanto, isso impediu que o Milton Guasti, ou qualquer outro integrante da equipe que o ajudou, pudesse realizar ajustes no jogo e, sobretudo, adicionar conteúdos que haviam sido prometidos de estarem presentes mais adiante. Graças aos fãs desse remake é que foi possível realizar essas atualizações, a partir de uma engenharia reversa no código-fonte.

AM2R, diante desse acontecimento triste, mostrou-se cada vez mais uma prova de amor de um fã por um videogame. Milton Guasti trabalhou, praticamente, 10 anos no projeto. Nesse período, ele precisou mudar de emprego e acabou tendo um filho, motivos suficientes para poder investir o tempo e esforço em outras coisas em sua vida.

O que pareceu ter sido um trabalho desperdiçado, logo deu frutos. O reconhecimento do que foi realizado em um remake não oficial de Metroid II o fez ser contratado pela Moon Studios. Milton trabalharia no Ori And The Will Of The Wisps e, pelo que sabemos, ele continua nessa empreitada de fazer jogos. Os outros membros da equipe de AM2R formaram um estúdio próprio que começaram a trabalhar em um projeto de metroidvania inspirado em Hollow Knight e Okami.

Another Metroid 2 Remake é um bom exemplo para demonstrar como o amor de fãs consegue construir coisas incríveis. Esse jogo saciou o desejo de todo fã da série em ver uma das histórias mais importantes da Samus ser modernizada. A nossa sorte, é que AM2R logo receberia uma companhia, a Nintendo nos apresentaria um novo jeito de enxergar o segundo título da série, que passou a ser também, uma nova fase dos jogos em 2D de Metroid.

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Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.