Return Of The Obra Dinn — Level Secreto #61

Roteiro: Erick Oliveira

Level Secreto
4 min readJul 7, 2022

Return Of The Obra Dinn foi lançado para PC em outubro de 2018, e um ano depois para PS4, Xbox One e Switch. O jogo foi produzido pelo game designer Lucas Pope, que ficou reconhecido por lançar em 2013 o Papers Please. Enquanto esse ainda recebia versões para outros dispositivos, Pope já ia divulgando o que pretendia trabalhar no seu próximo título.

A intenção inicial era um jogo com gráficos em 1-bit, uma emulação do visual da tela do Macintosh. Ele fez uma engine para trabalhar esse gráfico em um jogo 3D, de uma forma que não ficasse confuso de enxergar. Diante de correções, que evitariam que os jogadores se sentissem tontos ou com náuseas, Pope passaria a desenvolver a parte de gameplay e narrativa.

Obra Dinn é um navio mercante desaparecido há 5 anos que surgiu de repente na costa da Inglaterra, sem ninguém vivo a bordo. O jogo se passa em 1807, o jogador controla um inspetor de seguros da Companhia das Índias Orientais. Seu papel é investigar esse navio fantasma e determinar o destino de todas as 60 pessoas que estavam a bordo, fornecendo a causa de suas mortes ou, no caso de sobreviventes, onde supostamente estão vivendo.

Para saber o que aconteceu no navio, o jogo introduz o “Memento Morten”, um relógio de bolso que permite que o investigador revisite o exato instante de uma cena de morte. Para isso, o jogador precisa encontrar um cadáver e assim acionar o relógio.

Essas cenas são estáticas, o jogador pode passear em segmentos específicos de onde se concentra esse evento que está presenciando. No início, há uma tela preta, onde é possível ouvir os instantes antes de acontecer a tragédia. O jogador reúne o que ouviu de diálogos anteriores e da parte visual da cena para registrar num diário o que entendeu do destino de determinado tripulante.

A questão é que em Return Of The Obra Dinn, a ordem cronológica dos eventos que o jogador vai presenciando não é linear, isso depende dos cadáveres que você vai encontrando no navio, no tempo presente.

Quando Lucas Pope empunha o jogo em eventos, notou em uma determinada vez que os jogadores ficaram confusos com a ordem das cenas, que inclusive prejudicava a continuidade da tarefa principal de investigação. Daí surgiu a ideia da divisão do jogo em capítulos, cada um contendo as cenas, no diário de bordo que era possível estabelecer a ordem cronológica dos acontecimentos.

No diário de bordo o jogador encontra uma planilha com todas pessoas do navio, com nome, função e nacionalidade. Há duas onde é possível ver as aparências de cada um. No início, todos os rostos estão meio borrados, e quando estão definidos é uma forma do jogo comunicar que você já tem as informações suficientes para descobrir quem é determinada pessoa.

A princípio, cada ato do jogador no diário de bordo é um palpite, e caso haja três causas de morte apontadas corretamente, o jogo consolida essas informações, até então, é possível alterar. Isso é um fator que permite uma flexibilidade nos chutes, nos momentos que você não tem certeza sobre a real causa de uma morte, ou confunde uma pessoa com outra.

Return Of The Obra Dinn é um conjunto de nós que o jogador vai desatando. Você já inicia presenciando o final daquela jornada, uma sequência de eventos que rapidamente instiga o jogador a procurar entender o que de fato aconteceu naquele navio. Vez ou outra o jogador é surpreendido com uma certa brincadeira nessa regra básica, de como o jogo encontra um meio de fornecer o próximo evento a vivenciar.

É importante estar atento a diversos detalhes, seja do que você ouve, seja de elementos no cenário, características das pessoas, inclusive de traçar estereótipos de profissão ou nacionalidade.

Apesar de algumas dinâmicas de jogo que poderiam ser mais facilitadas, Return Of The Obra entrega talvez a melhor experiência de investigação em videogames, o jogador se sente realmente parte daquilo tudo. A maneira que os sistemas funcionam dá essa sensação de autonomia das tomadas de decisão do jogador, daquilo que ele está definindo no seu diário de bordo.

No mais, ele é um jogo muito interessante visualmente, é possível trocar paletas de cores, simulando outras telas. A trilha sonora entrega um clima de aventura e ao mesmo tempo de tensão e mistério, fora a dublagem dos personagens que contribui para o propósito central da experiência.

Return Of The Obra é uma experiência criativa, que se valeu de tempo para ajustes e uma central que norteou todo percurso de desenvolvimento. O grande mérito que ele tem é entregar, como já disse, talvez a melhor experiência de investigação em um videogame, junto com Her Story, satisfazendo tanto quem joga bastante quanto quem é mais casual, um excelente título para todos investigar.

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Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.