Dishonored 2 — Level Secreto #85 (Transcrição)

Autor: Erick Oliveira

Level Secreto
6 min readOct 27, 2023

Dishonored 2 foi lançado em novembro de 2016 para PC, Playstation 4 e Xbox One. O primeiro título foi quem alavancou o prestígio do estúdio Arkane. A desenvolvedora sempre teve planos para transformar Dishonored em uma série, e o sucesso desse jogo em 2012 fortaleceu esse caminho, Mas, somente com a DLC que o fio condutor para uma sequência começaria.

Houve um acontecimento decisivo na produção de Dishonored 2, a separação dos estúdios que haviam feito o primeiro: a Arkane de Lyon, na França, continuava no desenvolvimento, enquanto a parte que se localizava em Austin, nos Estados Unidos, partiria para a produção do Prey, jogo esse que já falei no Level Secreto. A principal implicação dessa separação foi que o estúdio de Lyon teve de refazer toda a parte de inteligência artificial do zero, algo bastante importante considerando esse tipo de jogo é o immersive sim.

Dishonored 2, como seu antecessor, é uma experiência em primeira pessoa de ação, que conta com elementos furtivos. Além de tiro e combate de perto, o jogador conta com a possibilidade de usar poderes sobrenaturais, que ajuda tanto a lidar com inimigos quanto a exploração dos cenários, algo que é bastante incentivado dada a densidade dos locais e, sobretudo, o fator verticalidade.

Mas, antes de se aprofundar um pouco mais aspectos de gameplay, preciso contar o que é Dishonored 2 enquanto enredo. No primeiro título, o jogador controla Corvo Attano, guarda costas da imperatriz, que foi assassinada, e ele foi acusado falsamente de ter sido o responsável. Corvo quer buscar vingança contra os principais responsáveis desse assassinato, além de resgatar a filha da imperatriz, a Emily Kaldwin.

Corvo foi ajudado por um grupo de resistência aos atuais governantes, e assim segue fazendo as missões do jogo. Nesse processo de escapar da prisão, ele tem contato com Outsider que é um rapaz misterioso que é quem lhe forneceu poderes sobrenaturais. Suas razões para ajuda-lo são igualmente misteriosas.

O primeiro Dishonored é ambientado na cidade Dunwall, uma paisagem industrial vitoriana com elementos de steampunk, de tecnologias bastante avançadas que foram construídas através do uso de óleo de baleia, utilizado como combustível. Uma praga espalhada por ratos assolou a cidade, na qual as principais vítimas, obviamente, são as pessoas mais pobres, que eram afetados não só pela doença quanto também pela opressão do governo corrupto. Fora isso, há toda uma questão sobrenatural que ronda os eventos de Dishonored. Bem, tudo se resolve de alguma forma e Corvo resgata a princesa Emily que, eventualmente, se torna imperatriz.

Quinze anos após os acontecimentos do primeiro jogo, temos o início de Dishonored 2. O governo de Emily está sendo questionado, pois, o misterioso “assassino da coroa” está matando todos os adversários políticos dela. Nisso, acontece um golpe, no qual uma personagem misteriosa chamada Delilah Copperspoon reivindica o trono. Nesse momento, o jogador escolhe se vai jogar com a Emily ou com o Corvo. De acordo com essa decisão, o personagem não selecionado é transformado em pedra pela magia dessa nova inimiga.

O personagem precisa escapar de Dunwall, sendo ajudado por uma aliada, Megan Foster, que possui um navio o qual utilizam para fugir de lá. A história de Dishonored 2 parte para seu cenário principal que é Karnaca, a capital de uma outra ilha na região. Ela tem uma estética mais dos países mediterrâneos como Grécia, Chipre e Espanha.

E o que tem de tão importante nesse lugar? Eles só vão lá para se refugiar? Não. Karnaca foi onde Delilah Copperspoon começou a ascender politicamente, sendo assim, nesse lugar tentariam investigar a vida desta mulher. Além disso, poderia haver pistas sobre o assassino da coroa, quanto a oportunidade derrubar figuras locais responsáveis pelo golpe e também a chance de criar novas alianças.

Tanto Emily quanto Corvo têm um encontro com o Outsider, no qual o jogo introduz as habilidades sobrenaturais, e o personagem continua sendo tão enigmático quanto antes.

Diferente do cenário de Dishonored 1, Karnaca possui energia eólica e tem uma forte e danosa exploração de minério de prata. Há um outro tipo de praga, não de ratos, mas de insetos parasitas, umas moscas gigantes que são encontradas em alguns locais no jogo.

Dishonored 2 tem o mesmo tipo de campanha de seu antecessor, no qual o protagonista deve avançar por uma série de missões em locais únicos. Emily tem seu próprio conjunto de habilidades únicas, enquanto Corvo mantém suas habilidades só que expandidas do jogo original. O jogador pode customizar seu personagem do modo em que desbloqueia e aprimora os poderes se sua preferência. Porém, é possível jogar sem habilidades sobrenaturais.

Independentemente de serem rejeitados ou não, o jogador recebe um item de coração que auxilia na descoberta de amuletos e runas de ossos, itens estes que fornecem vantagens passivas e pontos de habilidade, respectivamente. No caso de o personagem não utilizar poderes sobrenaturais, as runas são convertidas em moedas adicionais.

Dishonored 2, como o antecessor, tem múltiplos finais, as missões do jogo têm como objetivo ir até certos personagens que são alvos. A maneira que você lida com eles determina os desfechos. Soma-se a isso, a escolha de abordagem letal ou não-letal contra os inimigos.

O jogador ganha caos ao matar personagens, sendo uma maneira de desestabilizar o mundo do jogo. Dishonored 2 adiciona um sistema que, no início de uma missão, NPCs aleatórios recebem três estados: simpático, culpado e assassino. Aquele item de coração que falei anteriormente também serve para revelar o estado que um determinado NPC aparece.

Matar uma pessoa “simpática” dá ao jogador mais caos, enquanto, matar um personagem assassino dá ao jogador uma quantidade menor. O tanto de caos acumulado afeta o diálogo usado por Emily e Corvo e altera a quantidade de inimigos presentes em cada nível. Além disso, os insetos da praga fazem ninhos em cadáveres, daí já é possível entender que, se muitas pessoas forem mortas haverá um aumento de moscas te perturbando.

Nisso, Dishonored 2, fez questão de ampliar as possibilidades de abordagem não-letal, seja no golpear de inimigos, quanto em armas de atordoamento. Além do objetivo principal das missões, há tarefas secundárias que auxiliam nos recursos para desenvolver o personagem quanto em encontrar itens colecionáveis.

Como deu para notar, Dishonored 2 é um jogo cheio de sistemas e é muito amarradinho. Realmente, existe uma variedade de possibilidades para seguir no jogo. Tem dois motivos que me fazem considera-lo bem melhor que o primeiro. O mais notável é que os desenvolvedores procuraram deixar o jogador mais envolvido com o mundo e os acontecimentos através dos personagens. A começar pelo fato de não jogarmos mais com um protagonista mudo que mal parece reagir as coisas ao seu redor.

Em relação a experiência jogável, Dishonored 2 traz uns momentos muito únicos, que acredito que mesmo após anos do seu lançamento, são situações que você pensa “isso aqui transcende o que imaginava que podia ser feito num jogo”.

No anúncio do Dishonored 2, temos um CG com a Emily invadindo uma mansão, em que as paredes, o piso e o teto vão se reconfigurando e ela vai usando os poderes para lidar com isso, algo impressionante que parece apenas possível em trailer mesmo. Só que, quando a gente vai jogar, é exatamente isso, só que mais elaborado, cadenciado por conta do stealth. Nisso, o dinamismo das coisas que acontecem na sua frente é incrível.

O pior é que mais para frente no jogo, em um outro cenário de mansão, Dishonored 2 introduz uma mecânica que, meu deus do céu, fiquei bobo de tão surreal e de tão bem feita que é. Uma forma de explorar um cenário que fica restrito nessa missão e não se repete mais, é como se guardássemos aquela experiência num cantinho especial que vivemos. Esse lance de um jogo introduzir uma ideia incrível e momentânea com um gostinho de quero mais, aconteceu também em um outro título de 2016 que é o Titanfall 2. Esse ano para os videogames realmente foi muito bom.

Pessoalmente, jogos que introduzem uma nova percepção de realidade, maneiras em que ressignificamos ações e interagimos com espaços de forma única, é o que move os videogames. É o que me mantém nesse otimismo de ver o que novos lançamentos podem oferecer. Eu já estava gostando do Dishonored 2 e esse momento que citei, elevou e muito meu apreço pelo jogo, porque o que vivemos e não esquecemos, levamos como referência de qualidade de tempo.

A Arkane representa ousadia e criatividade na produção de jogos, tanto no Dishonored quanto no Prey, que já falei por aqui. Infelizmente, o gênero immersive sim é pouco apreciado. Tanto é que os estúdios da Arkane mudaram o direcionamento de seus jogos, algo que prejudicou a qualidade deles. Diante disso, o que poderia se esperar de um improvável Dishonored 3, um mundo tão interessante, que foi potencializado pelo segundo, e que acabou ficando em um horizonte de expectativas irreais.

--

--

Level Secreto

Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.