Bayonetta — Level Secreto #81 (Transcrição)

Autor: Erick Oliveira

Level Secreto
6 min readSep 29, 2023

Bayonetta foi lançado para Playsation 3 e Xbox 360 em outubro de 2009 no Japão, e janeiro de 2010 no resto do mundo. O jogo é o terceiro projeto lançado pela PlatinumGames, que é esse estúdio tão reconhecido por títulos com bons combates.

Ele foi fundado a partir de ex-funcionários da Capcom, em especial aqueles que trabalharam no finado Clover Studio, que lançou jogos entre 2004 e 2006. No caso aqui, vale destacar o Hideki Kamiya que, com sua direção, ajudou a tornar Bayonetta uma nova referência de jogos de ação, hack n’ slash, character action, tal como havia feito no passado com o Devil May Cry.

Bayonetta é o nome da protagonista dessa história. Ela é uma bruxa que acorda após um sono de 500 anos, sem lembranças do seu passado, e suas memórias vão sendo recuperadas enquanto o jogo progride. O lance é que nesse período antes de Bayonetta adormecer, havia duas facções, as bruxas Umbra, seguidoras da escuridão, e os sábios Lumem, que seriam a contraparte da luz. Cada um desses grupos possuía um de cada olho do mundo, que são relíquias importantes que ajudam a guiar em equilíbrio o fluxo dos acontecimentos.

No momento presente, os olhos do mundo estão desaparecidos, e Bayonetta, nessa busca de seu passado, decide ir atrás deles. Há rumores que o sumiço dessas relíquias está relacionado a cidade de Vigrid, a qual é o destino da protagonista.

O enredo é organizado em capítulos, com uma divisão de segmentos de jogo chamados de versos. Como um título de hack n’ slash, as seções de combate possuem um ranking de acordo com a habilidade do jogador em executar combos. Bayonetta tem ataques de curta distância e também conta com tiros de suas pistolas.

Em determinados pontos, o jogador pode ir para o bar Gates Of Hell onde personagem Rodin é o responsável pelo comércio do jogo. Com ele é possível comprar novas armas, acessórios, itens, técnicas e tesouros. A moeda que Bayonetta compra as coisas são auréolas obtidas diante da performance em combate.

Como falei em auréolas, os inimigos enfrentados pelo jogador são anjos, devido a sua associação com os sábios Lumem e a luz em si. A aparência desses anjos tem constantemente a presença de dourado, com suas peles sendo de mármore. Eles possuem esse visual extravagante pegando das suas descrições, inclusive na Bíblia, como, por exemplo, dos querubins serem misturas de animais e os ofanins que são daquela aparência de rodas. Cada inimigos em Bayonetta tem uma apresentação especial, mostrado em uma página de um livro sagrado, com seus nomes.

Um grande destaque do combate de jogo é o “Witch Time”, que quando Bayonetta desvia no momento certo de um ataque, por alguns segundos o tempo passa mais devagar, permitindo uma vantagem ao jogador. A Bayonetta pode finalizar inimigos de um modo peculiar, em que ela materializa uns instrumentos de tortura como guilhotina e dama de ferro, por exemplo.

Mas no quesito devastação, nada supera os ataques especiais em que Bayonetta transforma seus cabelos de modo a invocar monstros demoníacos. Isso ocorre nas batalhas contra chefes, que já são ótimas por si só. A Bayonetta usa esse ataque especial para finalizar essas lutas de um jeito inesquecível, por cada invocação dessa ser uma surpresa diferente.

Durante o enredo, há sessões de jogo no Paradiso, que é o reino dos anjos, como também no plano terreno. Os combates, no caso, acontecem no chamado Purgatório, é como se a Bayonetta lutasse no nosso meio, mas a gente não conseguisse ver. Apesar da personagem não interferir no mundo cotidiano, ela pode destruir objetos do cenário, que resulta na obtenção de itens, inclusive.

Bayonetta então nos apresenta essa temática anjos e demônios, com muita extravagância, tanto na fantasia de poder quanto no senso de humor e no apelo sexual da protagonista. Ela é, sem dúvidas, o grande destaque em meio a tudo que falei até agora.

A Bayonetta foi idealizada por Hideki Kamiya e seu design feito por Mari Shimazaki, atendendo ao pedido de ser uma bruxa feminina que empunha quatro armas e usa óculos, para se diferenciar de outras personagens femininas, dando a ela um ar de mistério e inteligência.

Todo esse trabalho em definir o visual da Bayonetta durou um ano, diante de pontos que Kamiya e Shimazaki ficavam discordando e tentando convergir na aparência final. Um deles, em especial, foi o penteado da personagem, Shimazaki insistiu nesse formato por lembrar um chapéu de bruxa tradicional, algo que se alinhou com a ideia dos desenvolvedores em usar seus cabelos como a manifestação de seu poder.

A Bayonetta é uma personagem feminina interessante, porque as discussões ficam no limiar entre ser sexy e ser sensualizada, se o fato dela ser poderosa, de desempenhar sua agência a partir da sua sensualidade é maior que um mero fetiche para um público masculino. A questão de ela ficar nua para usar seus poderes e os ângulos de câmera utilizados serem meros fanservices, são os pontos debatidos quando Bayonetta foi lançado. Essa dualidade entre poder feminino e objeto sexual era algo que também foi discutido na época quando a Lara Croft surgiu na década anterior do jogo da Platinum.

O lance que é um fator positivo para Bayonetta como personagem feminina, citado por textos de mulheres, é que sua sensualidade está incorporada na sua personalidade, ela usa da sua sedução para deixar as figuras masculinas que interage, de certo modo, até constrangidos. Diferente de algumas personagens que tem agência em suas narrativas, mas o seu visual não tem relação com isso. Nisso, acabo lembrnado em jogos de luta, em especial, pois, além das roupas destoarem do perfil dessas mulheres, não fazem sentido prático para o jeito que combatem.

A Bayonetta usa sensualidade para lutar, as suas roupas remetem a uma dominatrix, que possui uma relação com aquelas finalizações que citei, de materializar instrumentos de tortura, judiando de seus inimigos.

A sensualidade da Bayonetta é intimidadora para o controle masculino, mal comparando, funciona quase da mesma forma que artistas pop que a gente costuma ver, vistas por uma parte das pessoas como vulgares. Aí não tem como não lembrar que a Lady Gaga ama essa personagem, inclusive fazendo até referências a ela, como no clipe da música Rain On Me.

Bayonetta é de um gênero de jogos em que protagonistas tem poder de deuses e a personagem se encaixa desse seu jeito particular nesse papel. O título, a partir dela, é cheio de extravagâncias nos seus aspectos artísticos, uma mistura louca do sagrado e do profano, regado a doses de comédia.

Uma coisa que amo demais, principalmente nesse primeiro jogo, é a trilha sonora, ela demonstra toda essa combinação de elementos que resume o que é Bayonetta. Nada melhor para introduzir o clima subversivo do jogo, do que lutar contra anjos numa versão pop de Fly Me To The Moon, música essa usada nos encerramentos do anime Evangelion, que os inimigos também eram anjos. Você, como jogador, está macetando os inimigos com brutalidade, amassando os dedos nos botões fazendo combos, enquanto ouve a voz suave da cantora Helena Noguerra, isso é muito prazeroso.

O jogo apresenta essa parte pop, mas também tem umas músicas que dão esse ar do sagrado, com órgãos, corais e orquestras, desse poder dos anjos, desse enredo envolver uma guerra das trevas contra a luz. E nesse aspecto, a música One Of A Kind é um espetáculo, uma maneira incrível de começar Bayonetta. Digo que, sem nenhum exagero, é uma das minhas músicas favoritas dos videogames, é o sinônimo de coisa épica que estamos vivenciando.

Tal como esse jogo viaja por muitas coisas, esse podcast passeou pelos aspectos de Bayonetta resumidamente. O impacto que tive na época que joguei, talvez seja o que me faça preferir esse primeiro em relação 2, que saiu para o Wii U e foi quando série passou a ser um exclusivo da Nintendo.

Não é pelo combate somente que esse tipo de jogo me ganha, o primeiro Bayonetta é uma experiência única, por conseguir mesclar tão bem os elementos que falei. Poderia tudo ser um caos completo, mas, o que é caótico aqui é o que torna cativante, o que sem duvida foi fator responsável por cativar e criar sua base de fãs. Bayonetta nos enfeitiçou, apresentando um dos caminhos que uma personagem feminina pode demonstrar força através dos verbos de um videogame.

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Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.