Horizon: Zero Dawn — Level Secreto #82 (Transcrição)

Autor: Erick Oliveira

Level Secreto
6 min readOct 6, 2023

Horizon Zero Dawn foi lançado em fevereiro de 2017 para Playstation 4. Foi uma mudança da direção do estúdio Guerrilla Games, que até então só produzia os jogos da franquia Killzone. Eles migraram de títulos de tiro em primeira pessoa para uma aventura em terceira pessoa, de mundo aberto e diversas características de gameplay.

A trama se passa no século XXXI, num mundo pós-apocalíptico em que a humanidade retornou a vida em sociedades tribais, sobrevivendo nas ruínas do que era a civilização que nós conhecemos atualmente. Grandes máquinas, que se assemelham visualmente a animais, passaram a dominar a terra. Horizon é uma história de ficção científica com elementos místicos, de como que as sociedades existentes lidam com o presente e interpretam o passado, e a partir disso construindo suas crenças. Ao mesmo tempo que pessoas possuem um estilo de vida mais primitivo, de coletores e caçadores, eles utilizam de recursos tecnológicos deixados pelas civilizações do passado.

Essa mistura de misticismo e tecnologia futurista é o que dá esse charme diferencial na direção artística de Horizon Zero Dawn.

A protagonista do jogo é Aloy, que havia sido expulsa de sua tribo logo que nasceu. Horizon começa com o jogador a controlando ainda criança, que é quando ela obtém um dispositivo chamado Focus, que lhe dá habilidades perceptivas especiais, servindo de justificativa de alguns elementos da gameplay.

Aloy fica curiosa sobre seu passado, e a forma que ela tem de descobrir alguma informação é retornando a tribo Nora, que ela havia sido expulsa. Para isso ela precisa participar de uma competição para ganhar o direito de ser aceita, aí o jogo mostra o passar dos anos em que Aloy é treinada pelo seu mentor Rost, aprendendo todas as habilidades de combate e sobrevivência.

A personagem na sua maioridade participa da competição e quando a vence, a tribo Nora é invadida por uns cultistas mascarados, levando ao sacrifício do mentor de Aloy, tentando salvá-la.

Quando a protagonista acorda, as matriarcas de Nora contam que ela foi encontrada diante de uma porta lacrada dentro da montanha sagrada da tribo, e que diante dessa origem suspeita é que foi banida. A matriarcas a chama de “buscadora”, e depois dessa breve revelação, Aloy parte em busca desses cultistas, passando a explorar outras regiões, também com o objetivo de conhecer ainda mais o seu passado.

Uma coisa que o jogo apresenta é que as máquinas têm estados diferentes de acordo com a luz de seus olhos: azul é quando estão pacíficos, amarelo em estado de atenção, investigando algo, e vermelho é quando estão hostis. Apesar de serem máquinas, eles fazem parte do ecossistema do planeta, mas, existe uma corrupção anormal que vem alterando seus comportamentos, tornando-se mais agressivos, especialmente com os humanos.

Em Horizon Zero Dawn, o jogador explora esse mundo aberto que contêm três tipos de biomas diferentes, em que tribos com características próprias são introduzidas ao longo da trama, tal como suas relações com o enredo principal, que leva a uma briga de facções. Só que esse é o fator que acho mais fraco na história do jogo, o que realmente é brilhante é a Aloy na busca de sua origem, como desvendar o que levou o mundo a chegar no seu estado atual e que são de fato essas máquinas, por que elas existem? Se existe um propósito em suas criações?

Como um jogo desse escopo, Horizon Zero Dawn tem as missões principais e as secundárias, como atividades padronizadas encontradas no mapa. Nisso, temos a variedade de sistemas presentes: a evolução de nível da Aloy, o desbloqueio de árvores de habilidades, diferentes tipos de armas e roupas que podem ser personalizáveis, assim como crafting de itens a partir de recursos coletáveis.

Aquele dispositivo que a Aloy pega ainda criança, o Focus, faz com que o jogador marque pontos de interesse, além de destacar os inimigos nos ambientes e ver as rotas de movimento, favorecendo a abordagem furtiva. O visor permite diagnosticar cada inimigo, seu nível, e, no caso das máquinas, ver a divisão de sua estrutura, as partes que são mais resistentes e frágeis, assim como identificar que tipo de elemento dá mais ou menos dano.

É aqui tá uma característica que deixa a experiência de Horizon bastante prazerosa que é lidar com as máquinas, seja caçar de forma sorrateira, como um combate padrão. Inimigos que quebram em pedaços é um prazer pessoal que tenho em jogos, que sempre me ganha, ainda mais que cada pedaço dá um recurso diferente.

Ver que cada parte de uma máquina tem um modo reagir com um ataque, e como que o comportamento dessas criaturas é dinâmico, incentiva a pensar em mais uma solução de combate, como influencia na necessidade de buscar um arsenal variado, Aloy precisa estar pronta para qualquer situação.

A qualidade gráfica influencia no prazer das ações do jogo, na movimentação variada da Aloy, como no impacto no acerto de uma flechada, por exemplo, em como é demonstrado um feedback de atingir um ponto crítico, e ver as partes se despedaçando.

O jogador também pode modificar o comportamento das máquinas, meio que corrompe-la para ajudar a Aloy, nisso é possível conseguir montarias para se deslocar mais rápido pelo mundo.

Esse mesmo mecanismo é usado em umas máquinas gigantes que parecem girafas, com toda uma parte de escalada, onde no topo, usando dessa criatura, uma parte do mapa passa a ser revelada. Não deixa de exercer uma função de torre vista em outros títulos de mundo aberta, mas tem uma dinâmica levemente diferente do padrão.

Outro elemento que passou a ser uma tendência e foi utilizado aqui é ter escolha de respostas em diálogos, no qual cada opção tem um ícone demonstrando o teor da fala, de algo mais pacífico para hostil por parte da Aloy. Mas nada impactante para as resoluções da trama. Acho mais interessante, por exemplo, que NPCs secundários tem diálogos diferentes de acordo com a roupa que Aloy esteja vestindo.

No geral, como havia dito, a parte dos mistérios desse mundo e da Aloy são os fatores que realmente instigam nessa trama. Da parte de gameplay, o combate com as máquinas é o que sustenta o engajamento, sobretudo para aqueles que forem jogar hoje em dia, diante de tantas convenções batidas de mundo aberto utilizadas aqui.

Horizon Zero Dawn é um jogo muito bom, que tanto ele quanto o Forbidden West sofreram desse mesmo mal de serem ofuscados por títulos que roubaram a pauta, no caso o Zelda Breath Of The Wild em 2017 e o Elden Ring em 2022.

Porém, isso não impediu que o Zero Dawn fosse um grande sucesso e um dos títulos exclusivos mais vendidos do Playstation 4, consolidando uma nova franquia e melhorando o status da Guerrilla Games, algo que alavancou pessoas desse estúdio para as cabeças da direção de videogames da Sony.

Uma coisa muito importante de Horizon é introduzir essa personagem tal legal que é a Aloy, uma insistência por parte da própria Guerrilla na produção do jogo, e que tinha uma resistência da Sony, pelo medo de uma personagem feminina impedir que um título fosse tão comercializável como queriam.

A Aloy é a cara do Horizon, uma forma de sermos introduzidos a esse mundo tão particular com o carisma de uma personagem como ela.

Havia falado num episódio passado, como a Bayonetta possibilitou um olhar de perceber uma mulher em um jogo sendo a agente em suas ações, numa experiência de fantasia de poder que é tão associado ao masculino.

Aqui no Horizon Zero Dawn, temos uma personagem que faz tudo praticamente, a Aloy nos dá essa fantasia de poder nesse tipo de jogo, que é o mundo aberto, com tantos sistemas, dinâmicas de combate, de ir e vir por diversos ambientes, não existe barreiras para ela. Foi a primeira vez que controlei uma personagem femininas que tem tanta agência, que tem tantas possibilidades de interagir com o mundo e de ser poderosa.

Horizon Zero Dawn não foi uma inovação, nem nada do tipo, falar sobre ele, sem spoilers, não entrando a fundo na sua temática, acaba ficando no campo descritivo, de falar o que o jogo é, como funciona, apresentar seu enredo. Mesmo que ele tenha uma formula padrão para um AAA, o seu mundo é instigante e criativo, por isso mesmo que é uma experiência bastante recomendável de experimentar.

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Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.