Final Fantasy IX — Level Secreto #84 (Transcrição)

Autor: Erick Oliveira

Level Secreto
6 min readOct 20, 2023

Final Fantasy IX foi lançado para o Playstation 1 em julho de 2000 no Japão, e a partir de novembro do mesmo ano em outras regiões. Depois de dois jogos que trouxeram um impacto tecnológico e visual, não só na franquia quanto nos videogames, o nono título principal da série Final Fantasy é um retorno as raízes, uma temática de fantasia medieval com personagens menos realistas. No geral, ele conta com referências dos jogos anteriores em diversos aspectos.

A história começa no reino de Alexandria, onde uma trupe de bandidos chamada de Tantalus vai promover uma peça de teatro para a realeza local. Porém, o real objetivo desse grupo é sequestrar a princesa do reino que é a personagem Garnet. Um dos membros da Tantalus é Zidane, o protagonista do jogo e é quem tem o contato com a princesa.

Na verdade, o começo de Final Fantasy IX é uma bagunça, mas, no bom sentido. Garnet já queria fugir do reino, e ser sequestrada era uma oportunidade perfeita. Enquanto isso, temos Vivi, que é um mago que estava na cidade e queria assistir o espetáculo de teatro. No meio da confusão, ele acaba parando no dirigível da Tantalus, ajudando o Zidane a enfrentar os soldados do reino. Um deles é o personagem Steiner, que está lá para impedir a Garnet de ser sequestrada.

O dirigível ao fugir é atingido pelas defesas de Alexandria, sofrendo um acidente e caindo em uma floresta perigosa nas imediações. O jogador acaba formando o seu grupo nessa série casualidades, com personagens se aliando a força nessa meta de escapar dessa floresta.

Nesse começo é revelado que Garnet fugiu com objetivo de alertar o regente do país vizinho sobre o comportamento estranho de sua mãe, a rainha de Alexandria. Mesmo com suas diferenças, Zidane e Steiner estão juntos, e Vivi, durante a jornada, começa aos poucos a se deparar com pistas de sua origem.

Bem de início, Final Fantasy IX apresenta esses personagens relembrando as classes clássicas da série. A Garnet aparece com um capuz de White Mage, que é a personagem que utiliza magias de cura, o Vivi é a aparência do Black Mage, que utiliza magias elementais de ataque, o Zidane se encaixa na classe de ladrão e o Steiner de cavaleiro. Isso se estende para o restante dos personagens principais.

O jogador pode voltar a montar um time de quatro membros na party, algo que no Final Fantasy VII e VIII se limitava a três. Alguns personagens fora dos principais, vez ou outra, fazem parte do grupo em situações específicas, como alguns membros da Tantalus, por exemplo.

Como de costume, as batalhas são por turnos, conta com o sistema de ATB, “active time battle”, que ao encher a barrinha, o jogador seleciona a ação de um personagem. Ao vencer as batalhas que surgem pelos em alguns cenários, e no mundo, aleatoriamente, o grupo ganha experiência para evoluírem de nível.

Além disso, os personagens evoluem com pontos de habilidade, que é algo que precisa ser explicado com maior detalhe. Quando um personagem vai colocar uma arma ou equipamento, cada tipo possui habilidades que podem ser utilizadas em batalha. Para o jogador utilizá-las sem necessitar dos equipamentos, é necessário que os pontos de habilidades requeridos sejam preenchidos. Com isso, Final Fantasy IX incentiva o jogador a experimentar diferentes recursos independente dos números que aparecem, fora que cada arma ou equipamento possui uma vantagem bônus.

As habilidades podem ser comandos que um personagem executa em batalha ou pode ser uma vantagem passiva, como defesa contra determinado status negativo ou, até mesmo, ganhar mais pontos de habilidade ao fim das lutas. Ao longo do jogo, os personagens podem ser customizados de acordo com a estratégia que o jogador deseja montar, já que o encaixe dessas habilidades possui um limite. De longe, esse é o elemento mais estratégico de Final Fantasy IX.

Assim como outros jogos da série, aqui temos um equivalente ao Limit Break, que é chamado de “Trance”. Os personagens ao levarem uma quantidade de dano, enchem uma barra que o levam a esse estado, mudando as suas aparências e fazendo com que tenham um poder maior ou adquirindo comandos extras.

Fora das batalhas, o jogador anda pelos ambientes, interage com NPCs e objetos, descobrindo também coisas escondidas. Final Fantasy IX conta com diversos minigames, mas um deles está presente em todo lugar que é o “Tetra Master”, o jogo de cartas. Ele é mais complexo que o Triple Triad do VIII, mas nisso ele deixa umas falhas em seu sistema de regras.

Uma coisa que Final Fantasy IX faz muito bem, e que não vi nem antes e nem depois na franquia, são momentos do seu grupo entrar em uma cidade e se separar. Aí controlando só o Zidane, o jogador pode acompanhar situações inusitadas que o resto do grupo está passando nessa cidade. De maneira geral isso ajuda a mostrar ainda mais esses personagens, as diferenças que possuem entre eles, fora o fato de que o jogo é muito engraçado. É um humor meio bobinho, mas é muito honesto. Ele funciona bastante, sobretudo, nesses tipos de cenas quando se separam.

Por falar nisso, além do VI, não há um Final Fantasy que melhor force o jogador a evoluir os personagens de modo igual. Diante do que acontece no enredo, o grupo se separa, e nisso é possível experimentar as características desses personagens, para até o mesmo o jogador identificar as melhores combinações possíveis de acordo com suas classes.

Final Fantasy IX é um jogo que busca homenagear a série, como já dito, e, sobretudo, as raízes da época de antes do VII. Apesar de ser bastante elogiado, o jogo vendeu menos que seus antecessores, que trouxeram um impacto maior, principalmente de visual e escala de jogo.

Na época, eu dei uma ignorada em Final Fantasy IX, por ele não me atrair muito, de achar os personagens estranhos, de tudo ser muito caricato e infantil. Talvez não só eu tenha tido essa impressão, como também já li e ouvi relatos do tipo. De fato, ele foi ofuscado pelo que se esperava para época no que diz respeito a jogos grandiosos, e com o passar do tempo, como outros exemplos por aí, Final Fantasy IX só foi se tornando uma obra cada vez mais aclamada.

A história começa naquela confusão, nos desencontros e encontros dos protagonistas, o humor do jogo é muito presente, e como falei, ele é bobo. Mas ao mesmo tempo que Final Fantasy IX utiliza gracejos aqui e ali para nos divertimos com as situações, ele vai apresentando seu drama e, eventualmente, a grande questão que nos põe para refletir sobre o sentido da vida.

Os personagens, que acompanhamos com mais proximidade, estão em busca de um propósito, e cada um se descobre aos poucos em cada situação, ou, através do contato com outro, e, nisso, deixam de serem simples arquétipos, não possuem apenas um único tom, pelo menos boa parte deles.

Garnet é princesa que foge de seu reino, ela demonstra buscar aventuras e não viver apenas em seu castelo. Steiner quer servir seu reino, mas, começa a questionar o que é ser um cavaleiro, qual o limite do aceitável pelo seu serviço. Quina é um personagem que serve como alívio cômico, resume o mundo de uma forma simples separando as coisas que podem ser comidas ou não, mas está no objetivo de conhecer cada vez mais receitas e cozinhar melhor.

E temos Vivi, que talvez seja o personagem que é o coração dessa obra. Ele é um ser todo tímido, desajeitado, que dá uns tropeços do nada e fica ajeitando seu chapéu. Vivi é aquele que tá a todo momento buscando entender seu propósito, diante do quão limitado o seu tempo de vida é, do quão artificial ele aparenta ser. Nisso, o jogador está presenciando suas descobertas e vê-lo lidar com todas as suas incertezas, fazendo assim, sua vida estar em constante movimento.

Falar que a grande questão de um jogo é refletir sobre o sentido da vida parece algo tão comum né? Um questionamento tão banal que parece até ser bobo, como o Final Fantasy IX nos aparenta em seu visual e momentos cômicos.

O que faz com que um conteúdo nos impacte é a maneira que ele se movimenta. Assim como a vida, temos as partes banais do cotidiano, as batalhas aleatórias de cada dia, dos lugares que conhecemos, de quem deparamos e já esquecemos, das situações inusitadas e de tensão. No plano geral das coisas, o que importa é só os momentos grandiosos, as decisões que tomamos que mudam os rumos de nossas vidas? No fim, ficar se prendendo a propósitos é o nos faz valorizar o que vivemos?

Considero que Final Fantasy IX seja o melhor de recomendar para quem nunca jogou um título da franquia, justamente por ter essa combinação de referências, além de ter um dos sistemas mais facéis de assimilar em um JRPG. Final Fantasy IX é um dos poucos jogos que me fez chorar, a mensagem deixada aqui é algo capaz de fazer qualquer um de nós se identificar, não importa em que tempo que ele seja jogado.

--

--

Level Secreto

Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.